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Em Boston, serviços secretos falharam na cooperação com autoridades locais

Ruth Wittwer, de Washington (kg)15 de abril de 2014

Investigações apontam uma falha recorrente: a precária troca de informações entre autoridades federais e locais. Para especialista, atentado poderia ter sido evitado.

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Foto: Reuters

Um ano após os atentados a bomba na maratona de Boston, que causaram três mortos e deixaram cerca de 260 pessoas feridas, os americanos ainda se perguntam se uma tragédia como essa pode se repetir. Para o especialista em segurança Thomas McNamara, uma coisa é certa: o ataque poderia ter sido evitado.

"Teria sido possível se os serviços de inteligência tivessem trocado informações com as autoridades locais", diz McNamara, que foi consultor de segurança de vários presidentes americanos e, depois dos ataques terroristas de 11 de Setembro, comandou um departamento para a troca de informações entre os serviços de inteligência dos Estados Unidos.

Autoridades e serviços secretos controlam quase todas as comunicações do país, mas, mesmo assim, no dia 15 de abril de 2013, os irmãos Tsarnaev, imigrantes provenientes da Chechênia, conseguiram detonar suas bombas sem que ninguém os tivesse monitorado.

O mais velho, Tamerlan Tsarnaev, estava há anos na mira das autoridades da Rússia. Em 2011, autoridades russas informaram o FBI e a CIA de que o suspeito teria passado por uma mudança profunda, tornando-se um seguidor de radicais islâmicos pouco antes de partir para sua terra natal, onde deveria se encontrar com grupos que atuavam no underground. Ao final de uma investigação, o FBI concluiu que Tamerlan não representava perigo para os Estados Unidos. Um erro fatal.

Falha de cooperação

Depois do atentado, a CIA e o FBI foram duramente criticados. Principalmente o FBI, que não teria investigado pistas importantes. Diversos relatórios de investigação sobre a atuação dos serviços secretos listam o que aconteceu antes, durante e depois do atentado com as duas panelas de pressão. Mas eles não responsabilizam ninguém, e suas conclusões soam como recomendações.

Bombenanschlag beim Boston-Marathon
Centenas ficaram feridos no atentado, como este homemFoto: picture alliance/AP Photo

O comitê de segurança interna do Congresso chegou a uma conclusão semelhante à de McNamara: os serviços federais cooperaram muito pouco com as autoridades de investigação locais. Investigadores de Massachusetts, por exemplo, não sabiam que Tamerlan Tsarnaev, um morador do estado, estava fichado nos serviços secretos da Rússia e dos Estados Unidos.

O comitê também constata que as falhas foram quase idênticas às apontadas nos relatórios sobre os atentados de 11 de Setembro e sobre o tiroteio na base militar de Fort Hood, no Texas, em 2009. É mais do que urgente corrigir esse problema.

Em contraste, na semana passada diversos representantes das autoridades de Boston frisaram, numa audiência do comitê no Congresso, que a cooperação entre os serviços locais funcionou bem.

O professor de gerenciamento de crises Herman Leonard, da Universidade de Harvard, concorda com essa avaliação. Ele coordenou uma pesquisa sobre o trabalho conjunto das autoridades, dos bombeiros e dos serviços de socorro. "O comitê avaliou nosso trabalho como muito útil. Eles também concordaram com as nossas recomendações", afirma Leonard.

Culpa dos russos?

Semanas atrás, o jornal The New York Times fez uma menção a um relatório ainda não publicado em que os inspetores dos serviços secretos dos Estados Unidos atribuem a responsabilidade pelas falhas à Rússia. O argumento é que os russos não teriam dito tudo que sabiam.

Dschochar und Tamerlan Zarnajew Anschläge Boston Marathon Watertown
Tamerlan (e) morreu em tiroteio com a polícia. Dzhokhar aguarda julgamento e pode pegar pena de morteFoto: picture alliance/AP Photo

Se não fosse assim, diz o relatório, o FBI teria intensificado a vigilância sobre o suspeito. Uma desculpa? Para McNamara, isso nem mesmo é relevante, pois é da natureza dos serviços de inteligência esconder informações. A Rússia havia alertado os Estados Unidos duas vezes sobre as atividades de Tamerlan Tsarnaev. "Isso era suficiente para agir", argumenta.

Num relatório interno, o FBI reclama que estava de mãos atadas para fazer uma investigação mais detalhada, devido a normas do Departamento de Justiça e às leis federais, escreveu o jornal. McNamara contesta esse argumento. "O problema não era agir, mas compartilhar", diz o especialista, que considera o FBI o serviço menos disposto a compartilhar informações.

A maratona continua

No dia 21 de abril começam os preparativos para a próxima maratona de Boston. Será a maior e também a mais segura edição da corrida em 118 anos: foram convocados cerca de 3,5 mil policiais, mais que o dobro do ano passado. Pontos de controle com detectores de metais, cães farejadores de bombas e centenas de câmeras de vigilância farão parte do esquema de segurança.

O processo contra Dzhokhar Tsarnaev deve começar em novembro. O jovem de 20 anos está ameaçado de pena de morte. Seu irmão mais velho, Tamerlan, de 26 anos, morreu quatro dias após o ataque durante um tiroteio com a polícia.