Entre a pesquisa e a diplomacia
9 de maio de 2004A importância da arqueologia para a compreensão entre as diferentes culturas é indiscutível. O fato de o Instituto Alemão de Arqueologia (DAI) receber financiamento do Ministério alemão das Relações Exteriores enfatiza seu papel diplomático. Ainda mais na era após o 11 de Setembro, em que tomou importância ainda maior o diálogo com o mundo islâmico. "Embora já tenhamos contato com estas regiões há muito tempo, os aspectos cultural e político de nosso trabalho vêm ganhando importância substancial nos últimos anos", destaca a arqueóloga Astrid Dostert.
Fundado em 21 de abril de 1829, em Roma, o objetivo inicial do instituto eram as descobertas arqueológicas da Antigüidade grega e romana. Em 1833, a sede foi transferida para Berlim. Desde os tempos prussianos até hoje, o DAI teve de enfrentar uma série de sistemas políticos e ideológicos, para que pudesse cumprir sua missão científica.
Hoje em dia, ele se tornou um enorme centro arqueológico, com oito departamentos e três comissões, que reúnem 100 cientistas e 250 funcionários. Os pesquisadores são enviados a sítios arqueológicos em todo o mundo.
Diálogo com o mundo islâmico
As escavações mantidas pelo DAI nos países árabes e no Oriente Médio servem não só à preservação da herança cultural e da identidade daqueles países, como são especialmente apropriadas também para o diálogo e o intercâmbio cultural, aponta Margarete van Ess, diretora científica do Departamento para o Oriente Médio.
A arqueologia coopera enormemente para a compreensão entre as diferentes culturas, principalmente nos países árabes, onde é enorme a riqueza arqueológica e cultural, lembra a pesquisadora.
Van Ess explica que a arqueologia muitas vezes supera os limites da diplomacia. "Por perseguirem objetivos de longo prazo, os arqueólogos geralmente conhecem bem as regiões onde atuam. Isto os ajuda a conquistar a confiança da população e muitas vezes mesmo de políticos e funcionários públicos locais. Isto lhes permite muitas vezes até agir como mediadores em situações de conflitos", expõe Van Ess.
Confiança da Unesco e do Irã
Nos últimos anos, o DAI vem fazendo escavações arqueológicas em muitos locais do mundo islâmico, em cooperação com pesquisadores locais. Entre esses projetos estão a reconstituição de um jardim do Império Mogul em Cabul, no Afeganistão; escavações em Marib, no Iêmen, e em Taima, na Arábia Saudita.A Unesco, braço cultural das Nações Unidas, depositou sua confiança no instituto alemão quanto se tratou de apurar os danos provocados pela recente guerra no Iraque. Por outro lado, no ano passado, o DAI assinou em Teerã um projeto de pesquisas, que se estenderá por 10 anos, tornando-se a primeira instituição do mundo a receber permissão oficial para pesquisas arqueológicas, após a revolução xiita naquele país.