Dez anos
30 de maio de 2008Os primeiros planos para uma União Monetária Européia datam de princípios dos anos 1960, mas só começaram a se concretizar uma década mais tarde por força das circunstâncias internacionais.
Diante das dificuldades financeiras resultantes da Guerra do Vietnã, o presidente norte-americano Richard Nixon decretou, no início da década de 70, o fim do lastro ouro do dólar e abandonou o princípio da paridade fixa entre as moedas.
Os europeus resistiram inicialmente à abolição do sistema estabelecido em Bretton Woods em 1945, que vinha funcionando bem desde então. Mas não tiveram como se impor diante do peso econômico dos Estados Unidos, como lembra o ex-chanceler federal Helmut Schmidt, que na época era o ministro das Finanças da Alemanha.
Foi nessa situação de emergência que seis – e mais tarde, nove – países-membros da então Comunidade Européia (CE) se uniram em 1972 numa aliança que estabelecia regras para a flutuação do valor de suas moedas entre si.
O objetivo, a ser atingido por meio da intervenção dos bancos centrais dos países participantes, era facilitar e fomentar o trânsito de bens, serviços e capital entre os países da CE. Os cálculos eram feitos numa unidade monetária artificial, o ECU (European Currency Unit).
Moeda comum, uma meta distante
"Tínhamos na época a meta – que não chegou a ser pronunciada – de mais tarde fazer do ECU uma moeda comum. Ainda não estava muito claro que deveria ser a única moeda. Poderia existir paralelamente às moedas nacionais. O primeiro a levar a idéia adiante foi Jacques Delors", relata Helmut Schmidt.
Então presidente da Comissão Européia, o francês Delors preparou os fundamentos da União Econômica e Monetária Européia, que levou, dez anos atrás, à fundação do Banco Central Europeu e, um ano mais tarde, à introdução do euro.
O primeiro presidente do BCE – que se estabeleceu em Frankfurt do Meno e começou a funcionar em 1º de junho de 1998 – foi o holandês Wim Duisenberg, que mais tarde ficou conhecido como Mister Euro. Não sem razão: sob sua direção, o BCE introduziu o euro sem atritos em 12 países e conferiu estabilidade à moeda.
"Em questão de dez anos, o BCE fez do euro a segunda mais importante moeda do mundo. Não há nada parecido na história", afirma Manfred Weber, presidente da Federação dos Bancos Alemães.
Bundesbank serviu de modelo
Os alemães têm grande participação nessa história de sucesso, já que insistiram desde o início que o BCE fosse constituído segundo o modelo do Bundesbank, o Banco Central da Alemanha.
Isso significa que o BCE tem como único compromisso a estabilidade da moeda, é completamente independente e não aceita ingerência externa – mesmo que às vezes Paris ou Roma reivindiquem ocasionalmente o afrouxamento da política monetária com o fim de esquentar a conjuntura.
Os franceses, aliás, resistiram à nomeação de Duisenberg para a presidência do BCE e só cederam quando este concordou em passar o bastão adiante após cinco anos no cargo – para Jean-Claude Trichet.
Na presidência da instituição desde 1º de novembro de 2003, o francês Trichet deu continuidade à política de estabilidade iniciada por seu antecessor.
Moeda oficial de 15 países
Hoje o euro é a moeda oficial de 15 países da União Européia; seis outras nações também o adotaram sem ter direito de voto no Conselho do BCE. E há uma lista de candidatos esperando impacientes pela admissão no clube monetário.
"Pode ser que se passe ainda meio século até que se possa falar que a União Européia está consolidada. O euro, porém, em menos de uma década terá se tornado uma moeda mundial", aposta o ex-chanceler federal Helmut Schmidt.