Em Lima, conferência do clima se aproxima do final em tom otimista
12 de dezembro de 2014Políticos, técnicos, observadores, ambientalistas e até jornalistas concordam: há algo de diferente na 20ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 20) em Lima, muito diferente dos encontros realizados nos últimos anos. "O otimismo pode ser visto em todas as partes, em todas as conversas", comenta Christoph Bals, da organização ambientalista alemã Germanwatch.
O motivo do bom humor generalizado é a perspectiva de um novo acordo sobre o clima, com o apoio de todos os quase 195 países das Nações Unidas, a ser definido na próxima conferência em Paris, em 2015. "Não sei de nenhum país que, em princípio, não queira o acordo", afirma o vice-ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Jochen Flasbarth.
EUA e China impulsionam avanços
Foram justamente os Estados Unidos e a China – de longe, os dois maiores emissores dos gases causadores do efeito estufa em todo o mundo – que deflagraram a onda de otimismo. Há poucas semanas, o presidente Barack Obama e seu colega Xi Jinping apresentaram juntos em Pequim suas novas metas de proteção climática, ainda que bem diferentes.
Os EUA almejam reduzir em 27% as emissões no período de 2005 a 2025, enquanto a China prometeu diminuir significativamente as emissões de dióxido de carbono a partir de 2030. A meta chinesa parece pouco ambiciosa, mas, ainda assim, é crucial, segundo muitos especialistas. Os dois países que, por muito tempo, emperraram as negociações sobre o clima na ONU agora se comprometem a agir.
E ambos querem o novo acordo sobre o clima, que substituirá o Protocolo de Kyoto a partir de 2020. No acordo, 38 países ricos se comprometeram a reduzir em torno de 5% as emissões de gases do efeito estufa. A maioria não conseguiu cumprir a sua parte – a Alemanha foi uma das poucas nações a atingir a sua meta.
O novo acordo deverá levar em conta as mudanças geopolíticas desde 1990 até os dias de hoje. Grandes economias emergentes, como o Brasil, a Índia e a África do Sul, que não tinham obrigações no Protocolo de Kyoto, deverão agora contribuir no combate às mudanças climáticas. Isso inclui também a China, que, há vinte anos, quando o protocolo foi lançado, ainda era considerada uma nação em desenvolvimento.
Mas a China vai mesmo fazer a sua parte? Justamente porque Pequim decidiu agir, a pressão aumenta ainda mais. "A China e os EUA devem se esforçar mais", analisa o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Gerd Müller, que fez uma breve passagem por Lima. "Isso ainda não é suficiente. Os EUA, em especial, devem se aproximar do nível europeu." Esse nível é alvo de muitas críticas na Europa, uma vez que as metas se mantêm estagnadas há anos.
Mas, internacionalmente, os europeus ainda estão à frente. A meta de reduzir em 40% as emissões de gases do efeito estufa entre 1990 e 2030 não é viável para os EUA, apesar de os americanos estarem reduzindo suas emissões por causa do boom do gás de xisto, menos poluidor.
Esperanças para o Fundo Verde do Clima
Pequim não quer assumir mais nenhum compromisso além de atingir o teto de emissões em 2030. Resta saber se isso será suficiente para os países mais pobres, que também devem aprovar o novo acordo. Eles esperam, como sempre, por mais recursos. Mas há razões para que se mantenham otimistas. O novo Fundo Verde do Clima, que arrecada recursos financeiros para projetos ambientais nos países em desenvolvimento, atingiu volume superior a 10 bilhões de dólares.
Com a promessa de doações da Austrália e da Bélgica, o fundo deverá ultrapassar esse importante marco simbólico. A Alemanha, que contribuiu com 1 bilhão de dólares, realizou há poucas semanas uma decisiva conferência em Berlim para arrecadar doações. Em Lima, a atitude rendeu aos alemães elogios especiais do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Os EUA e a China não veem com bons olhos o fato de que suas metas para o clima serão analisadas por especialistas no próximo ano, antes de serem incluídas no acordo de Paris. Mas sobretudo os europeus consideram isso de suma importância. Ainda resta uma clara desconfiança quanto a esses dois países. Muitos duvidam que os dois maiores poluidores do mundo vão mesmo se tornar, da noite para o dia, defensores do meio ambiente.