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Em posição ingrata, goleiros são heróis e vilões

Marcela Mourão30 de junho de 2006

A Copa do Mundo está na fase que inclui prorrogação e pênaltis. É aí que entra a competência dos goleiros. E quando o assunto é este, as polêmicas surgem. O titular merece estar em campo? O reserva é mais eficiente?

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Cara fechada e frustração são as marcas de Kahn nesta CopaFoto: picture-alliance/dpa

As reclamações de Oliver Kahn por ser o segundo goleiro da Alemanha refletem a frustração de estar na condição de reserva em uma Copa do Mundo. Mas enquanto jogadores de linha que ficam no banco têm chances de entrar durante as partidas, o goleiro reserva pode apenas esperar por um erro catastrófico do colega titular ou, pior, uma lesão, para poder ter esperanças de participar da competição.

Kahn tem mantido uma expressão rabugenta no banco de reservas durante os jogos da seleção alemã e tem que engolir o fato de que seu substituto nesta Copa, Jens Lehmann, sofreu apenas dois gols nos quatro jogos do time.

"Eu já disse claramente a ele [o técnico Jürgen Klinsmann] que nunca vou compreender por que eu não sou mais o número um", disse Kahn. Na Copa de 2002 ele foi eleito o melhor jogador do campeonato, apesar da derrota para o Brasil na final por 2 a 0 com direito a um "frango" do alemão.

Indignação

Fußball, WM 2006, Elfmeter von David Villa verwandelt. 27.06.2006
Barthez é o número 1 para desespero de CoupetFoto: picture-alliance/dpa

O francês Gregory Coupet também se vê na situação de segundo goleiro, sombra do já envelhecido Fabien Barthez. Longe de se sentir satisfeito, aos 33 anos e cinco vezes campeão nacional com o Lyon, tem reivindicações justificáveis para ser o número um nesta Copa.

"Eu espero receber explicações, porque quando me disseram que eu não seria o titular eu não pensei em ficar perguntando o porquê", disse Coupet. "Eu tenho razão para me se sentir incomodado, não tenho?"

Sua incomodação, inclusive, mostrou seu pior lado quando, em maio, deixou a concentração de treinamento, fez as malas e foi embora. Voltou apenas após ser persuadido pelo preparador físico do seu clube, que também faz parte da comissão técnica da seleção francesa.

Dida ou o recordista Ceni?

WM 2006 Brasilien Dida
Parreira não abre mão de Dida e não liga para pressãoFoto: picture-alliance/dpa

Na cabeça do técnico da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira, essa dúvida não existe. O goleiro do Milan, Dida, sempre foi o favorito do treinador. No entanto, nesta Copa, percebe-se uma corrente forte que pede sua susbtituição por Rogério Ceni.

O goleiro do São Paulo tem se destacado já há alguns anos e teve, em 2005, talvez seu melhor momento ao ser eleito o melhor jogador do mundial interclubes no Japão. Além disso, no Brasileirão, ficou entre os artilheiros da competição.

Seu diferencial? Na história do futebol mundial, é o goleiro que mais marcou gols. Somente com o clube paulista, tem contabilizados 35 gols em cobranças de bola parada e nove em pênaltis.

No jogo contra o Japão, na primeira fase, Parreira colocou Ceni para jogar nos minutos finais. Mas nada que pudesse alimentar a expectativa da ala contrária a Dida.

Melhor momento

Fußball, WM 2006, England - Trinidad Tobago, 15.06.2006
Hislop foi herói contra Suécia, mas não conseguiu para inglesesFoto: AP

Às vezes, porém, o segundo goleiro consegue se sobressair, como é o caso de Shaka Hislop, de Trinidad e Tobago. Com sua atuação, o time conseguiu segurar um empate em 0 a 0 contra a Suécia na primeira fase da competição. Resultado que foi considerado uma vitória pela equipe e torcedores.

Mas a história das Copas reserva o maior momento de um goleiro reserva, em 1990, na Itália, quando o argentino Sergio Goycochea acabou se destacando na competição. O jogador viu sua chance de jogar quando Nery Pumpido sofreu uma fratura no primeiro jogo da Argentina, contra Camarões.

O que Maradona foi para a seleção em 1986, Goygochea foi na Copa de 90, principalmente nas espetaculares defesas de pênaltis contra a então Iugoslávia, nas quartas-de-final. No entanto, não foi capaz de impedir o chute certeiro de Andreas Brehme na vitória da Alemanha Ocidental durante a final.

Que venham os pênaltis e o tetra é nosso

Fußball Brasilien WM 1998 Torwart Taffarel
Taffarel é o goleiro que mais atuou pela seleção brasileiraFoto: AP

Cláudio André Mergen Taffarel jamais será esquecido, nem mesmo pelos seus impetuosos críticos. Conhecido como pegador de pênaltis, foi um dos heróis do tetra de 1994, ao defender o chute de Massaro durante as cobranças na final contra a Itália.

Na Copa seguinte, em 1998, novamente foi salvador ao pegar pênaltis de Cocu e Ronald de Boer na partida contra a Holanda, garantindo a presença do Brasil na final contra a França.

Especialista no assunto, ele deixa a dica para os goleiros: "Meu conselho é tentar sair junto com a bola; junto com a batida do jogador, ficar em pé o máximo possível e só se mexer quando partir a cobrança. Em pé, parado, você confunde o batedor que fica na dúvida para qual canto você [goleiro] vai cair", explicou em entrevista concedida ao site esportivo Globo Esporte.

Pela seleção, Taffarel tem o maior número de jogos de um goleiro da história, com 101 aparições. Outro triunfo foi também ter jogado as edições das Copas de 90 a 98. Taffarel sofreu 15 gols enquanto defendia o Brasil em jogos das Copas do Mundo.

Rapidinhas

Para não cair no esquecimento, vale lembrar alguns goleiros que se destacaram em defesas, ou, simplesmente pela excentricidade.

1966 – Gordon Banks ajudou a Inglaterra a ser campeã e, em 1970, defendeu uma cabeçada incrível de Pelé.

1966 – Considerado um dos melhores goleiros brasileiros, Manga acabou fazendo uma péssima Copa.

1982 – Sem tradição no futebol, a ex-União Soviética se destacou pela atuação do goleiro Rinat Dasaev.

1986 – Peter Shilton esperou anos para ser o titular do gol inglês. Sempre foi lembrado por suas boas atuações, mas infelizmente o que mais fica na lembrança foi o gol sofrido pela "mão de Deus" de Maradona.

1990 e 1994 – Colombiano Higuita estava mais preocupado em dar show do que fazer defesas. Virou personagem cômico das duas Copas.

1994 e 1998 – Mexicano Jorge Campos chamava atenção pela sua estatura (1,75m – baixo para os padrões internacionais) e pelas camisas de cores berrantes que usava nos jogos. Além disso, gostava de dar uma de atacante. Marcou 31 gols em cobranças de faltas e fica atrás somente de Ceni, neste fundamento.