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Disputa pelas Malvinas é mais do que questão patriótica

8 de março de 2013

No fim de semana os residentes irão decidir se o arquipélago continua nas mãos do Reino Unido. A Argentina desdenha o referendo, mas teme pelo resultado e sua influência sobre instâncias internacionais.

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Foto: NASA

Neste domingo e segunda-feira (10-11/03) os habitantes das Ilhas Malvinas irão decidir em votação direta se desejam ou não continuar fazendo parte do Reino Unido. Isso poderá significar o fim do conflito em torno do arquipélago do Atlântico Sul.

A Argentina é um país normalmente cheio de divisões políticas internas, mas o assunto das Malvinas – ou Falklands como são chamadas no Reino Unido – une o país: as ilhas eram e são argentinas e assim devem permanecer, é a opinião unânime.

Trauma argentino

Para contestar a validade do voto popular, juristas internacionais do país afirmam que os "keplers" – como se autodenominam os residentes do arquipélago – não teriam poder de autodeterminação uma vez que não constituem um povo propriamente dito, mas sim uma representação do poder colonial.

"O referendo é irrelevante dentro da perspectiva do direito internacional, e não pode ser utilizado para perpetuar uma ordem colonial", alega a embaixadora argentina em Londres, Alicia Castro. Além disso, o resultado seria previsível, já que de trata de "um referendo organizado por britânicos para britânicos, com o fim de dizer que o território tem que ser britânico".

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"Keplers" votam se Malvinas devem permanecer território britânicoFoto: Reuters

Já o historiador argentino Luis Alberto Romero comenta que "a ideia de que as Malvinas são argentinas está incrustada na consciência coletiva do nosso país, e vem sendo acalentada há muito tempo. Trata-se de um nacionalismo intolerante, alimentado pelo nosso trauma em relação às ilhas". Romero faz parte de um grupo de intelectuais argentinos que discordam do sentimento geral em relação às Malvinas, o que lhes traz bastante inimizade em seu país.

Questão de soberania

O arquipélago das Malvinas, a 400 km da costa argentina, está sob possessão inglesa desde 1833. Há 30 anos a Argentina e o Reino Unido se enfrentaram numa curta porém intensa guerra pela posse das ilhas. A derrota argentina acabou por selar o fim da ditadura militar no país.

Nos anos seguintes, os desentendimentos continuaram e vieram a se acentuar durante o governo da presidente Cristina Kirchner. Sempre que pode, ela traz o tema de volta à pauta, preferencialmente na ONU, que em 1965 já convocara em resolução ambas as partes, para que procurassem um acordo bilateral.

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Ilhas Malvinas estao sob possessão britânica desde 1833.Foto: picture-alliance/ dpa

Kirchner publicou cartas abertas a Londres, em jornais ingleses, reclamando a soberania argentina nas ilhas, e já reiterou seu convite ao Reino Unido para a realização de um diálogo sobre a soberania das Malvinas. "Acreditamos que a diplomacia é o único caminho para defender a paz. Queremos a soberania, mas a queremos com paz".

"O referendo não é válido, não o reconhecemos", declarou o ministro do Exterior da Argentina, Hector Timerman. "A ONU foi taxativa em considerar as Malvinas uma colônia de habitantes implantada por uma potência colonialista, rechaçando qualquer possibilidade de autodeterminação." A embaixadora Alice Castro foi mais além ao afirmar que "os malvinenses têm direitos civis e políticos, mas não para decidir sobre uma disputa de soberania entre a Argentina e o Reino Unido".

Precauções

Não são apenas interesses patrióticos que estão em jogo: as águas ao redor das Malvinas guardam enormes reservas de petróleo, o que certamente influencia a disputa. Além disso, as ilhas também servem com ponto de referência para a exploração da Antártida.

A Argentina oficialmente rechaça o referendo e a legitimidade do voto dos 1.672 eleitores das Malvinas, mas nos bastidores a tensão aumenta. Um alto diplomata argentino, que não quis se identificar, afirmou que "há sim uma preocupação significativa com o referendo, mas nosso país irá tomar as medidas necessárias".

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Presidente Kirchner prega diálogo com os britânicos: "Queremos soberania, mas com paz".Foto: AP

O ministro Timerman enviou mensagens confidenciais às embaixadas argentinas com instruções de como reagir em relação ao referendo. Além disso, o país irá pedir à União das Nações Sul-Americanas (Unasul) que apresente uma rejeição formal à votação.

Detrás de toda essa atividade diplomática existe a preocupação de que o resultado possa vir a ser um "sim" retumbante ao Reino Unido. A Argentina teme que o Comitê de Descolonização da ONU, ao qual o país leva todos os anos a questão da soberania das Malvinas, fique dividido após o referendo.

Autor: Marc Koch / Roberto Crescenti
Revisão: Augusto Valente