Alitalia: reflexo de uma crise
24 de setembro de 2008A companhia aérea italiana Alitalia tem até esta quinta-feira (25/09) para apresentar um plano de recuperação financeira ou, no mínimo, uma oferta para a compra da empresa. Do contrário, perderá a licença de vôo. O ultimato foi dado nesta segunda-feira pela Enac, o órgão responsável pela aviação civil da Itália.
Para o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, as chances de sobrevivência da Alitalia estão no consórcio Companhia Aérea Italiana (CAI), uma sociedade formada por 16 empresários italianos. Mas a CAI retirou na semana passada uma oferta bilionária por não conseguir a aprovação de parte dos sindicatos. Ainda assim, assessores de Berlusconi negociam com a CAI e o governo mantém as esperanças de que o consórcio salve a companhia aérea.
Berlusconi também não descarta participações acionárias minoritárias das gigantes Lufthansa, Air France-KLM e British Airways. Já a própria Alitalia, pressionada, resolveu publicar nesta terça-feira anúncios em jornais para apresentação de ofertas por um ou mais setores da empresa.
Crise no setor
Fato é que a Alitalia não é a única companhia aérea européia em dificuldades. A escandinava SAS e a austríaca Austrian Airlines não estão numa situação tão desesperadora como a empresa italiana, mas para ambas procura-se um comprador.
Nos dois casos, o comprador em potencial é a alemã Lufthansa. Segundo a imprensa alemã, o conselho de administração da Lufthansa se reunirá nesta quarta-feira para decidir sobre a participação da empresa em outras companhias aéreas.
A Lufthansa não confirma nem desmente a informação. Mas desde meados de setembro, quando a companhia alemã incorporou a Brussels Airlines, especialistas do setor esperam uma grande onda de fusões e aquisições na Europa. Principais motivos da crise são os altos preços do petróleo, o desaquecimento da economia e a queda no número de passageiros.
Grandes saem ganhando
Como lembra o analista Ulrich Horstmann, do banco alemão Bayerische Landesbank, as companhias que não são sólidas do ponto de vista financeiro são as primeiras a enfrentar dificuldades.
Para ele, quem sai ganhando com a atual conjuntura são as gigantes do setor, notadamente a Lufthansa, a Air France-KLM e a British Airways. "A tendência é favorável às grandes, e as pequenas companhias deverão sumir do mapa", afirmou.
O mesmo afirma o consultor Douglas McNeil, do banco de investimentos britânico Blue Oar Securities. Para ele, o aumento do preço do petróleo vai transformar a indústria do transporte aéreo, e mais de 50 companhias estão em risco de desaparecer.
Um relatório do Blue Oar afirma que, no grupo das sobreviventes, estão a Lufthansa, a Air France-KLM e a British Airways, que se beneficiam do seu poder financeiro e da flexibilidade de determinar preços.
Lufthansa: disposição de comprar
Caso o preço do petróleo aumente ainda mais e a conjuntura econômica continue esfriando, pode-se contar com novas quebras no setor aéreo, assegurou o analista.
A incorporação da SAS e da Austrian Airlines deixaria a Lufthansa mais próxima da líder do setor, a Air France-KLM. Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), a aliança franco-holandesa somou 203 bilhões de passageiros-quilômetros voados em 2007. Em segundo lugar vem a Lufthansa, com 147 bilhões. A SAS tinha 41 bilhões de passageiros-quilômetros voados no mesmo ano, e a Austrian Airlines, 17 bilhões.
A Lufthansa também cala sobre outras possíveis incorporações. Horstmann não elimina essa hipótese: com a aquisição da Brussels Airlines, a Lufthansa mostrou estar de olho no mercado e disposta a fazer compras. O analista também não descarta um possível ingresso na Alitalia.
"No final, é tudo uma questão de condições", avaliou. Para ele, nenhuma companhia séria estaria disposta a salvar a Alitalia nes atuais condições. Para a Lufthansa, o negócio seria interessante. "Mas não a qualquer preço", ressalvou.