Direitos Humanos
10 de novembro de 2011O projeto da Deutsche Welle pretendia destacar as necessidades básicas do ser humano: o direito a condições dignas de trabalho, à alimentação e à moradia. A ideia inicial era abordar o tema sob o aspecto das transformações globais, colhendo testemunhos in loco, sem, contudo, chegar aos poderosos nem se confrontar com eles.
Foi quando começaram os tumultos no mundo árabe, com uma população clamando por mais justiça, que não podia ser ignorada. Anna Würth, do Instituto Alemão de Direitos Humanos, de Berlim, relata o quanto as revoltas no Egito têm a ver com a negação, por parte do Estado, do direito de moradia aos jovens do país.
O direito de se reunir, destacado no Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, com o mandato de um relator especial, ganhou também atualidade. Os direitos humanos econômicos, sociais e culturais – e a estes pertence a escolha individual – não podem ser garantidos sem as liberdades de reunião, opinião e imprensa.
Parte da dinâmica
Quando os primeiros repórteres da DW saíram em busca da apuração do tema, ficou de imediato claro: simplesmente descrever as condições de trabalho muitas vezes já envolve perigo. Uma entrevistada de Dresden, por exemplo, temia as consequências de seu depoimento: ela não queria ser reconhecida.
A entrevista, em plena Alemanha, só foi concedida sob a condição de que sua voz, nas gravações, não fosse reconhecida. Ela tinha medo de perder o emprego em um call center da cidade.
Observadores vivem perigosamente
As pesquisas sobre as condições de trabalho em uma usina de processamento de sucata na Índia também teve suas peculiaridades. As pessoas de contato ali dentro trabalham secretamente para ONGs e sindicatos. Logo, a DW teve que abdicar de fotos. Isso seria muito perigoso para os interlocutores. Eles poderiam sofrer dificuldades, perder o emprego ou até mesmo ser presos.
Também com muita cautela agiu outro repórter, que apurou as condições de trabalho na Rússia. Mesmo assim, ele acabou sendo detido nas proximidades de uma mina de carvão. O incidente fez com que se desistisse de tratar do assunto sob "uma perspectiva subterrânea" em uma mina da Sibéria, como havia sido originariamente previsto.
De guarda-costas no local da entrevista
Mais dramática ainda foi a situação na Colômbia. Antes da pesquisa planejada, quatro estudantes foram mortos, exatamente quando tentavam documentar o destino dos desterrados da região para onde seguiria o repórter da Deutsche Welle.
Em meio a várias dificuldades, acabou sendo organizado um encontro com um ativista dos direitos humanos, aliado de um programa de proteção de testemunhas do Estado. Ele apareceu para conceder a entrevista com guarda-costas, em um café de Medellín. Durante a conversa, os interlocutores tiveram que trocar de mesa várias vezes.
Para um amigo e cúmplice do nosso entrevistado, o dia acabou, contudo tragicamente. David Jesus Góes, um ativista dos direitos humanos de 70 anos, foi assassinado a queima-roupa em um café na mesma tarde na cidade. Góes lutava na Justiça pelo direito de 120 famílias colombianas que haviam sido expulsas de suas casas, em Urabá, por criminosos ligados ao narcotráfico.
Mídias digitais precisam de energia
Outras dificuldades permearam o trabalho do repórter da Deutsche Welle no Senegal: durante dias a fio, faltou energia elétrica, o celular só funcionava de vez em quando e a apuração das informações foi consideravelmente difícil. Além disso, problemas com o computador trouxeram ainda mais problemas.
No fim das apurações, os repórteres dividiam pelo menos uma opinião: ao noticiar sobre os direitos humanos – sob a perspectiva econômica, social ou cultural – o jornalista não permanece na condição de mero observador. Queira ou não queira, ele passa a ser parte da realidade das pessoas sobre as quais relata.
Autora: Ulrike Mast-Kirschning (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer