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Economizando na cultura

Michael Brückner / sv6 de julho de 2003

A Alemanha se vê às voltas com dificuldades de financiamento para o enorme aparato estatal que sustenta as instituições culturais. Em tempos de crise econômica, não se pode nem mais contar com a iniciativa privada.

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Tempos sombrios para a cultura erudita: Maria Callas como Medéia, em 1959Foto: AP

No momento, os responsáveis pela política cultural na Alemanha andam com os nervos à flor da pele. Com caixas falidos, as cidades caminham cada vez mais em direção à falência. Em uma situação como essa, os secretários das Finanças costumam enxugar, em primeiro plano, o orçamento destinado à cultura. Do governo federal, não há também muito o que esperar hoje. Em primeiro lugar, porque a legislação no país define que a cultura é de competência dos Estados, não podendo a federação entrar sem mais nem menos com verbas para o setor.

Exatamente devido à essa peculiaridade da lei, foi criada há pouco, no país, a Fundação Federal de Cultura (Bundeskulturstiftung), com sede em Halle. Desde que entrou em funcionamento, no entanto, a Fundação, que tem autonomia para agir em âmbito nacional, já viveu vários conflitos com a Fundação Cultural dos Estados, criada há 15 anos pelos governos estaduais para atuar em todo o território alemão.

O objetivo agora era o de unir essas duas fundações, criando assim uma única instituição de fomento à cultura que fosse forte o suficiente para gerir um volume de mais de 46 milhões de euros. Esta, se tivesse sido realmente criada, teria se tornado a maior fundação cultural de toda a Europa. Como os primeiros esforços neste sentido foram vãos, as negociações continuam.

Enquanto na Alemanha a federação e os estados brigam entre si, em outros países da Europa a discussão vai além: questiona-se como e se as instituições culturais podem continuar sendo mantidas pelo Estado, e de que forma os subsídios estatais, cada vez mais reduzidos, podem ser compensados por fundos mantidos pela iniciativa privada. Nessas circunstâncias, levar os preços das entradas de eventos culturais às alturas seria uma alternativa inviável, pois o público, nesse caso, simplesmente desapareceria.

Die Mailänder Scala
Teatro Scala, de MilãoFoto: AP

Posto nobre: Milão

A famosa casa de espetáculos Scala, em Milão, já é há muito gerida com recursos da iniciativa privada. No entanto, trata-se apenas de uma mudança na forma jurídica. Os custos com pessoal continuam nas mãos do Estado. Desde 1998, tornou-se assim possível angariar patrocínio para a casa, sem com isso entrar em conflito com as leis do orçamento público.

Um efeito paralelo importante no caso de Milão foi (e teria sido em qualquer lugar do mundo) deter o excesso de regulamentação por parte dos sindicatos - que adquiriu formas grotescas no decorrer dos últimos anos, prejudicando até mesmo o teatro como tal.

A sede temporária do Scala, que em função da reforma da casa apresenta no momento seus espetáculos em um prédio no norte de Milão, foi inteiramente financiada pelo fabricante de pneus Pirelli. Entretanto não se deve esquecer de que o Scala sempre foi uma "marca" conhecida em todo o mundo, o que faz com que qualquer patrocinador manifeste interesse em ver seu nome envolvido em eventos promovidos pela casa. A estratégia de marketing, no caso, aposta na "excelência" do produto.

Captar recursos custa dinheiro

Royal Opera House in Covent Garden
Ópera Covent Garden, LondresFoto: AP

O britânico Peter Jonas, diretor do maior teatro musical europeu, a Ópera Estatal da Baviera, em Munique, acentuou em uma entrevista ao diário Süddeutsche Zeitung que, ao contrário do que acreditam muitos políticos financeiros na Alemanha, o sistema de financiamento da cultura no país ainda é admirado no exterior. Principalmente por ser bastante eficiente em relação aos custos.

Na Ópera Covent Garden londrina, por exemplo, somente o departamento de captação de recursos tem 27 funcionários, sem contar os 54 empregados do setor de marketing. Só isso já seria muito mais do que toda a administração da Ópera de Munique. E, apesar disso, o Estado ainda precisa arcar com a maioria dos custos da ópera. Mesmo na rica Londres não se consegue achar patrocinadores com facilidade.

Esperar que o dinheiro da iniciativa privada possa um dia substituir os subsídios estatais por completo é, na opinião de Rolf Bollwin, diretor da Associação dos Palcos Alemães, mera ilusão. Segundo Bollwin, todos os teatros estatais no país já trabalham há muito tempo com verbas adicionais captadas através da iniciativa privada. Estas, no entanto, são muito modestas.

Segundo estimativas da Associação dos Palcos, o Estado destina na Alemanha cerca de oito bilhões de euros à cultura. Destes, dois bilhões fluem para os setores de teatro, ópera e orquestras de música clássica. O empresariado alemão, por sua vez, investe anualmente entre 250 e 300 milhões de euros em cultura. "E os próprios empresários dizem que não deve haver uma acréscimo nesse valor", completa Bollwin em entrevista à DW-WORLD.

O diretor da Associação faz ainda outras contas: "Na Alemanha, são gastos por ano um trilhão de euros dos cofres públicos, ou seja, mil bilhões de euros. Comparados a isso, o que são os dois bilhões que fluem para o teatro e as orquestras? Onde estão aí as grandes economias a serem feitas, se esse dinheiro for poupado?"