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E a luta de Lula?

5 de dezembro de 2018

Hoje, é o PT que está sentado no banco dos réus, e Lula é o preso mais conhecido da Lava Jato. Uma situação bem diferente da que vi no Brasil no início dos anos 1990, como correspondente alemã, escreve Astrid Prange.

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Foto von Astrid Prange und Luiz Inácio Lula da Silva
Foto: Privat

Caros brasileiros,

Quantas vezes olhei para essa foto! Ela mostra Lula ainda como líder sindical em 1993 e me faz lembrar das vezes em que me encontrei com o ex-presidente. Por exemplo no dia 18 de setembro 1993, em Berlim, quando ele participava de um seminário da Fundação Friedrich Ebert, onde foi tirada essa foto.

A foto esta pendurada na parede do meu escritório e me lembra do jingle da campanha do PT em 1989 ("sem medo de ser feliz"). Eu vejo Lula nas multidões, nos comícios, me lembro que Brizola chamou ele de "sapo barbudo" e que ele quase ganhou as eleições.

O combate à corrupção já estava em curso naquela época. Mas não foi Lula, que era tido como o candidato limpo, jovem e anti-establishment. Foi Fernando Collor de Mello que se encenava como o "caçador dos marajás". Curiosamente, este representava o establishment que ele tanto pretendia combater: Vinha de uma família influente do estado de Alagoas, já tinha sido prefeito de Maceió e governador.

Foto von Astrid Pranges Interview mit Luiz Inácio Lula da Silva in taz
Foto: Privat

Trinta anos depois, o presidente eleito Jair Bolsonaro usou essa mesma estratégia. Só que ele vinculou o combate à corrupção ao combate ao PT. Confesso, é uma das minhas grandes desilusões constatar que essa estratégia funcionou.

O "caçador dos marajás" acabou sendo caçado. Em 29 de setembro 1992, a Câmara votou a favor do impeachment de Collor, envolvido num escândalo de corrupção. Em dezembro 2014, Collor foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal.

Olhando para a foto me lembro que, durante uma entrevista que Lula me concedeu, publicada em 30 de setembro 1991 no diário alemão TAZ, ele criticou a corrupção endêmica no Brasil: "Ninguém vai investir um dólar sequer no Brasil, pois se sabe que o dinheiro vai ser engolido pela corrupção, isso é o problema do Brasil. A culpa do nosso subdesenvolvimento não é só dos países industrializados ou de credores vorazes, mas também das nossas elites corruptas e retrógradas."

Que diagnóstico! Mesmo com tantos caçadores aos marajás, o problema da corrupção no Brasil persiste. Só que tem uma diferença fundamental. Naquela época, Lula criticava o governo Collor, que estava envolvido num escândalo de corrupção junto com o famoso PC Farias.

Hoje, é o PT que está sentado no banco dos réus, e Lula é o preso mais conhecido da Lava Jato. Ainda faltam muitos políticos a serem julgados, especialmente políticos que não pertencem ao PT, por exemplo Michel Temer, Aécio Neves, Delfim Netto, Renan Calheiros, Roseana Sarney, Romero Jucá, e o já conhecido ex-presidente Fernando Collor de Mello.

E a luta de Lula? Quando olho para a foto vejo garra e desgosto, dedicação e desilusão. E sofrimento. Um sofrimento feito mar que cobre todas as perdas, derrotas, traições e a amargura da trajetória grande deste grande homem.

Lula não tinha medo de ser feliz e cumpriu a sua missão. Ele tirou milhões de brasileiros da miséria e mostrou que o "american dream" pode se tornar realidade no Brasil também.

Na terça-feira, mais uma tentativa de tirar Lula da prisão falhou. O julgamento de um habeas corpus no Supremo foi adiado. Lula não merece isso. Ele merece ser feliz.

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Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.

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