1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Economias emergentes temem alta dos juros nos EUA

Zhang Danhong (ca)26 de agosto de 2015

Economistas e presidentes de bancos centrais reúnem-se na americana Jackson Hole em meio à expectativa de um possível aumento dos juros pelo Fed. Para economista, Brasil pode ser um dos mais afetados pela medida.

https://p.dw.com/p/1GLlG
Symbolbild Wirtschaft Brasilien
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb

É grande a apreensão mundo afora diante do simpósio econômico de Jackson Hole, que tem início nesta quinta-feira (27/08), no estado americano de Wyoming. No momento, a pergunta que não quer calar é: o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, vai elevar a taxa básica de juros em setembro? A decisão pode afetar particularmente países emergentes, como o Brasil.

No entanto, o encontro anual de economistas e presidentes de bancos centrais em Jackson Hole não deve trazer uma resposta à questão. Isso porque a única mulher capaz de respondê-la não estará presente no simpósio: Janet Yellen, presidente do Fed. Pode ser que ela já esteja cansada de ser confrontada com a pergunta: a mudança da taxa de juros virá em setembro ou somente no fim do ano?

Entretanto, a própria Yellen também tem um pouco de culpa pela situação. Durante meses, por vezes, o Fed afirmava haver chegado a hora, para depois retroceder, dizendo que a recuperação da economia americana ainda não apresentava a robustez necessária. Mas agora o motor conjuntural está a todo vapor, com a maior economia do mundo caminhando em direção ao pleno emprego.

Por esse motivo, Martin Hüfner, economista-chefe do fundo de investimentos Assenagon, acredita que os economistas do Tesouro americano iniciarão a reviravolta na taxa de juros já em setembro. "Primeiro, porque prepararam devidamente os mercados; segundo, porque isso é necessário para que se consigam novamente condições razoáveis nos mercados de capitais."

Brasil entre os mais frágeis

Desde a eclosão da crise financeira mundial, no final de 2008, a taxa básica de juros nos EUA vem sido mantida entre zero e 0,25%. Como os juros estão menores que a inflação, os poupadores se queixam de uma expropriação lenta. E os mercados financeiros ficaram tão acostumados com o dinheiro abundante e barato que a esperada elevação da taxa básica de juros funcionaria como uma espécie de síndrome de abstinência de drogas, capaz de desencadear reações de pânico.

Algo semelhante aconteceu há dois anos. Na ocasião, bastou o então presidente do Fed, Ben Bernanke, acenar com um possível fim da compra de títulos públicos para colocar sob forte pressão moedas e mercados financeiros em alguns países emergentes. Os mais atingidos foram Brasil, África do Sul, Turquia, Indonésia e Índia, grupo que desde então passou a ser conhecido como "os cinco frágeis".

"Principalmente o alto déficit da balança comercial fez desses países bastante vulneráveis", diz Lutz Karpowitz, analista do banco alemão Commerzbank. Segundo o economista, em 2013, muitos viram o financiamento desse déficit ameaçado pelos juros mais altos nos EUA e o dólar mais forte. Desde então, a Índia reduziu o déficit de sua balança comercial, e também na Indonésia, a coisa melhorou um pouco. Mas a economia dos outros três países continua frágil.

"O Brasil é o que mais me preocupa", afirma Hüfner. A produção e o consumo estão em declínio, e a inflação se aproxima dos dois dígitos no país, aponta.

A situação da Rússia também é duvidosa, onde o rublo está se desvalorizando devido aos baixos preços do petróleo. Ao mesmo tempo, na Turquia, a lira turca sofre pressão por causa da insegurança política no país. No México, paira a ameaça de uma nova crise política e econômica. Ou seja, o círculo de economias emergentes instáveis está crescendo.

Influência chinesa

Como se tudo isso não bastasse, um vírus chinês vem se espalhando há algum tempo, com a segunda maior economia do mundo crescendo mais lentamente que o esperado, as exportações diminuindo, e os preços das ações chegando ao fundo do poço.

O governo tem tentado intervir – com pouco êxito. Por duas vezes consecutivas, o banco central chinês desvalorizou em 4% o yuan, o que provocou turbulências em bolsas de valores por todo o mundo. O vírus já foi detectado em todos os mercados emergentes.

De acordo com o fundo de investimentos holandês NN Investment, nos últimos 15 meses, quase um trilhão de dólares foram retirados desses mercados. Hüfner diz que, embora os problemas na China ou no Brasil não tenham diretamente a ver com os juros nos EUA, um aumento dos juros por lá pode acelerar ainda mais a tendência negativa e piorar a situação.

Isso poderia acontecer rapidamente, e o resultado poderia ser "algo semelhante à crise asiática no final dos anos 1990, e países precisariam recorrer a controles de capitais e medidas protecionistas" para evitar o colapso de suas economias, afirma Hüfner.

Cenários catastróficos

Desta vez, a Europa não está no olho do furacão. Pelo contrário, o dólar forte tem beneficiado a zona do euro. No entanto, se as turbulências nos países emergentes ficarem muito fortes, o continente europeu não será poupado.

Atualmente, uma crise global é a última coisa da qual o mundo precisa, pois dispõe no momento de pouquíssimos instrumentos para combater uma crise. "Ao contrário de 2008, desta vez, não temos nenhuma margem de manobra em termos de política monetária para enfrentar uma tendência de recessão", diz Hüfner. As taxas de juros já estão próximas de zero, e os países não estão em condição de conceder grandes pacotes conjunturais de ajuda, como em 2008, pois a maioria deles está endividada.

Diante de tais cenários catastróficos, as autoridades monetárias americanas talvez pensem duas vezes antes de realmente elevar os juros em setembro, pela primeira vez desde 2006. Enquanto isso, em Jackson Hole, economistas e presidentes de bancos centrais poderão discutir sobre como espantar os fantasmas da política monetária frouxa dos últimos anos e como elevar os juros sem causar uma catástrofe global.