1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Discurso de adversário de Merkel dá novo ânimo à oposição na Alemanha

Wolfgang Dick (md)15 de abril de 2013

Peer Steinbrück arrebatou o público presente no congresso do SPD, dando fôlego ao partido para as eleições gerais de setembro após meses em queda nas pesquisas de intenção de voto.

https://p.dw.com/p/18GGd
Foto: Reuters

Já na primeira frase de Peer Steinbrück, a plateia, de forma espontânea, se levantou. Foram dois minutos de aplausos. E isso, só porque o desafiante de Angela Merkel nas próximas eleições gerais alemãs havia dito que queria ser chanceler. A afirmação não trazia nada de novo. Mas a maneira como ele a fez, sem preâmbulos, arrebatou seus partidários.

Dieter e Renate Mathes também não esperavam um discurso tão bom. "Hoje, ele realmente nos mobilizou para a campanha eleitoral", disse o casal de aposentados. Eles se levantaram cedo para ver o candidato do Partido Social Democrata (SPD), ultimamente muito criticado por suas afirmações controversas e que vem aparecendo mal nas pesquisas de opinião.

Segundo as últimas sondagens dos principais institutos, 63% dos alemães pretendem votar em Angela Merkel, da União Democrata Cristã (CDU). A situação é similar com relação às intenções de votos para os partidos. A CDU tem atualmente 42%, à frente do SPD, com apenas 27% das intenções de voto. De acordo com as mesmas previsões, no entanto, a CDU poderá perder seu atual parceiro de coalizão, o Partido Liberal (FDP), que pode não conseguir os 5% necessários para entrar no Parlamento.

SPD Parteitag Augsburg
Casal Dieter e Renate Mathes se surpreendeu com candidatoFoto: DW

Essa seria a chance para os social-democratas, que desejam governar numa coalizão com Verdes após a eleição de 22 de setembro. Por isso, uma das líderes dos ambientalistas, Claudia Roth, foi convidada a discursar na convenção do SPD.

Ela afirmou que o governo atual é o pior de todos tempos e acusou Merkel de indiferença social. A política verde afirmou, ainda, que quer para a Alemanha não apenas um novo governo, mas uma "mudança de sistema". Peer Steinbrück acrescentou mais tarde que não vê mais futuro para "um capitalismo cínico". Seu lema, assegurou, é mais "nós" e menos "eu".

Contra riqueza para poucos

Steinbrück quer uma distribuição mais justa de impostos na Alemanha. O programa partidário lançado durante o congresso prevê, assim, um aumento de impostos para os "super-ricos", além de um amplo pacote de medidas para levar mais fundos ao caixa do Estado, já que, de acordo com o Departamento Federal de Estatísticas, apenas 8% da população ativa ganham mais de 100 mil euros ao ano.

Segundo o programa do partido, os mercados devem ser domados, e algumas transações bancárias, proibidas. Steinbrück declarou guerra aos especuladores financeiros – ele quer investir mais na educação e ajudar as famílias, além de controlar os preços da energia e dos aluguéis, para que permaneçam acessíveis.

Peer Steinbrück Rede Parteitag Augsburg
Apesar das críticas recentes, Steinbrück convenceu espectadoresFoto: Reuters

Muitos pontos do programa não vêm dos delegados, tendo sido desenvolvidos por cidadãos não filiados à legenda, iniciativa que visa a aproximar do povo o partido, que já tem 150 anos. Muitos participantes do congresso criticam o evento como um mero espetáculo. Outros parecem não terem entendido direito como o programa conseguirá se financiar.

Na imprensa alemã, o programa eleitoral do SPD vem sendo visto de forma crítica, considerado fora da realidade. "O que estamos planejando é viável financeiramente. Calculamos tudo muito bem", garantiu à DW Frank-Walter Steinmeier, candidato a chanceler derrotado por Merkel nas eleições de 2009 e atual líder da bancada parlamentar social-democrata.

Mais diplomacia

Ele, que já foi ministro do Exterior durante o primeiro mandato de Merkel, dá grande importância a que seja criada uma "nova política exterior" e lamenta que a Alemanha venha perdendo peso político internacionalmente, incluindo no Oriente Médio, onde, segundo o SPD, deve ser dada continuidade aos esforços para uma "solução de dois Estados" – um israelense e um palestino.

O programa do partido pede mais apoio para os movimentos democráticos árabes e promete dar suporte à adesão da Turquia à União Europeia, além de querer facilitar a obtenção da dupla cidadania para imigrantes estrangeiros que pedirem o passaporte alemão.

Os social-democratas são a favor de que a política europeia de desenvolvimento se paute de forma mais clara por uma abordagem comum e de que o objetivo de investir pelo menos 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) na ajuda ao desenvolvimento seja implementado de forma mais consequente.

SPD Parteitag Augsburg
Ex-ministro Steinmeier quer renovar a política externa alemãFoto: DW

Eles também querem que as missões do Exército alemão no exterior sejam analisadas com mais cuidado no futuro. "Nós também fizemos isso quando estávamos no governo", ressalta Steinmeier. Em todo caso, as exportações de armas do governo alemão devem ser controladas mais estritamente, caso SPD e Verdes vençam as eleições.

Muitas pessoas que estiveram no congresso concordam com os planos do partido, mas alguns duvidam da viabilidade das ideias. A maioria, entretanto, gostou da performance do candidato a chanceler, que transmitiu, mais uma vez, autenticidade.

Muitos esqueceram, assim, as gafes cometidas pelo social-democrata nos últimos meses e as críticas que ele sofreu por sua suposta transformação de palestrante bem remunerado com posições favoráveis à economia de mercado a defensor da justiça social. Agora, para o SDP, só resta esperar que o clima positivo da convenção partidária se reflita também na campanha eleitoral.