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Empresas buscam melhor forma de lidar com passado nazista

Christian Ignatzi (rc)22 de outubro de 2013

Nos últimos anos, várias companhias tentaram esclarecer relação com o regime de Hitler, impulsionadas sobretudo por novas gerações de executivos. A última foi a mundialmente famosa fabricante de alimentos Dr. Oetker.

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Foto: picture-alliance/dpa

O nome nas embalagens de pizza congelada, fermento em pó e outros produtos alimentícios é bastante conhecido. Presente também no Brasil, a Dr. Oetker é uma das marcas alemãs mais famosas no mundo. Agora, quase 70 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, a empresa publicou um estudo sobre seu passado, mais especificamente durante o regime nazista.

Muitas outras empresas alemãs nos últimos anos já realizaram iniciativas semelhantes. O historiador Jürgen Finger participou do estudo da Oetker e sabe por que trabalhos como esse levam tanto tempo para serem divulgados.

"O patriarca da empresa, Rudolf-August Oetker, jamais falou sobre a época do nazismo com seus oito filhos e foi contra qualquer pesquisa sobre o passado de sua empresa", explica.

No entanto, um de seus filhos e sucessor, August Oetker, achou necessário permitir tal trabalho sobre a história da empresa. O estudo do historiador Andreas Wirsching, da Universidade Ludwig Maximillian, de Munique, trouxe luz ao passado obscuro.

Novas gerações à frente

De fato, a obscuridade é profunda. Assim como muitos empresários, o diretor executivo da empresa na época, Richard Kaselowsky, buscou aproximação com o nacional-socialismo, chegando a se filiar ao partido nazista pouco após a ascensão de Adolf Hitler ao poder. Por diversas vezes, doou enormes quantias de dinheiro ao líder da SS, Heinrich Himmler.

Nem seu enteado e sucessor na direção da empresa, Rudolf-August Oetker, teve receio de apoiar os nazistas. Em 1941, ele se recrutou como voluntário da Waffen-SS, que entre outras atribuições era responsável pelos vigias dos campos de concentração.

Anúncio da Dr. Oetker nos tempos da Segunda Guerra Mundial
Anúncio da Dr. Oetker nos tempos da Segunda Guerra MundialFoto: Firmenarchiv Dr. Oetker

A Oetker utilizou como mão de obra as vítimas do regime condenadas a trabalhos forçados, ainda que não em suas instalações principais. No entanto, nenhuma empresa na época abriu mão desse recurso. "Nem mesmo os maiores oponentes ao regime, como o industrial Robert Bosch", afirma o historiador Joachim Scholtysek. Isso se deve ao fato de que os funcionários eram recrutados para lutar nas frentes de batalha.

A Dr. Oetker não foi a única empresa a ter a sua ligação com os nazistas revelada nos últimos anos. Scholtysek conta que, além da família Quandt, proprietária de grande parte da fábrica de automóveis BMW, diversas empresas alemãs recentemente publicaram pesquisas sobre seu envolvimento com o regime de Hitler.

Essa onda de revelações, segundo Scholtysek, "teve início por volta da virada do milênio, quando o Deutsche Bank encomendou um amplo estudo a esse respeito". Pouco depois, outras empresas, como a Daimler e a Volkswagen, seguiram esse passo.

Tempo como facilitador

"Isso se deve em parte ao fato de outra geração assumir o comando das empresas", explica Scholtysek. Quem dirigiu as companhias no tempo da Segunda Guerra já morreu, o que remove qualquer obstáculo ao esclarecimento dos fatos.

Quanto mais longe da época do Terceiro Reich, mais fácil fica lidar com o passado, afirma o historiador. As empresas familiares já não precisam temer represálias. Não há risco de perseguições pessoais aos que hoje ocupam a posição dos pais à frente das empresas.

A família Oetker comemora em 1941 o aniversário da empresa. Ao centro, o líder nazista Alfred Meyer
A família Oetker comemora em 1941 o aniversário da empresa. Ao centro, o líder nazista Alfred MeyerFoto: Firmenarchiv Dr. Oetker

Por essa razão, apenas recentemente as empresas familiares investiram no esclarecimento de seu passado, já que os envolvidos estão mortos e não podem ser alvo de investigações. Segundo o historiador, já nos anos 1960 algumas empresas manifestaram interesse pelo seu passado, mas as chamadas "crônicas" feitas na época por ocasião de jubileus eram "enfeitadas".

Os historiadores acreditam que o interesse dos últimos anos para esclarecer o passado das empresas também possa ter outra razão. "Por um lado, existem cada vez menos pessoas que vivenciaram o nazismo", conta Jürgen Finger. Por isso, as empresas teriam a intenção de mostrar aos jovens o que aconteceu naquela época. Outro motivo seria a pressão da opinião pública para que os fatos sejam esclarecidos.

August Oetker considera fundamental o esclarecimento dos fatos
August Oetker considera fundamental o esclarecimento dos fatosFoto: picture-alliance/dpa

"Mesmo os órgãos públicos adotam hoje em dia a transparência, e as empresas não querem ficar para trás", justifica Scholtysek. E, por fim, há o receio de muitas delas de que fontes independentes venham a revelar passagens obscuras de seu passado, como ocorreu com a família Quandt.

Apenas após ter suas ligações com os nazistas reveladas em um filme na televisão, os Quandt tomaram a iniciativa de encomendar à Universidade de Bonn um estudo sobre o passado. Hoje, analisa Scholtysek, as empresas decidem que é melhor elas mesmas tomarem a iniciativa.

Já está em andamento outro estudo de grande porte, sobre a varejista Tengelman – proprietária de redes de lojas e supermercados. Depois dela, acreditam os historiadores, a maioria das grandes empresas alemães terá tido seu passado esclarecido.