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Escalada da violência eleva temor de nova guerra em Gaza

15 de novembro de 2012

Israel e Hamas mantêm bombardeios e retórica de conflito, enquanto cresce medo de confronto numa região de instabilidade renovada pela Primavera Árabe. Para analistas, ofensiva pode ter fins eleitorais para Netanyahu.

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Foguete é lançado da Faixa de GazaFoto: Reuters

A escalada da violência nesta quinta-feira (15/11) elevou os temores de que a ofensiva israelense contra o Hamas, até aqui limitada a ataques aéreos, vire uma ação terrestre e desencadeie uma guerra como a de 2008 na Faixa de Gaza. Num Oriente Médio com o equilíbrio de poderes reconfigurado pela Primavera Árabe, o conflito já ameaça minar a frágil relação de Israel com o Egito, põe em alerta os Estados aliados dos palestinos e começa a mobilizar a diplomacia ocidental.

Desde quarta-feira, 15 palestinos foram mortos por bombardeios em Gaza. Do outro lado da fronteira, um foguete disparado pelo Hamas deixou três civis mortos – os primeiros em território israelense desde a ofensiva de 2008. Nos últimos dois dias, mais de 180 foguetes caíram em Israel provenientes da Faixa de Gaza. Alguns atingiram áreas não habitadas nos arredores de Tel Aviv, levando sirenes de emergência a soarem na cidade pela primeira vez desde 1991, durante a Guerra do Golfo. Israel, por outro lado, diz ter atingido mais de 200 alvos em Gaza.

Novo contexto regional

Desde a ofensiva israelense de 2008, o mapa político regional mudou, sobretudo no Egito, que compartilha fronteira com a Faixa de Gaza. Foi graças à cumplicidade do então ditador Hosni Mubarak que, há quatro anos, Israel conseguiu pôr em prática sem grandes riscos a ofensiva contra o movimento radical islâmico.

Hoje, o Egito tem no poder Mohamed Morsi, líder político da Irmandade Muçulmana, movimento do qual o Hamas tira parte de sua ideologia. E depois que Israel, na quarta-feira, iniciou os bombardeios em Gaza, Morsi não deixou dúvidas de que lado estaria.

“Estamos em contato com o povo de Gaza e os palestinos, e estaremos com eles até que a agressão seja interrompida”, disse Mursi, em discurso em rede nacional. “Não aceitamos, sob qualquer circunstância, a continuação da agressão na Faixa de Gaza. Os israelenses têm que entender que isso é inaceitável e que levará apenas à instabilidade regional.”

Palestinians try to extinguish fire following an Israeli air strike on November 14, 2012 in Gaza City. A top Hamas commander was among seven people killed in more than 20 Israeli air strikes on the Gaza Strip, as Israel began an operation targeting militant groups. AFP PHOTO/MOHAMMED ABED (Photo credit should read MOHAMMED ABED/AFP/Getty Images)
Destruição em Gaza, alvo de bombardeio israelenseFoto: MOHAMMED ABED/AFP/Getty Images

Apesar de pressionado internamente a agir de forma dura, uma ação de Mursi além da arena diplomática é tida como improvável. Qualquer violação do tratado de paz assinado em 1979 com Israel incorreria em graves riscos para um Egito de democracia e instituições ainda instáveis após décadas de ditadura.

Apoio de Qatar e Irã ao Hamas

O Hamas, por outro lado, parece cada vez mais assertivo, impulsionado pela crença de que Israel não se arriscaria a abrir uma guerra com o vizinho Egito governado por islamistas e, ao mesmo tempo, pela recente visita do emir do Qatar, a primeira de um chefe de Estado a Gaza desde que o movimento radical assumiu o território, em 2007.

“Esse ataque cruel não pode passar impune”, disse nesta quinta-feira o primeiro-ministro do Qatar, Xeque Hamad bin Jassim bin Jaber al-Thani. “O Conselho de Segurança precisa assumir a sua responsabilidade de assegurar a paz e a segurança no mundo.”

Também deixaram claro seu apoio ao Hamas o governo iraniano, que fornece armas ao movimento, e o grupo xiita libanês Hezbollah, que denunciou a ofensiva como uma "agressão criminosa". O Conselho de Segurança da ONU se reuniu na noite de quarta-feira, mas não fez um pronunciamento conjunto, ao contrário do que informara mais cedo a agência de notícias Reuters.

Tanto israelenses quanto palestinos mantêm o tom elevado. Depois de pôr em prontidão suas brigadas de infantaria e colocar sob aviso 30 mil reservistas, o governo israelense alertou todos os líderes do Hamas em Gaza a se esconderem, sob o risco de enfrentarem o mesmo destino de Ahmed al-Jabari, comandante do braço armado do grupo morto na quarta-feira.

Em entrevista coletiva, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusou o Hamas de cometer “um duplo crime de guerra” por matar inocentes e, segundo ele, esconder-se atrás de civis. Ele disse ter conversado por telefone com o presidente americano, Barack Obama, e ter o apoio de Reino Unido e outros países ocidentais.

Benjamin Netanjahu Konflikt im Gazastreifen
Ofensiva renderia a Netanyahu pontos para próximas eleiçõesFoto: dapd

Do outro lado, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, cancelou uma viagem que faria a Europa em busca de apoio ao reconhecimento do Estado palestino. E Khaled Meschaal, chefe do Hamas no exílio, disse que “o inimigo é frágil e não é capaz de conquistar Gaza”.

Olho nas eleições israelenses

O Hamas também acusa Netanyahu de realizar a ofensiva com fins eleitorais – no próximo dia 22 de janeiro, os israelenses vão às urnas para renovar o Parlamento. E para Oraib al-Rantawi, diretor do centro de estudos políticos jordaniano Al-Quds, a acusação não é infundada.

Segundo ele, Netanyahu quer, antes da votação, passar uma imagem de defensor ferrenho do Estado judeu e, ao mesmo tempo, destacar-se em relação ao ex-premiê Ehud Olmert, potencial adversário nas eleições.

Já para o jornalista alemão-israelense Gil Yaron, especialista em Oriente Médio, o primeiro-ministro foi forçado a agir diante dos crescentes ataques provenientes de Gaza. “Muitos israelenses se sentem abandonados pelo governo e questionam o porquê de ele não fazer nada contra isso”, opina Yaron.

Autor: RPR/dpa/rtr/dw
Revisão: Francis França