Pró-átomo
2 de setembro de 2010A usina nuclear Mülheim-Kärlich, perto da cidade de Koblenz, teve vida breve: dois anos em caráter experimental, 100 dias em funcionamento regular. A licença para construção no terreno ameaçado de terremotos da Bacia de Neuwied foi vetada em tribunal.
Este foi um dos maiores investimentos equivocados do conglomerado de energia RWE, e mais um motivo para as empresas quererem lucrar com as usinas existentes.
Jürgen Grossmann, presidente da RWE, afirma que a prorrogação dos prazos de funcionamento das instalações termonucleares é uma boa notícia para empresários e consumidores: "Vai sair caro se a energia atômica for desligada", advertiu.
Lucros
Para as operadoras, a vantagem é inegável. Cada ano adicional de energia elétrica de fonte nuclear custa quase nada e traz grande faturamento, expõe Hans-Peter Wodniok, analista da companhia de pesquisa independente Fairesearch.
"Há os elementos combustíveis que têm de ser usados, além de outros custos, como os de pessoal, segurança, etc.. Mas não há mais amortizações nem juros a serem pagos sobre essas usinas termonucleares, o que resultará num lucro decididamente mais elevado."
Também o Estado lucraria bastante com o prolongamento da vida útil das usinas, considerados os 2,3 bilhões de euros anuais de imposto sobre combustível atômico, além da taxa de incentivo às energias renováveis.
Tais somas representam maior margem de gastos no orçamento e espaço extra para ação política. Pois a taxa para as energias renováveis certamente não fluiria integralmente para as grandes operadoras – em apoio a seu empenho pela energia eólica e solar – mas sim beneficiaria outros fornecedores.
O benefício se estenderia a setores como o de calefação ou da construção civil, encarregados de sistemas de aquecimento mais ecológicos, ou do isolamento térmico mais eficiente para as casas. Cogita-se aplicar 3 bilhões de euros anuais para estes fins.
Consumidor arca com impostos
Além disso, poderiam ser criados 7 mil postos de trabalho na área da construção civil, pois o ministro do Meio Ambiente pretende proteger todas as 17 usinas nucleares alemãs com mantos de concreto, tornando-as mais seguras contra quedas de aviões.
Ao todo, os peritos contratados pelo governo alemão calculam que, prorrogando o prazo da energia termonuclear, a Alemanha pode alcançar um crescimento econômico adicional de 0,6 ponto percentual por ano, até 2050, além da criação de 100 mil novos empregos.
Outro fator salientado na argumentação é o preço da eletricidade, que poderia reduzir-se em 0,7 euro por kilowatt/hora, caso as usinas nucleares sejam mantidas em atividade por mais 12 anos. Contudo devem-se levar em consideração aqui as taxas e impostos pagos pelos fornecedores, que, por outro lado, as repassariam ao consumidor, elevando os preços.
O analista Wodniok resume: "Não creio que, no fim das contas, as operadoras arcariam com esses impostos, mas sim os consumidores de eletricidade, pelo menos no tocante a domicílios privados".
Meio ambiente
Porém os economistas ainda não arriscam um veredicto final sobre quem ganharia e quem sairia perdendo, se as instalações termonucleares alemãs forem mantidas em funcionamento para além do prazo estipulado anteriormente.
Muitos preferem esperar até 28 de setembro próximo, quando o governo federal divulgará oficialmente o futuro da política energética do país. No momento, a situação ainda é vaga demais. Certo está, somente, que há muitos interesses a serem conciliados.
Por último, é preciso considerar o papel do meio ambiente nessa equação. Com mais energia atômica, diminuiria a demanda de carvão, óleo e gás mineral, a Alemanha precisaria importar menos combustíveis fósseis e as emissões de dióxido de carbono se reduziriam.
Por outro lado, cresceria o volume de lixo atômico, também das usinas estrangeiras de que a Alemanha depende para suas importações de energia, cujo volume, segundo as expectativas, deverá crescer.
Autor: Michael Braun (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer