Em busca de obras usurpadas pelos nazistas
25 de junho de 2003Esclarecer o destino de obras de arte e outros objetos de valor cultural desaparecidos de museus, bibliotecas e outras instituições públicas durante a Segunda Guerra Mundial, bem como a proveniência de bens culturais que pertencem ao acervo dessas instituições e têm origem duvidosa é a tarefa a que se dedica, desde 1998, o Departamento de Coordenação de Perdas Culturais, sediado em Magdeburg.
O site na internet — www.lostart.de ("arte perdida") —, instalado em abril de 2000, já foi consultado mais de dez milhões de vezes. Quase sempre são museus, arquivos, bibliotecas e casas de leilão tais como a Christie's e a Sotheby's que recorrem a ele regularmente.
Há dois anos, porém, seus serviços estão à disposição também de particulares. Para decepção de Michael Franz, diretor do departamento — uma iniciativa conjunta do governo federal e dos estados alemães —, foram registradas até agora apenas 50 consultas particulares, quase sempre famílias judaicas que tiveram obras de arte confiscadas pelos nazistas. "Nós tínhamos contado com muito mais", lamenta Franz.
Mais de três milhões de objetos perdidos
O arquivo do departamento registra cerca de 3,5 milhões de objetos culturais que não retornaram às instituições às quais pertenciam e das quais tinham sido retiradas durante a Segunda Guerra a título de resguardo, ou desapareceram dos acervos quando o conflito terminou. Cerca de 300 museus, arquivos e bibliotecas da Alemanha sentem falta de parte de seu acervo.
Dos objetos catalogados, 46 mil compõem o Lost Art Database, o banco de dados na internet, que contém descrição e informações detalhadas — de pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, documentos, livros, armas e outros bens valiosos desaparecidos.
De outro lado, existe um número desconhecido de objetos que passaram a compor o acervo de instituições públicas depois de confiscados de famílias judaicas pelos nazistas. Museus e bibliotecas, não só da Alemanha, recorrem ao serviço em Magdeburg, na tentativa de esclarecer a proveniência de bens de origem suspeita.
São inúmeros os exemplos em que o Departamento de Coordenação conseguiu localizar herdeiros de famílias que tiveram obras de arte confiscadas ou roubadas, contribuindo para que estas fossem devolvidas a seus legítimos donos. Mas "nós não somos uma instância jurídica", faz questão de acentuar Michael Franz. Mesmo porque a maioria dos roubos já prescreveram.
De qualquer forma, para o diretor da entidade, "o sucesso do Departamento de Coordenação não pode ser medido pelo número de objetos de arte devolvidos". O próprio banco de dados é um sucesso, afirma, por ser expressão de um compromisso político.