Escândalos e fracasso de Berlusconi na UE
18 de dezembro de 2003Os seis meses do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, na presidência da comunidade de 15 países prestes a integrar mais 10 países vão terminar na virada do ano com um balanço magro de realizações. Em virtude da personalidade cambiante do homem mais rico da Itália, a presidência da UE foi acompanhada com muito ceticismo e Berlusconi fez o que pôde para justificar esta expectativa.
Paralelamente a suas atividades de presidente da UE e de chefe de governo da Itália, Berlusconi ainda encontrou tempo para divertir os seus hóspedes oficiais, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, com a arte de canto. Em sua juventude, ele cantava para turistas em navios de cruzeiro. Agora o empresário da mídia mais bem-sucedido da Itália deixa a UE na fase mais difícil de transição para a sua ampliação para 25 membros. A Irlanda vai assumir a presidência a 1º de janeiro.
Ao assumir o cargo em julho, Berlusconi estabeleceu a aprovação de uma constituição comum européia como a meta número um da sua presidência. Agora, depois do fiasco da cúpula dos chefes de Estado e de governo da comunidade no último fim de semana, ele sai praticamente de mãos vazias de realizações. Deixa, por outro lado, uma lista longa de piadas ruins, atitudes políticas unilaterais e ataques políticos gratuitos, que geraram grande indisposição entre os governantes da comunidade.
Guarda de campo de concentração
- Logo no começo de sua gestão, o conservador Berlusconi atacou exatamente um deputado social-democrata alemão: Martin Schulz, no Parlamento Europeu: "Senhor Schulz, quando nós produzirmos na Itália um filme sobre campos de concentração nazista, vamos oferecer ao senhor o papel de guarda".Berlusconi e Schulz fizeram as pazes mais tarde, mas o chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, ficou indignado, mostrando a sua indignação no Parlamento em Berlim. "Esta comparação é um insulto, tanto o conteúdo quanto a forma, e eu espero um pedido de desculpas do primeiro-ministro italiano", exigiu o social-democrata Schröder, sob aplausos de representantes de todos os partidos políticos.
Quando um ministro italiano ofendeu os turistas alemães, Schröder cancelou suas férias na Itália, ganhando mais pontos positivos nas pesquisas de opinião pública na Alemanha.
Procedimento caótico
- As sombras mais densas lançadas pela atuação de Berlusconi foram exatamente sobre a última conferência de cúpula da UE, de importância considerada, em geral, decisiva para o futuro da comunidade. Os chefes de Estado e de governo fracassaram no intuito de aprovar a Carta Magna vital para o funcionamento da UE após sua ampliação em maio de 2004. Membros de muitas delegações em Bruxelas jogaram a culpa pelo fiasco na "maneira caótica" com que Berlusconi conduziu as negociações."Não é difícil concluir que o fracasso da presidência e da cúpula da UE foram um fracasso pessoal de Berlusconi", acusou o deputado britânico Graham Watson. O italiano justificou, no Parlamento Europeu, a ruptura das negociações como necessária. Ele disse que "é melhor refletir durante mais tempo do que aprovar algo ruim".
Muitos reconhecem que a suspensão das negociações sobre a Carta deveu-se à inflexibilidade dos pequenos Polônia e Espanha, de um lado, e dos grandes Alemanha e França, de outro lado, no capítulo sobre o peso de cada país membro nas decisões da UE a partir de sua ampliação. Mas a condução italiana da conferência de cúpula contribuiu decisivamente para o fracasso, segundo observadores.
Depois de três meses de conversas vazias com os parceiros, Berlusconi apresentou uma proposta de consenso insustentável. Muitos participantes espumaram de raiva no encerramento da conferência dos chefes de Estado e de governo em Bruxelas.