Em visita a refugiados rohingyas, ONU ouve apelos por ajuda
29 de abril de 2018Uma delegação do Conselho de Segurança das Nações Unidas visitou neste domingo (29/04) refugiados rohingyas que vivem em acampamentos na fronteira entre Bangladesh e Myanmar, descrevendo a viagem como uma oportunidade de ver a situação em primeira mão.
À equipe de diplomatas, os membros da minoria étnica muçulmana fizeram apelos emocionados para que a ONU os ajude a retornar com segurança às suas casas em Myanmar. Eles também clamaram por justiça sobre a razão pela qual foram forçados a fugir do país.
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Myanmar tem recebido destaque internacional nos últimos meses por causa do conflito envolvendo a minoria, que segue o islã num país de maioria budista. Os militares birmaneses são acusados por diversas entidades, incluindo a ONU, de promover uma limpeza étnica contra o grupo.
Durante a visita deste domingo, a delegação das Nações Unidas aproveitou para conversar com vários dos refugiados sobre suas experiências a respeito da campanha militar, que forçou 700 mil pessoas a fugirem de Myanmar para Bangladesh.
Em depoimentos anteriores, muitos rohingyas disseram ter testemunhado assassinatos, estupros, torturas e queima de residências contra seu povo, perpetrados por forças de segurança birmanesas e multidões de civis.
"Isso nos mostra o nível do desafio, enquanto nós, como um Conselho de Segurança, tentamos encontrar um caminho que permita que essas pobres pessoas voltem para casa", afirmou a embaixadora do Reino Unido nas Nações Unidas, Karen Pierce.
Em conversas com a diplomata britânica, várias mulheres e crianças relataram aos prantos o que passaram em sua terra natal. "O triste é que não há nada que possamos fazer hoje para diminuir o sofrimento deles", disse Pierce.
O embaixador da Rússia na ONU, Dmitry Polyansky, prometeu que ele e sua equipe não desviarão o olhar da crise após a visita, mas advertiu que será difícil encontrar uma saída para a questão.
"É muito necessário que venhamos e vejamos tudo o que está acontecendo aqui em Bangladesh e Myanmar. Mas não existe uma solução mágica. Não há uma varinha mágica para resolver todas essas questões", declarou o diplomata em coletiva de imprensa em um dos locais visitados.
"Situação impressionante"
A visita deste domingo ocorreu em uma série de acampamentos rohingyas localizados no sudeste de Bangladesh e em uma faixa de território não reivindicada entre as duas nações asiáticas, apelidada de "terra de ninguém".
Em um dos campos, conhecido como Kutupalong, a situação é "bastante impressionante", descreveu a vice-embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Kelley Currie.
"O nível desse acampamento é, com certeza, diferente de tudo que eu já vi. Quando a chuva vier, será um desastre", observou a diplomata, referindo-se ao chão de terra sob as cabanas improvisadas.
Autoridades das Nações Unidas e grupos de ajuda já vêm expressado preocupação com o próximo período das monções na região asiática, que ameaça piorar a situação humanitária no local. Centenas de milhares de refugiados em Kutupalong vivem em abrigos temporários feitos de bambu e lonas, muitos em colinas íngremes e áreas de baixa altitude que podem ser inundadas.
Viagem da ONU à Ásia
Após a visita a Bangladesh, a delegação composta pelos cinco Estados-membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas – China, EUA, França, Reino Unido e Rússia – e outros dez membros temporários segue para Myanmar para um encontro com a líder Aung San Suu Kyi.
Vencedora do prêmio Nobel da Paz em 1991, ela vem sendo criticada pelo Ocidente por não conseguir impedir a violência contra as minorias. As autoridades birmanesas consideram os rohingyas imigrantes bengalis de Bangladesh, embora tenham vivido no país por séculos.
A visita de três dias da delegação ainda deve incluir um voo de helicóptero sobre o estado de Rakhine, terra dos rohingyas em Myanmar, para observar os estragos causados nas aldeias durante a repressão das forças de segurança.
O Conselho de Segurança vem pedindo à maioria budista em Myanmar que permita que os refugiados retornem com segurança às suas casas, e que atue para acabar com as décadas de discriminação contra a minoria muçulmana.
Em novembro passado, os governos de Bangladesh e Myanmar assinaram um acordo para repatriar milhares de rohingyas, mas as autoridades dizem que o processo tem sofrido atrasos devido a problemas organizacionais.
EK/ap/dpa/lusa/rtr
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