Uns amigos da Europa recentemente me perguntaram se realmente existe o risco de um golpe caso Jair Messias Bolsonaro perca as eleições. Respondi que não acredito nessa possibilidade. Parece-me que Bolsonaro só ameaça, mas não faz. Grita "imbrochável", mas falha. Como nos anos 80, quando teria planejado colocar bombas em quartéis, mas não o fez. Depois queria que todo mundo tivesse arma para se defender de bandido, mas quando roubaram a moto dele, deixou os ladrões roubarem sua arma também.
Também ameaçou fuzilar 30 mil pessoas, mas, pelo menos por enquanto, não o fez. Tentou criar um partido político, mas não rolou. Continua pulando entre legendas hospedeiras. Assim, ele me lembra aquele bloco carnavalesco "Concentra mas não sai". Que nome fantástico!
Devemos agradecer, penso, pela incompetência da extrema direita – não só aqui no Brasil, aliás. Parece-me que não tem nada de "Deus capacita os escolhidos". Ou, na verdade, nem foram escolhidos, ou simplesmente não rolou a capacitação. Pelo menos por enquanto.
O importante é constatar que todos esses cenários sombrios não se concretizaram. Aparentemente, a meta é apenas fazer barulho, criar confusão e provocar os outros, de preferência a esquerda. Destruir uma placa em homenagem a Marielle Franco, insultar Dilma Rousseff com uma saudação ao torturador Brilhante Ustra, colocar Sérgio Camargo na Fundação Palmares ou acabar com o Ministério da Cultura: tudo feito pelo bolsonarismo para irritar e deixar furiosos inimigos políticos.
Assim, criam-se cenas absurdas, como na véspera e no dia do funeral da rainha Elizabeth 2ª em Londres. Da sacada da embaixada brasileira, Bolsonaro discursou contra o aborto e a liberação das drogas. Justamente num país onde o aborto e a maconha para uso medicinal são liberados. E olha que povo disciplinado eles têm mesmo com essas liberdades! Ao contrário dos apoiadores de Bolsonaro, que transformaram o dia do funeral da rainha numa grande confusão em plena Londres.
Mas, claro que, além de irritar inimigos, os vídeos produzidos ali serviriam para o público que ficou no Brasil, por não ter o privilégio de viajar para Londres – ou morar lá – e ir até a embaixada para ver Bolsonaro e fazer barulho. O presidente ainda gravou um vídeo para mostrar que a gasolina no Brasil custa a metade do que na capital britânica. Claro que ele esqueceu de mencionar que os britânicos ganham seis vezes mais que os brasileiros. Para que contextualizar se dá para ser simplista? Mas tudo bem, sabemos como funciona a política.
Enquanto isso, chegam as mais novas pesquisas eleitorais, indicando cada vez mais uma possível vitória de Lula já no primeiro turno. Será que foram as campanhas pelo voto útil que conseguiram convencer uns eleitores a trocar a terceira via pelo PT já no primeiro turno?
Parece que a maioria dos brasileiros se cansou das confusões constantes do clã Bolsonaro. Ele e sua família conseguiram chegar muito longe, o que indica a falta de uma real alternativa política na direita.
Sempre vi o surgimento do bolsonarismo como um indicativo de um problema grave na direita tradicional, que não foi capaz de criar uma proposta política decente para os problemas brasileiros. Pois problema é o que não falta, nem erros e omissões graves da esquerda para serem explorados. Não existe uma proposta forte da esquerda para a segurança pública, por exemplo. Nem uma sensibilidade para as questões de família, que importam tanto para o segmento evangélico. São campos enormes abandonados e entregues para uma extrema direita grotesca, tosca e baderneira, que, graças a Deus, se mostrou incompetente. Torço para que ela continue assim.
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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
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