Encenação de morte de jornalista teve sangue de porco
31 de maio de 2018O jornalista russo Arkady Babchenko, que participou de uma trama para simular a própria morte, organizada pelo serviço secreto ucraniano SBU, afirmou nesta quinta-feira (31/05) que foi maquiado e que se usou sangue de porco para simular o seu assassinato.
Num entrevista para jornalistas em Kiev, Babchenko deu detalhes da encenação da sua morte, pela qual a Ucrânia chegou a culpar a Rússia e que, ele repetiu, teve por objetivo salvar a sua vida de um verdadeiro atentado, que estaria sendo planejado por Moscou.
Segundo ele, na noite de terça-feira, escolhida para o suposto atentado, um maquiador foi enviado para a sua casa para deixá-lo com a aparência de ferido. Agentes furaram com tiros uma camiseta dele, que ele vestiu para, em seguida, ser manchado com sangue de porco.
Ele acrescentou que também colocou o sangue na boca e o cuspiu. Um dos agentes o instruiu a se deitar de maneira que parecesse estar de fato morto. Depois, a mulher dele chamou uma ambulância, e ele foi levado para o hospital, onde médicos, que participaram da trama, confirmaram a sua "morte".
Depois disso, foi levado para um necrotério, onde "ressuscitou" e se livrou das roupas manchadas de sangue. "Eu fiquei lá, assistindo às notícias sobre o cara legal que eu era", disse.
Babchenko defende trama
Nesta quinta-feira, ele disse que as pessoas mais próximas dele, incluindo a esposa, sabiam da encenação. Na quarta-feira, quando a trama fora revelada, ele havia pedido desculpas à esposa pelo "inferno que ela teve que suportar".
Na terça-feira, autoridades ucranianas afirmaram que Babchenko havia sido morto a tiros na porta de sua residência e divulgaram fotos dele numa poça de sangue. Na quarta-feira, ele apareceu de surpresa durante uma entrevista do serviço secreto, que afirmou que tudo foi uma encenação para evitar a execução de um real plano para assassiná-lo.
"Para todos aqueles que dizem que isso acaba com a credibilidade dos jornalistas: o que você faria no meu lugar, se eles viessem até você e lhe dissessem que alguém está tentando lhe matar?", argumentou Babchenko.
Segundo ele, a preocupação com a própria vida é mais importante do que questões éticas do jornalismo. Ele relatou que, quando agentes ucranianos o abordaram para dizer que russos planejavam matá-lo, pensou em largar tudo e fugir para o Polo Norte.
"Mas aí eu pensei: onde vou me esconder? O Skripal também tentou se esconder", afirmou. Babchenko disse que agora vive num lugar seguro e se sente seguro.
AS/efe/ap/rtr/afp
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