Enquanto tropas saem, Talibã se fortalece no Afeganistão
13 de agosto de 2013"Estávamos patrulhando na província de Baghlan quando, de repente, ouvimos tiros de metralhadora, que vinham de uma rua paralela a um assentamento nas proximidades. Nos jogamos ao chão, como aprendemos no treinamento, e disparamos de volta. O ataque terminou tão rapidamente como tinha começado. Em pouco tempo, os atiradores haviam se misturado com os moradores da aldeia, de forma que ficou impossível diferenciá-los dos civis".
O relato do tenente-coronel alemão Christian B., que serviu no Afeganistão como membro da Força Internacional de Assistência para a Segurança (Isaf), dá uma visão de uma das táticas preferidas dos talibãs: a emboscada. Especialistas acreditam que as táticas de guerrilha e a rápida capacidade de adaptação em sua forma de luta fazem dos talibãs cada vez mais perigosos.
"Suas estratégias estão se tornando cada vez mais brutais e sofisticadas", avalia Rolf Tophoven, do Instituto de Pesquisa sobre o Terrorismo e Política de Segurança, sediado na Alemanha.
Ataques mortais crescem
Os ataques não ganharam apenas em brutalidade e tática, mas vêm se tornando também mais fatais. Especialmente desde que os talibãs vêm dando preferência a atacar alvos civis, a fim de recuperar o controle sobre áreas que as forças da coalizão vêm deixando, no âmbito da retirada gradual das tropas da Isaf. Um relatório das Nações Unidas aponta que o número de mortes de civis no Afeganistão aumentou nos últimos seis meses em 23%, em comparação com o ano anterior.
Em geral, os talibãs empregam armadilhas com explosivos feitas por eles mesmos. Segundo os especialistas, essas bombas ainda são a principal arma na luta dos talibãs contra a Isaf e as forças de segurança afegãs.
Apesar de usarem os mesmos meios, os talibãs não são uma força de combate uniformemente organizada. Marvin Weinbaum, especialista em Afeganistão do Middle East Institute (Mei), de Washington, explica que, tanto no país como no vizinho Paquistão, eles são geralmente organizados em redes operadas localmente, que são todas classificadas pelo rótulo de "Talibã".
Basicamente, afirma, são grupos guerrilheiros diferentes, que operam em quase todo o Afeganistão. "Em princípio, no entanto, os talibãs se concentram nas províncias do leste e do sul", explica Weinbaum. "E não raramente têm refúgios no Paquistão."
Após a invasão dos EUA, alguns talibãs permaneceram no Afeganistão, outros se retiraram para o Paquistão. Ali, criaram a chamada Quetta Shura, sob o comando do mulá Omar. Ao mesmo tempo, foram criados alguns outros grupos de talibãs paquistaneses, que agora estão frouxamente organizados na rede Tehrik-e-Taliban Pakistan.
Táticas adaptadas
Weinbaum ressalta que os talibãs no Paquistão e no Afeganistão diferem significativamente entre si, embora compartilhem princípios religiosos semelhantes, especialmente no que diz respeito aos objetivos políticos. Os talibãs afegãos querem derrubar o governo em Cabul. Já os talibãs paquistaneses desejam estabelecer uma teocracia no Paquistão, com a sharia como lei. "Enquanto os talibãs paquistaneses apoiam os afegãos, os talibãs afegãos evitam atacar o Paquistão."
Os talibãs não dispõem de uma estrutura de comando. "Os indícios apontam para rebeldes sem uma organização rigorosa. A maioria das operações é planejada e realizada por comandantes locais independentes", afirma Weinbau. Somente os talibãs da rede Haqqani, no Waziristão do Norte, se assemelham, em sua estrutura de organização, a um exército regular. O grupo, liderado por Sirajuddin Haqqani, é responsável por muitos dos principais ataques em Cabul e em outros lugares.
Os talibãs adaptam permanentemente suas táticas de combate. "Seus objetivos são instalações militares, policiais e locais pouco fortificados", explica Weinbau. Os ataques visam a desestabilizar as autoridades locais e intimidar os moradores locais. Raramente os extremistas fazem ataques convencionais contra posições fortemente policiadas. Eles lançam mão cada vez mais de franco-atiradores, homens-bomba e bombas em beiras de estradas.
A chave para força combativa dos talibãs reside na sua capacidade de estudar o inimigo. Tophoven sublinha que isso se aplica tanto para o conflito atual quanto para os anteriores: "Os talibãs têm acesso a manuais militares da era soviética e de militares dos EUA, que os ajudam a entender seus adversários. Além disso, eles têm uma extensa rede de informantes locais, através dos quais eles conhecem exatamente os movimentos do inimigo."
Combatentes experientes
Enquanto o conhecimento sobre as tropas inimigas derivam parcialmente de manuais, os talibãs também contam com seus anos de experiência em guerras. "Em muitas partes do Afeganistão, as pessoas são cercadas por violência desde o dia em que nasceram. Muitos dos homens que hoje lutam pelos talibãs aprenderam o ofício da guerra e o manejo de armas ainda muito jovens", explica Michel Kugelman, especialista no sul asiático do Woodrow Wilson Center, em Washington.
Além disso, os talibãs são apoiados por alguns combatentes estrangeiros do Uzbequistão e da Chechênia, mesmo que a maior parte de suas tropas sejam recrutadas nas escolas religiosas muçulmanas e em campos de refugiados ao longo da fronteira com o Afeganistão e com o Paquistão. Não é raro que atraiam combatentes com dinheiro.
"Os talibãs recebem apoio financeiro e logístico sobretudo do Paquistão", observa Tophoven. "Assim como antes do ataque ao World Trade Center, em Nova York, os talibãs recebem treinamento, dinheiro, munição e suprimentos do serviço secreto paquistanês ISI." O governo paquistanês nega isso até hoje.
Os ataques dos talibãs não se restringem apenas aos soldados estrangeiros. "Eles atacam qualquer um que não compartilhe sua visão de mundo. Isto inclui edifícios do governo, mesquitas, hospitais e escolas", enumera Kugelman.
Um exemplo proeminente é Malala Yousafzai. A estudante levou tiros disparados por talibãs por ter feito campanha a favor de uma educação escolar para meninas.
Apesar da brutalidade de muitos ataques, os talibãs se empenham para ganhar a simpatia da população, o que, de acordo com Weinbau, é de grande importância. Para isso, estabelecem estruturas governamentais paralelas nas províncias instáveis do Afeganistão. Weinbau acredita que o apoio local, embora também baseado na intimidação e na violência física, cresce sobretudo devido à fraqueza do governo de Cabul.
No final, opinam especialistas, os talibãs podem mesmo vir a recuperar o controle sobre o Afeganistão, como pretendem.
"Os talibãs têm todo o tempo do mundo. São capazes de montar grandes operações militares assim que as tropas estrangeiras deixarem o país", acredita Weinbaum. Os talibãs também apostam que o governo Karzai continue a perder popularidade e que as forças de segurança se desintegrem por causa de ressentimentos étnicos e religiosos.