Em Viena, potências globais esboçam plano de paz para Síria
15 de novembro de 2015Chefes de diplomacia e outros altos representantes de 17 países do Ocidente e do Oriente Médio desenvolveram um plano para o fim do conflito e uma transição política na Síria, em encontro realizado em Viena, neste sábado (14/11) – dia seguinte à série de atentados reivindicados pelo grupo jihadista "Estado Islâmico" (EI), que mataram 129 pessoas em Paris.
Um primeiro tópico será obter um cessar-fogo na guerra civil no país, medida que, segundo o secretário de Estado americano, John Kerry, não incluirá o EI. Além disso, pretende-se que oposicionistas sírios e o governo do presidente Bashar al-Assad cheguem ao diálogo 1º de janeiro de 2016.
A Rússia e os Estados Unidos aparentemente deixaram de lado seu desacordo de longa data quanto ao destino de Assad. Enquanto o Ocidente e seus aliados exigem que ele entregue o cargo, Moscou e Teerã são a favor de eleições nas quais o atual presidente poderia concorrer.
"Nós ainda discordamos, obviamente, na questão de o que acontecerá com Bashar al-Assad", admitiu Kerry. "Mas estamos confiando no processo político em si, conduzido pelos sírios, que prosseguirá avançando: confiamos que isso fechará esse terrível capítulo."
Discordâncias postas de lado
Além das duas potências, também estiveram presentes à reunião na capital austríaca os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, França e Reino Unido), a Arábia Saudita, o Irã e a Turquia.
Mais de 250 mil pessoas já foram mortas na Síria durante os quatro anos de embates entre as tropas pró-Assad e diversos grupos armados, muitos dos quais são apoiados por forças estrangeiras.
No documento conclusivo, os participantes do encontro diplomático em Viena se comprometeram a "tomar todos os passos possíveis" para assegurar o respeito ao cessar-fogo, dando seu apoio a "um processo que, no prazo de seis meses, estabelecerá uma governança com credibilidade, inclusiva e não sectária, e definirá um cronograma e o processo para se esboçar uma nova Constituição". Um próximo passo serão eleições supervisionadas pela ONU, "dentro de 18 meses".
Membros da oposição síria entrevistados pela agência de notícias AFP mostraram-se divididos em relação ao plano de Viena: enquanto alguns reagiram com otimismo cauteloso, considerando que ele significa um progresso, outros o tacharam de "frustrante e pouco realista".
Sob o signo dos atentados de Paris
O evento deste sábado se iniciou com um minuto de silêncio pelas vítimas de Paris. A França integra a aliança militar liderada pelos EUA, que vem realizando ofensivas aéreas na Síria e no Iraque.
Segundo diplomatas presentes, os atentados de 13 de novembro desviaram o foco das negociações em Viena de um detalhe – quais organizações sírias seriam consideradas grupos oposicionistas, em vez de terroristas, podendo ser incluídas numa solução política – para a questão da derrota militar do EI.
"Tenho a sensação de que há um reconhecimento crescente da necessidade de criar uma coalizão internacional eficaz para combater o 'Estado Islâmico'", observou o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, após o encontro, em coletiva de imprensa conjunta com seu homólogo americano e o encarregado das Nações Unidas para a paz na Síria, Staffan de Mistura.
Há algumas semanas a Rússia também tem bombardeado posições na Síria, em apoio às forças de Assad. De acordo com as potências ocidentais, contudo, em vez de visar o EI, essas ofensivas aéreas têm antes atingido grupos moderados da oposição, como as milícias rebeldes pró-Ocidente.
Kerry confirmou que os ataques em Paris fortaleceram a decisão de seu país de combater o terrorismo. "O impacto da guerra vai sangrando para dentro de todas as nossas nações. É hora de o sangramento na Síria estacar."
AV/rtr/afp