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Bolsonaro insulta repórter e a manda "calar a boca"

21 de junho de 2021

Presidente havia sido questionado sobre falta do uso de máscara em Guaratinguetá (SP), na sua primeira agenda pública após atos contra o seu governo em mais de 400 cidades.

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Jair Bolsonaro fala em microfone
É costume de Bolsonaro atacar jornalistas em entrevistas nas quais se sente pressionadoFoto: AFP/S. Lima

O presidente Jair Bolsonaro agiu de forma destemperada enquanto era entrevistado por uma repórter da Rede Vanguarda, afiliada da Rede Globo na região do Vale do Paraíba, nesta segunda-feira (21/06), e mandou a profissional "calar a boca" enquanto era questionado sobre a falta do uso de máscara.

O presidente respondia a perguntas de jornalistas em Guaratinguetá (SP), onde participou de uma cerimônia de formatura de sargentos da Aeronáutica. A repórter Laurene Santos questionou o presidente por ele ter chegado ao local sem máscara, ao que ele respondeu: "Eu chego como quiser, onde eu quiser. Eu cuido da minha vida".

Em seguida, Bolsonaro tirou a máscara que usava durante a entrevista e passou a criticar a Rede Globo com palavras de baixo calão. Santos lembrou que o uso de máscara era obrigatório, de acordo com uma norma em vigor no estado de São Paulo, e o presidente afirmou: "Cala a boca! Vocês são uns canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha!". A jornalista se manteve em posição com o microfone na direção do presidente, apesar do ataque.

Bolsonaro é crítico ao uso de máscaras como medida de contenção da pandemia de covid-19, recomendada pelos epidemiologistas como um dos pilares de uma política sanitária para reduzir a transmissão do vírus. Em 10 de junho, ele sugeriu derrubar a obrigatoriedade da proteção facial para já vacinados ou que já passaram por uma infecção pelo novo coronavírus, proposta criticada por especialistas considerando o momento da pandemia no país. Na última quinta, o presidente disse que a máscara reduz a oxigenação de quem a está usando, o que é mentira.

Durante a breve entrevista em Guaratinguetá, Bolsonaro também criticou a emissora CNN, que estava presente na entrevista. "CNN? Vocês elogiam a passeata agora de domingo né? Jogaram fogos de artifício em vocês e vocês elogiaram ainda", afirmou. Essa foi a primeira agenda oficial de Bolsonaro após atos contra o seu governo terem sido realizados no sábado em mais de 400 cidades, incluindo todas as 27 capitais.

Ataques constantes

É costume de Bolsonaro atacar jornalistas em entrevistas nas quais se sente pressionado. Em agosto de 2020, por exemplo, ao ser questionado por um repórter sobre depósitos de Fabrício Queiroz e sua mulher que teriam sido feitos na conta da primeira-dama, Bolsonaro respondeu: "Vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado".

Um levantamento feito pela organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) contabilizou 580 ataques à imprensa brasileira promovidos por Bolsonaro e seu entorno apenas em 2020. O primeiro da lista foi o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), com 208 ataques a jornalistas. Em seguida vêm o presidente, com 103 ataques, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), com 89, e o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), com 69.

Em entrevista à DW Brasil em maio, o diretor da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, afirmou haver uma estratégia estruturada de ataques a jornalistas no Brasil, que vai do presidente à sua base de apoiadores e cria um "ambiente tóxico" para a atuação dos profissionais de imprensa. 

O Brasil caiu quatro posições no último ranking de liberdade de imprensa da organização, referente a 2020, quarto ano consecutivo de queda. Na 111ª colocação, o país entrou na "zona vermelha", que caracteriza um cenário difícil para a atuação jornalística, ao lado de países como Afeganistão, Emirados Árabes Unidos e Guatemala.

Solidariedade à jornalista

Diversas personalidades, jornalistas e políticos manifestaram solidariedade à jornalista da Rede Vanguarda insultada pelo presidente.

Luciano Huck, apresentador da Rede Globo que cogitava se lançar a presidente da República nas eleições de 2021, mas anunciou a desistência do plano em 16 de junho, foi um dos que saíram em defesa de Santos. "A jornalista foi atacada ao fazer perguntas pertinentes. Rodeado de bajuladores, o presidente se sentiu à vontade pra humilhar uma mulher que apenas cumpria seu dever profissional de informar. Covardia total", afirmou apresentador.

O governador de São Paulo, João Doria, definiu a reação de Bolsonaro como "mais um surto verborrágico do presidente Bolsonaro contra a imprensa" e escreveu que a liberdade de imprensa "é um direito que o atual governo insiste em confrontar".

A jornalista Renata Lo Prete, âncora do Jornal da Globo, também apoiou Santos. "Que profissionalismo, que senso de missão, que contraste com a indignidade diante do microfone", escreveu no Twitter.

Na esfera bolsonarista, os insultos foram repercutidos como demonstração de firmeza do presidente. Eduardo Bolsonaro compartilhou no Twitter o vídeo da entrevista afirmando que Bolsonaro havia colocado a emissora "em seu devido lugar".

bl (ots)