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Em discurso nos EUA, Macron alerta contra nacionalismo

25 de abril de 2018

Presidente francês usa raro discurso no Congresso americano para atacar o isolacionismo. Líder também ressalta importância do Acordo de Paris sobre o clima e alerta contra ameaça de guerra comercial.

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O presidente francês, Emmanuel Macron, em discurso perante os legisladores americanos em 25 de abril de 2018
O presidente francês, Emmanuel Macron, em discurso perante os legisladores americanosFoto: Reuters/A. Bernstein

Em discurso no Congresso dos Estados Unidos, o presidente da França, Emmanuel Macron, fez um alerta nesta quarta-feira (25/04) contra o nacionalismo e o isolacionismo, reforçando aos legisladores americanos que desafios econômicos e de segurança devem ser compartilhados com outros países.

"Podemos escolher o isolacionismo, a retração e o nacionalismo, mas fechar as portas para o mundo não vai parar sua evolução", disse o líder francês em Washington, um dia após ter se reunido com o presidente Donald Trump – que defende uma política de America First ("EUA em primeiro lugar").

Leia também: Trump, a aposta perigosa de Macron

Macron, que faz sua primeira visita oficial aos EUA, disse que os americanos e europeus estão "vivendo num momento de raiva e medo" sob ameaças globais, e concordou que o isolacionismo e o nacionalismo parecem "remédios tentadores para esses medos".

"Esses sentimentos, porém, não constroem nada. A raiva apenas nos paralisa e nos enfraquece", afirmou o presidente francês, defendendo o engajamento internacional como única solução.

Macron ainda pediu o envolvimento de Washington na construção dessa união global. "O papel [dos EUA] foi decisivo para criar e preservar o mundo livre de hoje. Os EUA inventaram o multilateralismo. Vocês precisam agora ajudar a preservá-lo e reinventá-lo", frisou ele.

Após a visita de Estado que mostrou harmonia entre Macron e Trump, o presidente francês admitiu que provavelmente não conseguiu persuadir Donald Trump a manter o acordo nuclear com o Irã, um de seus principais objetivos com a viagem. "A minha impressão - eu não sei o que o seu presidente vai decidir - é que ele vai se livrar do acordo por conta própria, por razões internas", disse Macron a jornalistas americanos pouco antes de deixar Washington.

Comércio

O líder também falou sobre a importância de um comércio global que seja livre e justo, alertando contra a ameaça de uma "guerra" comercial entre países que são aliados de longa data.

O discurso de Macron no Congresso dos EUA

As tarifas americanas à importação de aço e alumínio europeus devem entrar em vigor nas próximas semanas, a menos que Trump concorde em prolongar uma isenção à União Europeia (UE). Caso contrário, o bloco ameaçou retaliar os EUA, impondo taxas sobre uma série de mercadorias americanas, o que eleva os temores de uma guerra comercial.

"Precisamos de um comércio livre e justo, com certeza", afirmou Macron. "Uma guerra comercial que opõe nações aliadas não é coerente com a nossa missão, com a nossa história, com nossos compromissos atuais de segurança global."

Clima

A política ambiental é um dos temas de maior divergência entre Paris e Washington. Em discurso no Congresso, Macron disse que tal desavença se tratou apenas de um "desentendimento de curto prazo" e afirmou estar confiante de que os EUA voltarão ao Acordo de Paris sobre o clima.

"Vamos trabalhar juntos para tornar nosso planeta grande novamente e para criar novos empregos e novas oportunidades enquanto protegemos nossa Terra", disse o presidente, em referência a um lema da campanha de Trump, que prometeu "tornar os EUA grandes novamente".

Segundo Macron, se as temperaturas globais continuarem aumentando devido às mudanças climáticas, "não existe um planeta B".

Em junho de 2017, Trump anunciou que decidiu retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, justificando que o foco de seu governo é a criação de empregos. Assinado em 2015 por quase 200 países, o tratado prevê a redução das emissões de gases do efeito estufa, na tentativa de frear o aquecimento global.

Relações entre EUA e França

Macron iniciou seu discurso no Capitólio lembrando o "vínculo especial" que Paris e Washington vêm carregando durante todos os seus anos de história. Ao recordar os laços comuns entre os dois países, que remontam à fundação dos EUA, o presidente francês lembrou um encontro entre o escritor e diplomata americano Benjamin Franklin e o filósofo francês Voltaire, em que eles "beijaram as bochechas um do outro".

Macron e Trump: uma história de amor

Em aparente referência à sua amistosa reunião com Trump na véspera, ele afirmou: "Isso pode lembrá-los de algo." O encontro na terça-feira foi marcado por passeios de mãos dadas, beijos, abraços e até um carvalho plantado.

O discurso de Macron nesta quarta-feira marcou a primeira vez que um líder da França se dirigiu ao Congresso americano em mais de uma década, apesar de seguir a tradição de líderes estrangeiros que costumam fazer uma aparição no Capitólio.

Entre os assuntos discutidos por Macron e Trump na terça-feira estiveram o futuro do acordo nuclear iraniano, uma presença ampliada das tropas dos Estados Unidos na Síria, o acordo do clima de Paris e as tarifas americanas para importação de aço e alumínio.

O tema central, contudo, foi o acordo nuclear firmado em 2015 entre Irã, Estados Unidos, França, China, Reino Unido, Rússia e Alemanha, o qual Trump ameaça abandonar. No encontro, ambos os líderes defenderam a negociação de um pacto mais amplo com Teerã, que envolva outras preocupações americanas e europeias. O governo iraniano rejeita alterações no acordo.

EK/afp/ap/dpa/rtr

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