Não são os pepinos
1 de junho de 2011Após os pepinos espanhóis terem sido descartados como responsáveis pelo surto da infecção da bactéria Escherichia coli do tipo EHEC – que provocou, até agora, a morte de 15 pessoas na Alemanha e uma na Suécia – o governo da Espanha estuda a possibilidade de processar as autoridades de Hamburgo, no norte da Alemanha.
"Não descartamos ações contra as autoridades que colocaram em dúvida a qualidade de nossos produtos, por isso poderemos entrar com ações contra elas, e neste caso, as de Hamburgo", afirmou nesta quarta-feira (01/06) o vice-presidente do governo espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba, para a rádio espanhola Cadena Ser. "Não há um único caso desta natureza na Espanha, isso quer dizer que a bactéria não está aqui", concluiu.
Ele ressaltou que no dia 26 de maio as autoridades de Hamburgo afirmaram ter encontrado rastros de contaminação da temida bactéria em alguns pepinos espanhóis. Após análises realizadas nos vegetais, porém, cientistas anunciaram nesta terça-feira que eles não eram os responsáveis pela contaminação.
O vice-presidente Rubalcaba pretende visitar Almeria, uma das zonas produtoras de pepino mais afetadas, junto com a ministra espanhola da Agricultura, Rosa Aguilar.
A desconfiança em relação a pepinos espanhóis fez com que os compradores europeus suspendessem praticamente todos os pedidos do produto. O setor agrícola espanhol calcula que as perdas cheguem a 200 milhões de euros por semana, e que a crise coloca em risco 70 mil empregos no país, que já registra a maior taxa de desemprego na União Europeia.
Os produtores alemães também foram afetados. O presidente da Confederação Alemã de Agricultores, Gerd Sonnleitner, estima os prejuízos em quatro milhões de euros por dia.
Ajuda financeira
Um porta-voz do Ministério alemão da Agricultura e Defesa do Consumidor afirmou nesta quarta-feira em Berlim que o rápido alerta público das autoridades de Hamburgo sobre o potencial risco oferecido pelo pepino espanhol foi correto. Para proteger o consumidor, todos os produtos afetados precisaram ser retirados do mercado, independentemente do tipo concreto de agente.
"Estamos vivenciando há alguns dias uma série crise", constatou John Dalli, comissário de Saúde da União Europeia. Em sua avaliação, suspender as importações de produtos espanhóis é uma medida "desapropriada", assim como a recomendação de não se viajar para Hamburgo.
Segundo o Ministério alemão da Agricultura, diante das dificuldades enfrentadas pelos produtores, a Comissão Europeia deve estudar uma ajuda financeira aos produtores agrícolas afetados. O pedido teria partido da Espanha, da Alemanha e da Holanda.
Bancos alemães estão abrindo programas de crédito para oferecer empréstimos a juros baixos. O ministério não comentou possíveis compensações financeiras a produtores espanhóis por conta do alerta das autoridades alemãs.
Número crescente
Enquanto a verdadeira fonte de transmissão da EHEC permanece uma incógnita, o número de pessoas doentes cresce a cada dia. Em toda a Alemanha, há 1,9 mil pessoas contaminadas ou suspeitas de terem contraído a bactéria. A maioria destes casos se concentra nos estados de Hamburgo (668), Schleswig-Holstein (360) e Baixa Saxônia (344).
Cerca de 470 pacientes tiveram o quadro evoluído para a síndrome hemolítico-urêmica (HUS, na sigla em inglês). Neste caso, uma toxina liberada pela bactéria destrói os glóbulos vermelhos, o que impede a coagulação do sangue. Esta falta de coagulação faz o sangue sair pelos rins, que acabam bloqueados. A HUS, uma das piores consequências da infecção, é caracterizada por diarreia acompanhada de sangue, dor abdominal e insuficiência renal aguda, podendo levar à morte.
MS/rts/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer