Novo superintendente do Rio não estava na lista de Bolsonaro
6 de maio de 2020O novo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Rolando de Souza, escolheu nesta terça-feira (05/05) o delegado Tácio Muzzi passa assumir a Superintendência da PF do Rio de Janeiro. O indicado não estava entre os escolhidos pelo presidente Jair Bolsonaro para o cargo, segundo o jornal Folha de S.Paulo. O estado é reduto político da família do presidente e concentra investigações que já envolveram pessoas próximas do clã.
O atual superintendente do Rio de Janeiro, Carlos Henrique Oliveira, foi promovido a diretor-executivo da PF. Oliveira deu o aval para a escolha de Muzzi como seu substituto. A escolha de um delegado respeitado pela corporação para a Superintendência foi feita após pressão interna, na tentativa de afastar suspeitas de interferência de Bolsonaro na PF, segundo a Folha.
Na corporação desde 2003, Muzzi assumiu a Superintendência do Rio de Janeiro interinamente, por cinco meses, no ano passado, após Bolsonaro pedir em agosto a troca do comando da PF no Rio de Janeiro. Ele também já comandou a Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros e atuou no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional e no Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
A troca do comando da Superintendência do Rio de Janeiro foi um dos motivos de atrito entre Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, que culminou com a demissão do ex-juiz. Ao deixar o cargo, Moro acusou o presidente de interferência política na PF.
Em seu depoimento no último sábado, Moro apontou que Bolsonaro já pediu em março a troca do comando da Superintendência da PF no Rio. "Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro", escreveu o presidente a Moro em mensagem de WhatsApp, segundo declarou o ex-ministro em depoimento.
As primeiras investidas de Bolsonaro contra a PF no Rio ocorreram em agosto de 2019. À época, o presidente passou a tentar publicamente nomear um novo superintendente no estado. O movimento do presidente passava por cima da chefia da corporação subordinada a Moro, algo que nem mesmo presidentes anteriores investigados por corrupção, como Dilma Rousseff e Michel Temer, fizeram.
"Quem manda sou eu. Ou vou ser um presidente banana?", disse Bolsonaro publicamente na ocasião. Ele também afirmou que, se não pudesse trocar o superintendente do Rio, iria trocar o então diretor-geral da PF Maurício Valeixo, uma figura próxima de Moro, que atuou com o juiz no Paraná durante alguns dos casos mais ruidosos da Lava Jato, como a prisão de Lula.
Ao final, ocorreu uma acomodação temporária. O superintendente do Rio foi substituído, mas não pelo nome desejado por Bolsonaro. Por alguns meses, parecia que o presidente havia desistido de interferir na corporação.
No entanto, ele voltou a investir contra a PF após vários membros do círculo presidencial passarem a ser investigados pela PF por ordem do STF, entre eles Carlos e Eduardo Bolsonaro, que são suspeitos de alimentar um esquema de fake news.
Deputados aliados do presidente também passaram a ser investigados por suspeita de organizarem atos antidemocráticos que pedem o fechamento do Congresso e uma intervenção militar no país. Ao longo do ano passado, Bolsonaro também se irritou quando a PF investigou um amigo seu, o deputado Hélio "Negão", e suspeitas envolvendo a evolução patrimonial de outro filho, o senador Flávio.
Em meio às investidas do Planalto contra a PF nas últimas semanas, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que os delegados dos casos que apuram a rede de fake news e os atos anticonstitucionais não podem ser substituídos, como forma de blindar as apurações.
CN/ots
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