Infanticídio na Alemanha
6 de dezembro de 2007As notícias sobre oito crianças supostamente mortas pelas mães abalaram a Alemanha nesta quinta-feira (06/12). Em um caso, a mãe de 31 anos é acusada do assassinato de cinco crianças entre 3 e 9 anos de idade, em Darry, no norte da Alemanha. No segundo caso, uma mulher de 28 anos de idade é suspeita de ter matado três bebês pouco depois de nascerem, em Plauen, no Leste alemão.
Para o presidente da ONG Kinderhilfe (Ajuda à Infância), Georg Ehrmann, estas mortes "não são fatos isolados". Segundo ele, a Alemanha passa por uma crise estrutural. "Os filhos são considerados um incômodo e desprezados", declara, destacando que estes casos são detectados predominantemente na classe social mais baixa. Segundo Ehrmann, as entidades encarregadas de prestar assistência aos menores se fazem de desentendidas.
Esta opinião é compartilhada por Paula Honkanen-Schoberth, diretora da Liga Alemã de Proteção à Criança, terapeuta familiar e autora do livro Filhos fortes requerem pais fortes. Um curso para pais. Em entrevista à DW-WORLD.DE, ela disse que mesmo não dispondo ainda de dados estatísticos de 2007, "temos a impressão de que aumenta a quantidade destes casos. Nos últimos anos, foram registrados cerca de três mortes de crianças por semana".
O fato de filhos serem assassinados por seus pais ou menores morrerem de fome, apesar de existirem entidades estatais de amparo ao menor, se deve, segundo a especialista, à mudança da "estrutura tradicional alemã, em que a mãe cuidava dos filhos em casa durante os primeiros anos de vida".
Mudanças na legislação
Mesmo que tenham sido impulsionadas, nos últimos anos, reformas importantes para fortalecer as estruturas familiares, "não se considera a situação das famílias mais pobres", adverte Honkanen-Schoberth, ressaltando que "2,6 milhões de crianças vivem na pobreza, o que corresponde a um terço da população infantil alemã".
"As reformas têm enfocado a compatibilidade de trabalho e família, o que sem dúvida é importante, mas não a necessidade de incluir os filhos nos sistemas de assistência desde a tenra infância", constata. O direito da criança a uma educação sem uso de violência é garantido pela legislação alemã desde o ano 2000. Isto contribuiu para melhorar a consciência entre os pais de que a violência não é o método pedagógico adequado.
"Efetivamente, os pais agora dão menos surras e palmadas em seus filhos do que era comum em décadas anteriores", explica a especialista. "Mesmo assim, insistimos para que os direitos das crianças sejam incluídos na Lei Fundamental alemã", para que a médio e longo prazo recebam maior atenção dos políticos, acrescenta.
Apesar das reformas em andamento, a situação social das famílias alemãs tem piorado muito nos últimos anos, afirma a diretora da Liga Alemã de Proteção à Criança, que possui mais de 400 representações em toda a Alemanha.
"É importante que chegue em tempo hábil aos pais a mensagem de que não é vergonhoso buscar ajuda", aconselha Honenken-Schoberth, que está convencida de que são "o desespero e a pobreza que levam a esses casos".