Divisões internas dificultam progresso da oposição síria
27 de setembro de 2013A oposição síria está dividida – e ao longo de diversas linhas. Não apenas um profundo cisma separa as forças seculares e jihadistas, mas também os diferentes grupos dentro dessas duas grandes divisões se encontram em conflito.
Há meses os representantes laicos discutem acaloradamente sobre uma eventual intervenção internacional na Síria. Seu grupamento maior, unificado na Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e Oposicionistas Sírias, defende uma missão militar ocidental; enquanto uma facção um tanto menor, reunida no Comitê Nacional de Coordenação para a Reforma Democrática, é estritamente contra.
Ainda assim, por mais que os pontos de vista entre esses dois subgrupos divirjam, até agora isso não tem sido motivo para confrontações violentas dentro da facção secular.
Jihadistas em luta interna
Já entre os jihadistas, a situação é diferente. Seu principal adversário comum é, de fato, o Exército do presidente Bashar al-Assad, mas, além disso, também há lutas intestinas. Em especial os grupos Frente Al Nusra, ligada à Al Qaeda, e Estado Islâmico no Iraque e na Síria (Isis), disputam duramente a liderança.
Recentemente, numa mensagem na internet, a Al Nusra divulgou ter-se aliado a mais de uma dezena de outros grupos jihadistas. Essa aliança não é voltada apenas contra o Isis, mas também se opõe à Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e Oposicionistas Sírias.
Os combatentes alegam não se sentirem mais representados pela organização, não reconhecendo uma oposição que age a partir do exterior. Em vez disso, eles reivindicam uma oposição fundamentalista, que se oriente pelos princípios da sharia (lei islâmica).
Seculares em dificuldades
Como aponta Barah Mikail, do think tank internacional Fride, sediado em Madri, tal cisma não deixa de afetar as grandes federações da oposição secular. Até o momento, seus representantes afirmavam que os grupos radicais estavam sob controle. Porém, a recente aliança demonstra o quanto eles desejavam se alijar das demais facções oposicionistas.
"Com isso, a oposição laica se encontra agora numa posição mais fraca, sobretudo em relação à França, Reino Unido e Estados Unidos", diz o cientista político.
Tudo isso ocorre num momento em que a oposição secular síria já encontra grandes dificuldades em defender suas pretensões de liderança, também diante das correntes jihadistas. Pois, enquanto o curso secular de seus líderes políticos é bastante decidido, a orientação ideológica ou tática de partes de seu braço militar, o Exército Livre da Síria (FSA), é insegura.
Embora seus cabeças aleguem não ter quaisquer conexões com grupos jihadistas, o FSA se compõe de muitos agrupamentos diversos. Por isso, não fica excluída a possibilidade de que em suas alas também existam combatentes de ideologia jihadista, ou pelo menos extremamente conservadora, observa Mikail. "Não se pode afirmar que o Exército Livre da Síria seja cem por cento secular", diz.
Futuro incerto
O jornal Sharq al-Awsat, simpatizante dos oposicionistas, confirma que a influência dos seculares sírios está comprometida. "A cena política é influenciada por forças liberais, enquanto os combatentes in loco se compõem, sobretudo, de grupos muçulmanos de diferentes orientações ideológicas. Dentro desses grupos, alguns subgrupos armados nem mesmo se reconhecem entre si." Considerando-se isso, prossegue o periódico, dá para imaginar o que esses extremistas islâmicos não pensam da oposição secular e liberal.
Em entrevista à DW, Hisham Marwah, um dos porta-vozes da Coalizão Nacional, relativiza esse ponto de vista. Ele admite que existem combatentes jihadistas na Síria, e que eles são aceitos por grande parte da população – no entanto, apenas na medida em que se batem contra o regime Assad. "Entretanto, se eles tentarem controlar o país, ou lhe impor sua ideologia, vão ver que os sírios não aceitarão isso", afirma o porta-voz oposicionista.
Segundo Barah Mikail, no momento ainda não se pode prever como evoluirá o jogo de forças, ou se a Coalizão Nacional das Forças Revolucionárias e Oposicionistas Sírias será capaz de defender seu posto de representante principal autonomeado.
É preciso contar com os grupos radicais islâmicos – mesmo que, em parte, seus representantes se combatam entre si, pondera Barah Mikail. Independente desse fato, porém, no futuro ficará ainda mais difícil para a Coalizão Nacional se afirmar no papel de líder da oposição síria.