Egípcios protestam contra dissolução do Parlamento
15 de junho de 2012Grupos liberais e islâmicos convocaram para esta sexta-feira (15/06) manifestações contra a determinação do Tribunal Constitucional egípcio, de anular o resultado das eleições parlamentares realizadas no início do ano. Os EUA, União Europeia (UE) e Alemanha apelaram para que o Egito dê prosseguimento ao processo de democratização.
A Irmandade Muçulmana, vencedora das eleições, após obter quase metade os assentos, acusou a decisão judicial anunciada na quinta-feira de ser um “golpe de Estado”. Os islâmicos detêm a maioria do primeiro Parlamento eleito livremente desde a derrubada de Hosni Mubarak, há 16 meses, mas dissolvido pela determinação judicial.
Um sucesso semelhante em uma segunda eleição é considerado improvável. Nos últimos meses, a Irmandade Muçulmana vem causando, no ponto de vista de muitos egípcios, a impressão de ser um grupo sedento por poder, mais preocupado com eles próprios do que com os problemas da nação.
Em outro revés para os islâmicos, a corte também determinou que o último primeiro-ministro do líder deposto Hosni Mubarak, Ahmed Shafik, pode disputar o segundo turno das eleições presidenciais deste fim de semana. Sua candidatura era controversa, pois o Parlamento tinha aprovado uma lei proibindo que integrantes do regime Mubarak se candidatassem a cargos públicos.
Mais uma vez, rumo à Praça Tahrir
O adversário de Shafik é o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi. "Se houver alguma forma de fraude eleitoral, haverá uma grande revolução", alertou Morsi. Já Shafik elogiou a decisão judicial, afirmando que, com isso, “chega ao fim o período de agitação política”.
O Movimento 6 de Abril convocou para esta sexta-feira um protesto dirigido sobretudo contra Shafik. Destino da passeata é a simbólica Praça Tahrir, no centro do Cairo. No lugar, opositores de Mubarak se reuniram para manifestações que desempenharam um papel decisivo para a renúncia do ex-presidente.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse esperar que o governo de transição militar transmita o poder para as mãos de um governo democraticamente eleito. Um porta-voz do Ministério do Exterior em Berlim deu declaração semelhante. "Não deve haver nenhum vácuo democrático. O processo de democratização deve continuar de forma consistente", acrescentando que nisso se inclui um "plano confiável de transferência de poder para mãos civis e eleitas democraticamente."
A UE exigiu que o calendário para a transferência de poder dos militares a um governo civil seja mantido. As consequências reais da decisão devem "ser esclarecidas o quanto antes", disse em Bruxelas nesta sexta-feira o porta-voz da chefe da diplomacia do bloco, Catherine Ashton.
Temores dos revolucionários
É como se os piores temores dos revolucionários tivessem virado realidade, e a luta dos últimos 15 meses por democracia estivesse perdida. A vontade do Conselho Militar prevaleceu, este conseguiu puxar o poder novamente para si.
O caos na política egípcia já havia sido anunciado no meio desta semana, quando as forças islâmicas e seculares não puderam chegar a um acordo sobre a composição da Assembleia Constituinte.
É precisamente essa tarefa de que foi imputado o Parlamento. Afinal, o que ficou claro até momento é que nada parece impedir que o Conselho Militar escreva, ele mesmo, a nova Constituição do Egito.
Caso Mohammed Morsi, candidato da Irmandade Muçulmana, seja eleito presidente, é possível que os juízes anulem as eleições. Pois Morsi baseia sua candidatura no apoio do Parlamento, enquanto Ahemd Shafik recolheu 30 mil assinaturas para isso, como requer o regulamento eleitoral.
Permanece no ar a questão sobre se um Parlamento formado por uma eleição declarada nula tem legitimidade para selecionar um candidato a presidente. Mohammed Morsi garante que não vai retirar sua candidatura e disse que enfrentará os militares. "Continuaremos a revolução", afirma.
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Revisão: Carlos Albuquerque