Efeito tango no Brasil depende de Lula
27 de setembro de 2002Um efeito tango da Argentina no Brasil e o perigo de a crise se alastrar por toda a América Latina e contribuir para uma recessão internacional dependem da política que Lula vai empreender, se for eleito presidente do Brasil, conforme avaliação do diretor do Departamento da América da Agência de Comércio Exterior (Bfai), ligada ao Ministério da Economia, em entrevista à DW-WORLD. Wolfgang Potthast ressalvou, todavia, que não vê mais Lula como fator de medo ou sobressalto para banqueiros e empresários em geral.
Em seu escritório em Colônia, o perito em economia externa mostrou o resultado de uma pesquisa apontando mais de 40% das intenções de voto para o candidato do PT e apenas 17% para o do PSDB, José Serra, o segundo colocado. Perguntado se aconselharia firmas alemãs a investir no Brasil se Lula for eleito presidente, Potthast disse: "Os empresários devem ficar de olho, observar e não tomar decisão precipitada." Ele próprio prefere esperar o resultado para falar sobre eventuais efeitos de um governo Lula na economia alemã.
Populismo de esquerda
O diretor da Bfai para a América acha que, se eleito, Lula poderia levar a economia brasileira à ruína e prejudicar a conjuntura internacional, caso siga um rumo populista de esquerda, ao contrário da intenção anunciada de cumprir os compromissos do presidente Fernando Henrique Cardoso e de empreender uma política econômica sólida. Uma mudança radical, de populismo de esquerda, segundo o especialista alemão, levaria a uma onda de fuga de capital estrangeiro, a crise brasileira se propagaria então por toda a América Latina e poderia influenciar uma recessão não só regional, mas também internacional.
Lula não é o mesmo
O diretor da Bfai repetiu suas advertências contra uma guinada radical da política brasileira para a esquerda, caso o candidato do PT seja eleito, mas também tentou dissipar temores de um desastre econômico manifestados por banqueiros e empresários no Brasil. Ele destacou que, em sua quarta campanha eleitoral para a Presidência da República, "Lula mostrou que mudou, que se ajustou, que está mais moderado". Na sua opinião, "Lula já foi fator de medo, porque vem da esquerda sindical e é do Partido dos Trabalhadores, mas parece outro nesse meio tempo, está um pouco moderado".
Efeito tango
Potthast diz não acreditar num simples efeito dominó ou tango no Brasil, porque a situação dos dois países seria completamente diferente. A Argentina já se encontrava há tempos em desvantagem política e econômica, segundo ele. "O Brasil, ao contrário, tem outras condições", disse o perito. "No primeiro semestre, o Brasil teve bom crescimento em diversos setores. De forma que alguns especialistas partem do pressuposto de que não haverá efeito dominó no país."
O Brasil tem também a vantagem de estar sendo apoiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo Wolfgang Potthast, com a altíssima soma de US$ 30 bilhões. Este empréstimo foi possível, na sua opinião, também graças ao apoio dos Estados Unidos, entre outros países, "porque se quer que o Brasil permaneça estável, se quer evitar que dê errado, pois se sabe perfeitamente que, se o Brasil for atingido como a Argentina, isso afetaria toda a América Latina e a economia internacional."
Oportunidades para firmas alemãs
Potthast qualificou as relações teuto-brasileiras como excelentes e destacou o interesse mútuo de uma nova qualidade. Isto ficou claro, segundo ele, durante a visita do chanceler federal Gerhard Schröder ao Brasil, no giro que fez pela América Latina no início de 2002, e também no 20º encontro anual da Comissão Mista Econômica Brasil-Alemanha.
Na visita do chefe de governo alemão, foi apresentada uma iniciativa visando aumentar a presença da economia alemã no Brasil e principalmente nos setores de produção de energia, rodoviário, sistema de transporte, telecomunicações e informática. Um grupo de contato teuto-brasileiro vai averiguar quais as firmas alemãs que podem participar.
A iniciativa oferece excelentes oportunidades de negócios para os alemães nos próximos anos, disse o chefe do departamento da Agência de Comércio Exterior do Ministério da Economia encarregado da América, Wolfgang Potthast, à DW-WORLD.