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Especialista duvida que Coreia tenha testado bomba H

Gabriel Domínguez (ek)6 de janeiro de 2016

Norte-coreanos de fato realizaram teste atômico, mas não com uma bomba termonuclear, diz pesquisador do Sipri. Energia gerada pela explosão foi muito pequena, argumenta.

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Imagem de satélite mostra o local onde a bomba nuclear de hidrogênio teria sido testadaFoto: picture-alliance/AP Photo/GeoEye

A Coreia do Norte afirmou nesta quarta-feira (06/01) que realizou seu primeiro "teste bem-sucedido" de uma bomba de hidrogênio, que tem potência muito maior que uma bomba nuclear a fissão. Agências internacionais de monitoramento detectaram na região um abalo sísmico de magnitude 5,1.

Para o especialista em armas nucleares Robert Kelley, pesquisador do Instituto de Pesquisa Internacional da Paz de Estocolmo (Sipri), o país de fato realizou um teste nuclear, mas não com uma bomba de hidrogênio. "A energia gerada pela explosão foi muito pequena", disse Kelley em entrevista à DW.

"Nenhuma evidência de que havia hidrogênio na bomba foi encontrada, e é quase certo que isso nunca vai acontecer", afirmou. Este foi o quarto teste com armas nucleares da Coreia do Norte. Os outros ocorreram em 2006, 2009 e 2013.

DW: O que se sabe sobre o quarto teste nuclear feito pela Coreia do Norte?

Robert Kelley: Pelo que sabemos até agora, houve um grande abalo sísmico próximo ao local onde fora realizado o terceiro teste nuclear da República Popular Democrática da Coreia. A magnitude é aproximadamente a mesma que a do terceiro teste nuclear.

Oscilações na assinatura sísmica do evento permitirão aos especialistas determinar com alto grau de confiabilidade se o que ocorreu foi um terremoto ou um teste nuclear. Pelo que foi revelado até agora, parece que eles já têm uma resposta, e estão agora fazendo uma segunda verificação dos dados.

Foi um teste nuclear, e provavelmente não um teste com explosivos convencionais. Mover milhares de toneladas de explosivos até uma montanha teria levado muito tempo e seria facilmente observado por satélites.

O que indica que se tratou de uma bomba de hidrogênio? A palavra "hidrogênio" não faz sentido nesse caso, certo? É uma expressão popular, e não uma descrição científica.

A terminologia adequada para o que era chamado de "bomba de hidrogênio" na década de 50 é "bomba termonuclear". Bombas termonucleares não dependem necessariamente de hidrogênio. O uso popular do nome é um equívoco que tem suas raízes terminológicas na física.

Uma bomba desenvolvida a partir de uma concepção diferente é a chamada bomba "intensificada". Uma quantidade muito pequena de um isótopo radioativo de hidrogênio pode ter sido usada no teste da Coreia do Norte. No entanto, especialistas militares e nucleares não chamariam isso de uma "bomba de hidrogênio". Esse tipo de bomba dá ao projetista muitas vantagens em termos de flexibilidade, incluindo uma energia gerada levemente maior, entre outros aspectos, como confiabilidade.

Mas o aspecto fundamental é que nenhuma evidência de que havia hidrogênio na bomba foi encontrada e é quase certo que isso nunca vai acontecer.

Como os especialistas podem verificar se Pyongyang de fato testou uma bomba de hidrogênio?

Se detritos radioativos vazam na hora do teste e são posteriormente coletados por aeronaves ou por estações de amostragem de solo, então podemos encontrar pistas nesses detritos. Isso exige uma análise laboratorial muito especial e pode levar dias ou semanas – caso realmente tenha vazado algum detrito.

É importante lembrar que nenhum detrito jamais vazou em testes anteriores feitos pela Coreia do Norte. Então essa é uma possibilidade apenas teórica e muito improvável.

Algumas pessoas gostam de pensar que são capazes de deduzir o projeto de uma bomba a partir das ondas sísmicas. Isso não é verdade, já que as ondas sísmicas não fornecem esse tipo de detalhe.

Observe também que os dados sísmicos dizem que a energia gerada por esta bomba é de proporções aproximadamente similares à do terceiro teste coreano, que não usou uma bomba de hidrogênio. Se é assim, que informação nova nós temos que indique ser este caso diferente de qualquer outro teste da Coreia do Norte?

O que é exatamente uma bomba de hidrogênio e do que ela é capaz?

Uma bomba de hidrogênio verdadeira usa isótopos de lítio e hidrogênio depois que uma bomba atômica comum é detonada a alguns poucos centímetros. Isso produz enormes quantidades de energia e de partículas atômicas, elevando a fissão do urânio contido na bomba termonuclear.

Essas bombas termonucleares podem ser usadas para criar enormes explosões, como nos anos 50, mas seu melhor uso é na concepção de bombas muito menores – com proporções de cinco a dez vezes maiores que a bomba lançada sobre Hiroshima –, que são muito eficientes no uso militar e economizam muito dinheiro em materiais nucleares.

Robert Kelley SIPRI
Kelley: "Nenhuma evidência de hidrogênio foi encontrada, e é quase certo que isso nunca vai acontecer"Foto: privat

Mas considerando que seja uma bomba de hidrogênio, como esse teste impulsionaria as capacidades nucleares da Coreia do Norte?

Eu não acredito que tenha sido uma bomba termonuclear por muitas razões, incluindo a potência muito pequena. Caso tenha se tratado de uma bomba intensificada, como descrito anteriormente, isso significa que o país está se esforçando muito para ser moderno, eficiente e militarmente eficaz.

O que esse último teste revela sobre o estado do programa nuclear de Pyongyang?

A única coisa que realmente sabemos é que houve uma quarta explosão nuclear subterrânea do mesmo tamanho da terceira explosão. Pyongyang tem se vangloriado ao dizer que testou uma "bomba de hidrogênio", mas esse termo não faz sentido nem para a ciência nem para a engenharia.

A Coreia do Norte é conhecida por exagerar e até mesmo mentir. Em todo caso, sabemos que o programa está em andamento, e que eles podem estar conquistando alguns avanços científicos que podem levar a uma maior potência explosiva ou, mais provavelmente, a bombas mais eficientes – ou seja, produzir um número maior de bombas com a mesma quantidade de material usada antes. Esse é o verdadeiro impacto.