Intervalo na 'documenta'
5 de agosto de 2007O início da documenta 12, em 16 de junho passado, em Kassel, foi fulminante. Cerca de 4 mil jornalistas de todo o mundo cobriram a abertura do evento, a maioria com reportagens positivas sobre a principal exposição mundial de arte morderna.
Mas o interesse transformou-se em crítica. Reclamações sobre a política dos organizadores arranham a imagem do evento. O balanço da primeira metade da documenta de 2007 aponta um recorde de visitantes – 330 mil até sábado (04/08), 16.000 a mais do que a essa altura na documenta 11 de 2002 –, mas o mundo cultural pouco se ocupa da exposição.
Isso foi diferente na abertura. O diretor artístico Roger Buergel mantivera em sigilo a lista dos 113 artistas expositores. Quando a revelou, apareceram muitos nomes desconhecidos, a maioria da chamada "periferia" – Ásia, África, Leste Europeu e América do Sul.
Panes programadas
O que chamou a atenção da mídia foram panes aparentemente "programadas": funcionários da limpeza pública removeram, com a aprovação dos organizadores, uma obra da artista Lotty Roseneld. Menos de uma semana depois, desabou o Template de Ai Weiwei, que trouxe 1001 chineses para a exposição. Supostamente, a estática da torre de madeira resistia apenas a ventos de 12 a 19 km/h, um valor atingido freqüentemente em Kassel.
"Estou muito satisfeito com o primeiro tempo. Conseguimos dividir o público", diz Buergel. Ele rema contra uma forte concorrência. Simultaneamente à documenta, acontecem a Bienal de Veneza, os Projetos de Escultura de Münster e a Art Basel (na Suíça).
Além disso, faltam à documenta estrelas como as que ela teve há 30 anos, quando qualquer leigo conhecia nomes como Joseph Beuys, Salvador Dali, Roy Lichtenstein ou Andy Wahrol. A concentração em nomes desconhecidos supostamente desperta interesse. É o que Buergel chama de slow art. "Aqui o visitante é desacelerado."
"Conservadora e entediante"
O colecionador de arte Rolf Ricke, de Colônia, classificou a documenta 12 de "a exposição mais entediante, conservadora, insignificante e sem graça que já vi". Em vez de abordar temas atuais, ela estaria se ocupando consigo mesma. "Isso é tão penoso que eu poderia chorar", afirmou à emissora de rádio e TV Hessischer Rundfunk.
Na opinião do diretor do Museu de Wiesbaden, Volker Rattemeyer, as obras estão expostas "completamente sem nexo umas com as outras". Ele acusa Buergel de falta de coragem. "Essa documenta revela uma certa perplexidade", diz.
Outros críticos são mais profanos. Comerciantes de arte reclamam que foram "marginalizados" e a agência de viagens de estudo Studiosus ameaça até processar a documenta, por não poder usar seus próprios guias turísticos na exposição.
Público satisfeito
Apesar das críticas, os visitantes parecem estar satisfeitos. Prova disso são não só os 330 mil que visitaram a exposição nos primeiros 50 dias. Buergel garante que, no ambiente da exposição, não tem ouvido críticas aos artistas ou organizadores.
O diretor artístico reconheceu, porém, um dilema: ele destaca o caráter educativo de sua documenta, mas faltam informações de fundo junto às obras. As plaquetas revelam apenas o nome do artista, o ano, as dimensões e o nome da obra – freqüentemente "Sem Título". "Precisamos explicar mais", diz o diretor artístico, que pretende afixar textos explicativos.
"Estamos confiantes de que, até o final da exposição, teremos tantos visitantes quanto em 2002, quando 650 mil pessoas visitaram a documenta", diz. As mais de 500 obras de 113 artistas continuam expostas até 23 de setembro em Kassel. (dpa/gh)