"Escola é tudo igual" é uma frase bem popular, na qual muitas pessoas acreditam. No entanto, sabemos que na prática a realidade é bem diferente.
Estudei em escola particular desde o maternal até o nono ano. Lá, tive toda a minha base estudantil formada e acesso a materiais de estudo fantásticos.
No meu primeiro ano do ensino médio, fui para uma escola pública e confesso que demorei para me acostumar. Logo percebi como as matérias eram atrasadas. Passei grande parte do ensino médio revendo conteúdos que já tinha estudado antes. Com isso, comecei a ficar preocupada, porque eu comparava o meu ensino com de outros alunos de escolas particulares e via a diferença gritante.
Outro ponto significativo é que as escolas privadas tendem a ter um método que estimula os alunos a refletirem mais e não apenas aprender o conteúdo de forma geral, e isso acaba sendo um diferencial. A infraestrutura da escola bem como a comunicação com a família dos alunos também é de grande importância.
Todos esses pontos, que são mais desenvolvidos nas escolas particulares, influenciam o crescimento dos alunos e, consequentemente, ajudam a diferenciar as escolas públicas das privadas.
Pandemia como obstáculo adicional
E aí veio a pandemia, que significou um regresso muito grande na educação brasileira de maneira geral. Com a adaptação às aulas à distância, era notória a triste realidade que os alunos de escolas públicas viviam, com falta de acesso à internet e aos aparelhos necessários.
Para mim, no entanto, esse não foi um obstáculo. Nunca tive do que reclamar, pois sempre tive acesso a todos os aparelhos e materiais que os professores mandavam. Mas, mesmo com todas essas facilidades, tive muita dificuldade em me adaptar ao modelo de ensino remoto.
A minha ansiedade e inquietação aumentaram muito. No meu primeiro Enem, não tive um resultado bom (mesmo me dedicando muito aos estudos), assim como os meus colegas que fizeram o exame. Após o resultado, fiquei muito preocupada, pois observava o ensino e os resultados de alunos das escolas particulares.
Nós, de escolas públicas, temos a mesma capacidade, no entanto há uma carência muito grande de materiais e organização, o que afeta diretamente o nosso rendimento e, na maioria da vezes, nos coloca em uma posição pior.
O amor e o apoio sempre foram coisas que me guiaram e me ajudaram na autocobrança e na ansiedade. Minha família, em especial a minha avó, vem me apoiando de uma forma muito necessária.
Mas, infelizmente, perdi minha avó no meu segundo ano do ensino médio. Isso me afetou de forma extrema, e ainda me afeta. Muitas vezes pensava em desistir do meu sonho por medo de ninguém me apoiar como ela apoiava, e aquilo só me deixava cada vez mais angustiada e ansiosa.
Será mesmo que quem quer consegue?
Atualmente estou no meu terceiro ano do ensino médio, enfrento muitos problemas com o ensino de escola pública e muitas vezes com a falta de oportunidade. Mas, mesmo com todas esses empecilhos, nunca desisti de ir atrás do meu sonho, de lutar para ser aprovada em um curso concorrido como o de medicina.
A minha maior motivação é ver relato de outros alunos de escolas públicas sendo aprovados, espero muito um dia poder contar a minha experiência como estudante de uma escola pública durante a pandemia que foi aprovada em medicina.
Hoje a minha preocupação é em relação ao Prouni, pois a partir deste ano vamos estar disputando com alunos de escolas particulares. Ouve-se muito por aí que "quem quer consegue" e, realmente, a nossa força de vontade é muito importante. Mas será mesmo justo que alunos de escolas públicas, com todas as dificuldades que conhecemos, disputem com alunos que têm acesso aos melhores livros, professores e sistemas de ensino?
Sou uma grande admiradora do programa Salvaguarda, que dá a muitos jovens a oportunidade de se expressarem e incentivarem outros alunos. Escrevo justamente para mostrar que não estamos sozinhos e que, mesmo com dificuldades e obstáculos, podemos sim chegar aonde quisermos.
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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1
A autora desta coluna é Monik Hellen Sousa Silva, de 16 anos, do Tocantins.
O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.