Em dia tenso, governo argentino negocia para evitar novo calote
30 de julho de 2014A Argentina enfrenta nesta quarta-feira (30/07) uma corrida contra o tempo para evitar o que pode ser o segundo calote do país nos últimos anos. Para isso, precisa chegar a um acordo com os detentores de títulos da dívida antiga (que em 2001 o país anunciou que não pagaria), que entraram na Justiça para receber o valor integral dos papéis.
Nesta quarta-feira, a delegação do governo da Argentina, liderada pelo ministro da Economia Axel Kicillof, volta a se reunir com os principais detentores de bônus da dívida antiga, depois de um primeiro encontro nesta terça-feira, em Nova York.
Após mais de cinco horas de reunião, Kicillof deu uma breve declaração à imprensa, visivelmente cansado, e assegurou que a negociação da dívida está em andamento. "Seguimos trabalhando com toda a seriedade que a questão exige", assegurou o ministro, que lamentou não poder adiantar os resultados da reunião porque as negociações continuam.
Kicillof incorporou-se às negociações por volta das 18h, hora local de Nova York, depois de voltar de Caracas. A reunião, que havia começado às 11h, ocorreu no escritório do mediador Daniel A. Pollack, nomeado pelo juiz instrutor do caso, Thomas Griesa.
Em comunicado, Pollack afirmou que o primeiro encontro cara a cara entre as duas partes foi um "intercâmbio franco de pontos de vista e preocupações" e que "os assuntos que as dividem continuam irresolutos", motivo pelo qual as discussões prosseguirão nesta quarta-feira.
À meia-noite, encerra-se o prazo para que se chegue a um acordo, permitindo o pagamento de bônus aos detentores da dívida reestruturada. A falta de um acordo pode levar ao chamado calote técnico.
Depois de um pedido de embargo apresentado pelos credores ao juiz Griesa, o dinheiro que a Argentina transferiu para os Estados Unidos para um pagamento da dívida reestruturada, e que tinha de ser pago até ao dia 30 de junho, foi bloqueado.
A Argentina negocia com fundos de investimento – conhecidos no mercado como holdouts, mas chamados pelos argentinos de abutres – que não aceitaram as propostas de reestruturação da dívida feitas pelo governo argentino entre 2005 e 2010 e ainda detêm títulos da dívida antiga, anterior ao calote de 2001.
Esses fundos recorreram à Justiça de Nova York para receber o valor integral dos papéis, algo em torno de 1,33 bilhão de dólares. O governo argentino argumenta que não pode pagá-los porque títulos da dívida reestruturada contêm a chamada cláusula Rufo, que, até o fim deste ano, impede acertar com credores um acordo melhor do que o obtido pelos que concordaram com a reestruturação.
O governo argentino argumenta que, caso ofereça melhores condições aos credores antigos, os que toparam a reestruturação também podem fazer exigências, elevando a dívida do país a um valor impagável.
Solidariedade do Mercosul
Os países que integram o Mercosul demonstraram solidaridade à Argentina, que também é membro do bloco, por causa das dificuldades que o país enfrenta. Em comunicado, o Mercosul exortou a comunidade internacional a se pronunciar sobre a situação.
Para o bloco, a forma de agir dos fundos holdout impede que credores e devedores cheguem a acordos definitivos, pondo em risco futuras reestruturações de dívida soberana e, assim, a estabilidade do sistema financeiro internacional.
AS/dpa/rtr/lusa