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Em meio à violência da guerra, rádio online leva esperança aos sírios

Jan Bruck (mas)29 de julho de 2013

Repórteres voluntários relatam sobre a vida cotidiana em cidades sírias e abordam temas como discriminação das mulheres e traumas psicológicos. Hackers tentam calar essa voz de resistência.

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Foto: baladna.fm

A rádio online Baladna FM já foi atacada uma vez. Hackers invadiram o banco de dados interno da emissora e destruíram todo o arquivo: músicas, matérias, reportagens. "Tivemos que recomeçar do zero", conta o fundador Monis Bukhari, de 35 anos.

Agora, a Baladna FM opera a partir de um servidor que copia todo o conteúdo para um segundo disco rígido. Assim ha sempre uma cópia de todo o material, que pode ser recuperado em caso de invasão. Tentativas de ataques de hackers ao servidor continuam ocorrendo diariamente.

Cotidiano de guerra

A sede da Baladna FM fica numa casa em Amã, capital da Jordânia. Bukhari, de origem síria, vive com a esposa e a filha de 6 anos no local. De lá, ele coordena o trabalho de cerca de cem repórteres voluntários. Muitos deles vivem na Síria, outros em Amã ou mesmo em Amsterdã.

baladna.fm (Screenshot)
Site da rádio é alvo constante de hackersFoto: baladna.fm

Eles enviam suas matérias pela internet, e Bukhari as apresenta nos programas da rádio. Devido às constantes quedas de energia e ao difícil acesso à internet, os voluntários na Síria chegam a percorrer distâncias de até 100 quilômetros para enviar o material à emissora, conta o fundador da rádio.

Baladna significa "nosso país". A emissora narra histórias cotidianas de um país pouco a pouco arrasado por uma interminável guerra civil. Até mesmo agora, durante o mês sagrado do Ramadã, as lutas continuam.

Como é o dia a dia das pessoas em Damasco, Aleppo ou Homs? Bukhari e seus colegas buscam responder a essa pergunta. A situação para os sírios segue desastrosa. Segundo a ONU, quase 7 milhões deles dependem de ajuda humanitária, sendo quase a metade crianças. As quedas de energia são frequentes no país. "Nós não precisamos dizer às pessoas que elas estão em uma guerra. Disso elas já sabem", diz Bukhari.

Manter a esperança

Entre os temas abordados pela Baladna FM estão criminalidade armada, como lidar com traumas psicológicos e até dicas para educação infantil. Tembém ganham destaque os direitos das mulheres, um grande problema no país. Uma das repórteres da rádio produz regularmente um podcast no qual relata suas experiências com a discriminação das mulheres na Síria. Ela prefere não assinar as reportagens e permanecer anônima.

"As mulheres são uma parcela invisível da nossa sociedade", diz Bukhari. "A grande mídia não fala sobre elas. Nós discutimos seus problemas, suas necessidades e experiências."

Em janeiro de 2013, o repórter alemão Kai Schächtele, presidente da Associação de Jornalistas Freelancers na Alemanha, viajou a Amã para ajudar na construção de uma associação dos jornalistas sírios. Na ocasião, conheceu Bukhari.

Syrien Radio baladna.fm
Bukhari luta por uma Síria melhorFoto: Monis Bukhari

"O projeto da rádio me consquistou desde o primeiro momento. Quando as revoltas começaram na Síria, Monis queria criar algo que pudesse manter a esperança e a vontade de sobreviver do povo sírio", diz Schächtele. "Quem procura por notícias não deve ouvir a Baladna FM", completa, destacando que a rádio online emite opiniões e observações pessoais de seus repórteres voluntários.

Riscos para os repórteres

É perigoso colaborar com a Baladna FM. Alguns repórteres foram presos na Síria por envolvimento com a rádio. Um deles foi assassinado, e Bukhari está convencido de que sua morte está relacionada ao trabalho para a emissora.

"Foi um dia horrível para todos nós", diz o líder da rádio, com a voz abalada. "Mas acreditamos em nosso projeto. Somos umas das poucas vozes públicas na Síria que fazem campanha pelo fim da violência. Queremos lembrar as pessoas de que existe vida sem violência."

O conteúdo da Baladna FM pode ser ouvido no site da rádio ou através de serviços como Soundcloud ou Voscast. Como a rádio é bloqueada na Síria, os ouvintes têm que achar maneiras alternativas para ouvi-la na internet. O conteúdo é compartilhado diariamente por até 10 mil pessoas. A maioria dos ouvintes são jovens entre 20 e 35 anos, que vivem na Síria ou na Arábia Saudita.

Na mira dos hackers de Assad

O sucesso da rádio também gerou inimigos. Por trás dos constantes ataques de hackers há um grupo simpatizante do regime do presidente Bashar al-Assad. A organização se denomina Syrian Electronic Army (Exército Eletrônico Sírio) e tem como objetivo silenciar a fragmentada oposição síria na internet. De acordo com estimativas da OpenNet Initiative, mais de 10 mil hackers pertencem ao grupo.

Em maio deste ano, o jornal americano International Herald Tribune relatou que parte dos ataques também poderia vir de computadores russos. No passado, o Syrian Electronic Army também atacou meios de comunicação ocidentais, como o blog e a conta no Twitter do jornal The Financial Times, sediado em Londres.

A organização hacker é uma velha conhecida de Bukhari. Em 2011, ele teve que fugir da Síria. O regime acreditava que ele trabalhava como espião para países ocidentais. Na época, Bukhari trabalhava como fotojornalista para veículos como o americano Los Angeles Times. Após ele deixar o país, os hackers invadiram seu site pessoal e sua conta no Facebook.

O jornalista gostaria de voltar para a Síria o mais rápido possível, mas o retorno seria muito arriscado. Bukhari vê seu trabalho em Amã como uma contribuição para o futuro de seu país. "Espero que um dia minha filha possa viver em uma Síria melhor", diz.