DVD: Fim das salas de cinema?
29 de junho de 2005Hoje em dia, a pergunta "será que vamos hoje ao cinema?" vem sendo cada vez mais substituída por um "vamos pegar um DVD?". Na Alemanha, a situação não se difere muito dos EUA, onde pesquisas apontam que 75% da população prefere assistir a um filme em casa.
"A situação é deprimente", diz Hans-Joachim Flebbe, membro da presidência e um dos fundadores da Cinemaxx AG, um dos maiores exibidores em salas Multiplex no país. Desde 2001, segundo Flebbe, o número de espectadores nas salas de cinema do país vem diminuindo. Hoje, cogita-se até mesmo o fechamento de algumas delas.
Grandes jornais entram na era do DVD
Em tempos de crise econômica, ir ao cinema passa a ser com cada vez mais freqüência uma forma de lazer substituível. Por outro lado, os DVDs começam a ser vistos como uma mídia completamente acessível. Os jornais alemães, por exemplo, depois de uma fase em que produziam edições baratas de livros para serem vendidos em bancas, entraram na era dos DVDs.
Clássicos da história do cinema, lançados por eles, são vendidos hoje hoje a preços módicos. O diário Frankfurter Allgemeine Zeitung introduziu ainda há pouco uma página em seu caderno de cultura, na qual, a cada duas semanas, são resenhados única e exclusivamente lançamentos de filmes em DVD.
Nem todos conseguem chegar à tela grande
A postura do jornal alemão é uma reação às artimanhas do mercado, deixando os cinéfilos tradicionais furiosos. "Muitos filmes nem chegam às salas de cinema, sendo diretamente comercializados em DVD", observa Michael Schmid-Ospach, da Fundação de Fomento ao Cinema da Renânia do Norte-Vestfália.
Pois há muito que não são apenas as cópias piratas que deixam os espectadores em casa. Até mesmo produtoras e distribuidoras vêm apostando cada vez mais no disquinho prateado. A comercialização em DVD parece ser para muitos mais cômoda e menos arriscada que a opção pelas grandes telas. "Até belos filmes, que certamente teriam sucesso de público no cinema, não conseguem mais chegar lá", lamenta Schmid-Ospach.
Conflito entre distribuidores e exibidores
Outro detalhe relevante é o espaço de tempo cada vez menor entre o lançamento de um filme no cinema e a chegada do mesmo ao mercado através do DVD. Uma tendência que deixa os exibidores de cabelo em pé. "Até há pouco tempo, havia um acordo de que a primeira etapa da comercialização ficava sempre reservada ao cinema", observa Flebbe. Só depois de seis meses é que se passava para outra etapa – a de tentar divulgar o filme através de DVD ou de fitas VHS.
Este acordo vem, porém, sendo cada vez menos levado a sério pelas distribuidoras. Os grandes lançamentos começaram a aparecer também em DVD logo após suas estréias nos cinemas e, em vários casos, até ao mesmo tempo. Um dos argumentos utilizados para a mudança de estratégia é o de que as campanhas de divulgação do filme tanto no cinema quanto em DVD poderiam ser unificadas.
"As distribuidoras diminuem cada vez mais o espaço de tempo entre os dois lançamentos. Ao mesmo tempo, os custos pagos pelas salas de exibição às distribuidoras continuam altos. É preciso negociar mais a respeito destas taxas, pois nós, exibidores, não levamos vantagem nenhuma nos casos em que o filme já saiu em DVD", protesta Flebbe.
O que sobrou do mito?
Não se deve esquecer de que as grandes estrelas do cinema só se transformaram em personalidades cultuadas ao longo do último século graças ao escurinho do cinema. Sair de casa para ir assistir a um filme é e sempre foi um ritual – com direito à compra de pipoca, escolha do lugar com melhor visibilidade e uma leve ansiedade para que os peças publicitárias acabem logo e o filme, enfim, comece.
Afinal, o cinema é uma "experiência coletiva", como o teatro ou a ópera. Nas salas de exibição sentam-se às vezes centenas de pessoas umas ao lado das outras, para desfrutar, nas palavras de Martin Schmid-Ospach, da "experiência incomparável das grandes imagens". Ele está convencido de que o cinema, a longo prazo, vai sobreviver: "Na verdade, é muito simples: normalmente as pessoas não saem chorando de emoção das salas de televisão de suas casas. Mas quando deixam os cinemas, elas choram sim".