Descoberto diário de outra garota judia
20 de outubro de 2004O velho caderno de química, contendo 21 páginas com anotações de Helga Deen, estava dentro de uma bolsa feminina, ao lado de cartas, uma caneta-tinteiro e um cacho de cabelo. O material, que só agora se tornou conhecido, foi entregue ao arquivo regional da cidadezinha de Tilburg, na Holanda, por familiares de um homem ao qual a garota, então com 18 anos, se referia em suas cartas como "meu querido".
Gerrit Kobes, funcionário do arquivo, fala de uma "descoberta sensacional": nas páginas do caderno, a estudante anotou suas vivências e pensamentos durante as últimas quatro semanas em que esteve presa no campo de concentração de Vught. No dia 2 de julho de 1943, Helga Deen foi deportada juntamente com sua família para o campo de Sobibor, na Polônia, onde foi morta a 16 de julho.
O achado faz lembrar o famoso diário de Anne Frank, redigido durante os dois anos em que, com sua família, ocultou-se dos nazistas em Amsterdã. O registro da adolescente é interrompido pela revelação do esconderijo e a deportação dos Frank. Anne sucumbiu ao tifo em março de 1945, no campo de concentração Bergen-Belsen.
"A liberdade atrás do arame farpado"
Em suas anotações, Helga Deen descreve o cotidiano no campo de concentração, as deportações de crianças, e expressa principalmente sua sensação de impotência e desespero. "Se minha força de vontade morrer, eu também morrerei. [...] Todos os dias vemos a liberdade atrás do arame farpado."
Após chegar em Vught, no dia 1º de abril de 1943, ela alimentou durante certo tempo a esperança de escapar da deportação por meio de uma convocação para trabalhar na fábrica de lâmpadas da Philips. Até o 1º de julho, quando escreveu suas últimas linhas: "Empacotar as coisas, hoje de manhã vi uma criança morrer, o que me deixou totalmente confusa. Mas tudo isso não é nada em comparação com o que ainda vem. Vai haver de novo um transporte, e desta vez vamos ser levados juntos".
Um dia mais tarde, ela escreveu ainda uma última carta a seu amigo: "O que passamos nos últimos meses é indescritível e, para alguém que não passou por isso, inimaginável".
No próximo sábado (23/10), o arquivo de Tilburg vai apresentar o diário de Helga Deen ao público.