Diplomatas turcos pedem asilo na Alemanha
24 de fevereiro de 2017A Alemanha recebeu 136 pedidos de asilo por parte de cidadãos turcos com passaportes diplomáticos desde o fracasso de um golpe contra o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan. Segundo uma reportagem conjunta das emissoras WDR e NDR e do jornal Süddeutsche Zeitung, o grupo inclui diplomatas e possivelmente militares, além de membros de suas famílias. Os pedidos foram feitos entre agosto de 2016 e janeiro deste ano.
A reportagem não detalhou quantos membros do grupo são efetivamente ex-funcionários do Estado turco e quantos são dependentes deles. Também não há indicação de como os pedidos estão sendo processados.
Segundo a emissora ARD, "O Departamento de Migração e Refugiados da Alemanha (Bamf) aparentemente não tomou qualquer decisão envolvendo esses casos".
Os pedidos de asilo vêm causando tensão entre o governo alemão e Erdogan. O governo turco já pediu que Berlim não concedesse asilo para ex-militares e pediu que 40 deles que teriam envolvimento no golpe fossem extraditados da Alemanha.
No mês passado, uma reportagem da revista Der Spiegel já havia informado que dezenas de funcionários do Estado turco baseados na Alemanha estavam entrando com pedidos de asilo por medo de serem presos ao voltar para o país de origem.
Caso Berlim aceite os pedidos de asilo, a ação deve provocar uma reação enérgica do governo Erdogan, que já reclamou publicamente no mês passado quando a Grécia recusou a extradição de oito militares turcos. Nesta semana, mais dois militares turcos apareceram na Grécia pedindo asilo.
Repressão pós-golpe
Cerca de 100 mil pessoas perderam seus empregos no serviço público da Turquia após o golpe militar fracassado de julho passado, e 43 mil acabaram sendo presas.
O governo Erdogan também fechou 130 veículos de imprensa e prendeu 150 jornalistas. Diversos políticos alemães vêm criticando o crescente autoritarismo do presidente turco.
No dia 16 de abril, os eleitores da Turquia vão votar em um referendo sobre uma reforma constitucional para instaurar um sistema presidencialistas no país, o que ampliaria os poderes do presidente.
Estima-se que 1,5 milhão de pessoas com nacionalidade turca que vivem na Alemanha podem votar nesse referendo. No último fim de semana, o primeiro-ministro Binali Yildirim afirmou durante uma visita a Oberhausen que Erdogan está considerando visitar a Alemanha em março para promover o referendo, mas ainda não houve confirmação oficial do gabinete da Presidência.
A possibilidade de uma visita de Erdogan também é alvo de críticas de políticos alemães. Além da questão dos pedidos de asilo, a suspeita de que as autoridades turcas estão espionando e importunando na Alemanha cidadãos turcos críticos a Erdogan gerou tensão entre os dois governos.
Na semana passada, a polícia alemã promoveu batidas nas sedes de uma organização muçulmana patrocinada pelo estado turco por suspeita de espionagem. As autoridades do Estado na Renânia do Norte-Vestfália também estão investigando se diplomatas turcos leais a Erdogan pediram para que professores denunciassem alunos ou colegas em escolas turcas baseadas na Alemanha caso eles façam críticas ao presidente.
JPS/ap/afp