Em busca de um futuro renovável
24 de maio de 2004A “Renováveis 2004” (Renewables 2004), como será chamada, deverá reunir entre os próximos 1º e 4 de junho cerca de 1500 participantes, vindos dos quatro cantos do planeta. Em uma das maiores conferências sobre o assunto, especialistas irão discutir como o uso das energias eólica, solar e hidrelétrica poderá ser ampliado.
Segundo o premiê alemão, Gerhard Schröder, a Alemanha pretende “transformar a já bem sucedida cooperação neste setor com países em desenvolvimento em uma parceria estratégica”.
Bloqueio em Johanesburgo
Durante a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, realizada em setembro de 2002, em Johanesburgo, a União Européia havia sugerido o estabelcimento de uma clara meta: aumentar em 15% o consumo de energias renováveis até 2010. A proposta esbarrou na resistência de países como EUA, Arábia Saudita e Austrália, que rejeitaram com veemência a idéia.
Como resposta ao bloqueio, o governo alemão resolveu convidar as nações simpáticas às propostas da UE para a “Renováveis 2004”, além de ter formado, juntamente com outros países, a Coalizão pelas Energias Renováveis de Johanesburgo (JREC), que já conta com 87 membros. Muitos destes são pequenas nações, que se sentem afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas.
Forma de evitar mortes e acidentes
“Hoje, 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso à energia, principalmente à eletricidade. Estas pessoas suprem suas necessidades através da queima de madeira. Isso acarreta sérios riscos para a saúde, pois nos países em desenvolvimento é comum que se queime a madeira em fornos não apropriados. Diante disso, o acesso à energia de uma maneira não nociva ao meio ambiente deve ser visto como um tema de suma importância”, observa Norbert Gorissen, do Ministério alemão do Meio Ambiente.
Nos países em desenvolvimento, 1,6 milhão de pessoas morrem a cada ano em conseqüência da poluição ambiental causada pela queima da madeira como combustível. Isso corresponde praticamente ao número de vítimas da malária em todo o mundo, por exemplo. “Nossos especialistas estimam que as mulheres africanas carregam mais madeira nas costas do que os caminhões no continente”, explica Manfred Konukiewitz, do Ministério alemão do Desenvolvimento e Cooperação Econômica.
Preço do petróleo nas alturas
Não só nos mais longínquos recantos do planeta, mas também onde a eletricidade a partir de combustíveis fósseis já é utilizada, as energias eólica, solar e hidrelétrica deveriam ser consideradas uma alternativa. Principalmente considerando que vários países em desenvolvimento dependem do petróleo, cujo preço tende a subir consideravelmente. “Isso significa um aumento sensível das despesas desses países com a compra do combustível”, conclui Konukiewitz.
O premiê Gerhard Schröder havia prometido, durante a Conferência de Johanesburgo em 2002, que o governo alemão iria destinar a partir de então 500 milhões de euros anuais para incentivar o uso de energias renováveis. Para isso, contudo, não fluíram novas verbas dos caixas oficiais. Recursos já pré-destinados para o setor receberam apenas uma nova etiqueta. Mesmo assim, o governo alemão pode se gabar de alguns projetos pioneiros no que diz respeito às energias renováveis, como por exemplo na criação de parques de energia eólica.
Crescimento do setor
Os frutos de tal política surtiram efeitos positivos também para o empresariado do país. “Recebemos pedidos de informação do Paquistão, das Filipinas, Indonésia, Equador, entre outros. A questão é saber se e com que alcance devemos responder a toda essa demanda.
Se por um lado é necessário verificar as condições diretamente no local, por outro é preciso que haja a garantia de financiamento, uma política favorável e o desejo de que as energias renováveis sejam mesmo implementadas”, diz Felix Osada, assessor de imprensa do fabricante alemão de moinhos de vento Nordex.
Apenas a vontade política de criar um mercado para as energias renováveis não basta para implementar o seu uso. Um planejamento cuidadoso a longo prazo é essencial.
Se por um lado as energias renováveis não são onerosas, como as dependentes dos combustíveis fósseis como carvão ou petróleo, os investimentos necessários para a construção de moinhos de vento, turbinas de água ou painéis solares são consideravelmente altos.
“Vocês querem vender lixo para nós”
“Certamente a Alemanha serviu de exemplo para outros países. Sem o desenvolvimento de energia eólica no país, não iria haver no Brasil ou na França nenhuma espécie de incentivo para o setor. Antigamente, eu tentei atrair o Brasil para o uso de energia eólica, mas a reação era sempre a de que estávamos querendo vender nosso lixo para eles, pois nós mesmos não fazíamos uso dessa energia”, conta Jan Peter Molly, diretor do Instituto Alemão de Energia Eólica Dewi.
Há uma década, no entanto, o país já pode comprovar experiência própria, com 15 mil turbinas espalhadas pelo país, perfazendo um total de 6% do consumo energético total. Ainda pouco, mas a caminho.