Dortmund rumo ao título, mas Bayern confia na virada
15 de janeiro de 2019De 1963 a 2017, dos 54 campeões de outono da Bundesliga, 37 acabaram se tornando campeões da temporada, o que representa um percentual considerável de 69%. E quando o assunto é Borussia Dortmund, a estatística é ainda mais contundente. Todas as três vezes em que os aurinegros levantaram o título simbólico do primeiro turno (2010, 1995 e 1994), terminaram o campeonato com a conquista da Salva de Prata, símbolo máximo do título de campeão alemão.
Em 2010, o Dortmund terminou o primeiro turno com ampla vantagem de dez pontos sobre os seus mais diretos perseguidores, Leverkusen e Mainz, encaminhando a fatura do título praticamente na primeira metade do campeonato.
Na temporada 95/96 a disputa foi mais acirrada. Ao término do primeiro turno, os aurinegros contabilizavam apenas dois pontos de vantagem sobre o Bayern. No segundo, porém, os bávaros caíram de produção, não se recuperaram mais e tiveram que se contentar com o vice-campeonato. A tabela final apontava o Dortmund como campeão, seis pontos à frente do seu arquirrival da Baviera.
Já na campanha de 94/95, a disputa foi cabeça à cabeça do começo ao fim do campeonato, literalmente. O título foi decidido somente na última rodada. Quando o Borussia Dortmund entrou em campo no Westfalenstadion para encarar o Hamburgo, estava um ponto atrás do líder Werder Bremen. Precisava vencer de qualquer forma, além de torcer por um tropeço do seu rival do norte, que, ao mesmo tempo, jogava contra o Bayern no Estádio Olímpico de Munique. Dito e feito. Os aurinegros fizeram sua lição de casa ao derrotar os hamburgueses por 2 a 0, e os alviverdes sucumbiram diante dos bávaros (1 a 3).
Mas não são apenas as estatísticas que trabalham a favor do Dortmund. Vale dizer ainda que, além de o Borussia ostentar atualmente uma vantagem de seis pontos sobre o seu mais direto perseguidor, Lucien Favre conseguiu montar uma equipe altamente competitiva.
O time está coeso e com padrão de jogo definido, trabalha com variações táticas de acordo com o adversário e a situação de momento do confronto, redescobriu o seu talento de surpreender o adversário com contra-ataques letais através de uma transição veloz da defesa/meio campo para o ataque, e acima de tudo, tem jogadores chave de excepcional talento, como Hakimi, Witsel, Sancho, Reus e Alcácer para traduzir em campo a estratégia de jogo planejada pelo técnico.
Como nem tudo é perfeito, há uma pedra no sapato, ou na chuteira, do Dortmund. Acontece que no segundo turno, a equipe aurinegra vai enfrentar todos os seus principais perseguidores fora de casa. Estão na lista Bayern, Borussia M'Gladbach, Eintracht Frankfurt e Leipzig.
É justamente aí que mora o perigo para o BVB e reside a esperança do maior campeão alemão da história de ainda conseguir uma virada. Fora dos seus domínios, os bávaros têm um caminho bem mais fácil do que os aurinegros: do atual G4 pegam apenas o Gladbach (2.3.) e Leipzig (11.5.) De resto, é mamão com açúcar.
Portanto, no frigir dos ovos, pode-se considerar que a campanha do Bayern, no segundo turno, deverá ser mais fácil do que para o BVB.
Conversando com torcedores da gema do atual hexacampeão, fui lembrado da maior virada da história da Bundesliga do primeiro para o segundo turno. Desafiado a dizer qual foi, de bate-pronto não consegui responder. Um torcedor amigo veio me socorrer e contou como foi.
Era a temporada 2008/2009. O primeiro turno terminou com o Wolfsburg nove pontos atrás dos líderes Bayern e Hoffenheim, amargando um medíocre nono lugar na tabela de classificação. Na época, um colega de trabalho bem que me avisou: "Fique de olho no Wolfsburg – está subindo de produção." Os lobos eram dirigidos por Felix Magath, um técnico fanático por exercícios físicos com bola medicinal e tudo mais a que se tem direito.
No segundo turno, o time fez uma campanha excepcional e desbancou todo mundo. A cereja do bolo foi uma goleada inesquecível em cima dos bávaros por 5 a 1, com dois gols do brasileiro Grafite – que inclusive se tornou o maior artilheiro da temporada, com 28 gols.
Foi nessa partida inesquecível que o Wolfsburg assumiu a liderança na classificação geral e não a largou mais.
No fim, os lobos viraram a tabela de cabeça para baixo, conquistaram seu primeiro e único título de campeão alemão, deixando o Bayern para trás comendo poeira e tendo que se contentar com o vice.
Depois de contar a história desse jogo e daquela temporada que entrou para os anais da Bundesliga, meu amigo me perguntou: "Se o Wolfsburg foi capaz de uma virada desse porte, anulando uma vantagem de nove pontos, por que o meu Bayern não seria capaz de fazer o mesmo desta vez? São apenas seis pontos!"
Ainda tentei contra-argumentar, mas meu amigo torcedor bávaro saiu de fininho, convicto da virada do time da sua paixão.
Sem dúvida, é uma bela história. Será mesmo que vai se repetir agora com os bávaros dando a volta por cima dos aurinegros?
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
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