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Terrorismo na Alemanha

1 de agosto de 2007

Trinta anos após o julgamento de Stammheim, em que membros da organização de extrema-esquerda RAF – Fração do Exército Vermelho - foram condenados à prisão perpétua, reapareceram as fitas com as declarações dos réus.

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A RAF aterrorizou a Alemanha nos anos 70 e 80Foto: AP Graphics/DW

Todos pensavam que as gravações feitas durante o julgamento dos líderes da organização alemã de extrema-esquerda RAF – Fração do Exército Vermelho – em Stammheim (Stuttgart), há 30 anos, haviam sido destruídas depois de transcritas. Agora, as fitas foram encontradas pelo jornalista Stefan Aust e pelo documentarista Helmar Büchel. Os dois realizarão um documentário sobre o grupo terrorista para a televisão alemã.

As cópias das fitas foram entregues aos dois jornalistas após difíceis negociações com o Tribunal Superior Regional e a Procuradoria Geral da República em Karlsruhe, que queriam a destruição das gravações.

Stammheim: Gefängis, Fenster mit Taube
A prisão de Stammheim, em StuttgartFoto: AP

Trata-se de um documento histórico gravado entre outubro de 1975 e maio de 1976, que contém declarações dos líderes da RAF Andreas Baader, Jan-Carl Raspe, Gudrun Ensslin e Ulrike Meinhof. São 21 fitas com aproximadamente 12 horas de gravação direto da sala de audiências em Stammheim, prisão próxima a Stuttgart onde os terroristas ficaram encarcerados.

Declarações históricas

Andreas Baader, um dos fundadores e líderes da RAF, queixa-se, por exemplo, das condições da prisão solitária, que tinha isolamento acústico e não dispunha de janelas.

Ensslin, namorada de Baader, confessa que a RAF foi responsável pelos ataques ao quartel-general da CIA, à 5ª Divisão de Infantaria Norte-Americana em Frankfurt e à base norte-americana em Heidelberg, que resultaram em quatro mortes e dezenas de feridos.

Gudrun Ensslin und Andreas Baader
Andreas Baader e a namorada, Gudrun EnsslinFoto: AP

"A política da RAF expressa a consciência da obrigatoriedade de resistência na República Federal da Alemanha. A responsabilidade contra a política imperialista só pode ser de confrontação e luta", disse ela. A citação é um exemplo do sistema de responsabilidade coletiva da RAF, no qual todo o grupo deveria responder pelos atos de cada membro.

A RAF ganhou o apoio da jornalista de esquerda Ulrike Meinhof no episódio em que ela ajudou Andreas Baader a fugir da prisão onde cumpria pena por ter incendiado um prédio em 1970. Na fita, Meinhof diz que "neste julgamento não se trata mais da aplicação da lei, mas sim de fazer prevalecer certos objetivos".

Jan-Carl Raspe, referindo-se a Ulrike Meinhof, disse que os danos psicossomáticos "são inevitáveis" nessa forma de prisão de isolamento acústico. "O limite de sua capacidades foi atingido e as consequências da solitária se tornaram visíveis", acrescentou.

Poucas semanas depois, em 9 de maio de 1976, Meinhof se enforcaria em sua cela em Stammheim.

"Outono alemão" de 1977

A RAF (Rote Armee Fraktion – Fração do Exército Vermelho), também conhecida como Grupo Baader-Meinhof, foi responsável por uma onda de terror nos anos 70 e 80 na então Alemanha Ocidental, que chamava de "Estado fascista".

Depois das mortes do promotor-geral da República, Siegfried Buback, e do presidente do Dresdner Bank, Jürgen Ponto, seguiu-se o chamado "outono alemão", em setembro de 1977, com o seqüestro seguido de assassinato do presidente da Federação dos Empregadores Alemães, Hanns-Martin Schleyer.

Stammheim-Prozess
Os réus foram condenados à prisão perpétuaFoto: AP

A sentença do julgamento de Stammheim havia sido proferida em 28 de abril de 1977 – Baader, Ensslin e Raspe foram condenados à prisão perpétua. No outono europeu do mesmo ano, os três se suicidaram após uma ação terrorista frustrada organizada pela RAF para libertá-los.

O filme produzido por Aust e Büchel sobre a RAF será transmitido pela televisão estatal alemã em setembro. (sac/jv)