Fadada ao fracasso?
5 de outubro de 2009Nos cerca de oito anos em que as Forças Armadas alemãs estão estacionadas no Afeganistão como parte da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf), a missão já custou a vida de diversos membros da Bundeswehr.
Na opinião pública alemã, a missão atualmente é motivo de controvérsia, com parte da população defendendo a retirada das tropas. Também entre especialistas existem diferentes opiniões quanto ao crescente perigo de uma derrota no Afeganistão. Mas todos parecem concordar que o perigo do fracasso é real.
Aumento das tropas
Da mesma forma que o comandante da Isaf, o general Stanley McChrystal, o especialista em segurança da Sociedade Alemã de Política Internacional (DGAP), Jan Techau, considera possível que esta missão fracasse.
"Ao menos deve-se aceitar o fracasso como possibilidade. No último ano e meio, a situação se complicou cada vez mais. A segurança piorou e os talibãs recuperaram poder e capacidade de ação em todo o país", afirma Techau.
Para o especialista, sem um aumento em grande escala das tropas será difícil para o Ocidente readquirir o controle a curto prazo. "Agora são as tropas internacionais e o governo afegão que precisam recuperar a iniciativa. Voltar a ditar as regras em vez de apenas reagir, como estão fazendo agora, tentando apenas minimizar os prejuízos. A princípio, isso só é possível através de uma presença militar reforçada."
Posteriormente, a participação de voluntários para reconstruir o país deveria ser ampliada, já que sem apoio civil todo sucesso militar é gratuito, conclui Techau.
Pretensões ambiciosas
No entanto, o cientista político Herfried Münkler acredita que, mesmo que houvesse mais tropas e voluntários civis, o Ocidente deveria estabelecer objetivos mais realistas para o Afeganistão.
"Certamente são bastante ambiciosas as pretensões de estabelecer uma ampla democratização, com respeito aos direitos humanos, educação escolar para meninas e outros avanços nesse sentido. Mas tenho grandes dúvidas de que ainda é possível alcançar tais objetivos. Será preciso diminuir as expectativas e dar-se por satisfeito se o Afeganistão for uma região relativamente pacífica", defende Münkler.
Forte resistência
Outros consideram inevitável a retirada das tropas do Afeganistão. O afegão Matin Baraki, cientista político da Universidade de Marburg, lembra que outras potências também já amargaram derrotas em seu país.
"No século 19, os britânicos ocuparam por duas vezes todo o Afeganistão. E, quase de mãos vazias, os afegãos lutaram contra eles e os expulsaram do país. A partir de 1980, a União Soviética tentou resolveu o conflito de forma militar e não conseguiu, apesar de haver enviado mais de 100 mil soldados", explica Baraki.
O politólogo acredita que só a melhora da situação econômica da população fará a resistência no Afeganistão diminuir: "No sul e no leste do país, 70% da população está desempregada. Se essas pessoas tivessem comida e trabalho, a resistência diminuiria, abrindo caminho para a reconstrução do país e o restabelecimento da paz".
No entanto, na opinião de Baraki, antes seria necessário que as tropas da Otan fossem retiradas e substituídas por um contingente dos países da Organização da Conferência Islâmica ou do Movimento dos Países Não-Alinhados.
Jan Techau, pelo contrário, afirma que a discussão sobre a retirada das tropas é contraproducente. "Qualquer especulação sobre uma data de retirada leva o adversário a tentar ganhar tempo, deixando a situação se acalmar parcialmente, pois ele sabe que a vitória já está garantida. Por isso, é aconselhável deixar de lado todo tipo de especulação quanto a datas."
Autor: Daniel Scheschkewitz (ca)
Revisão: Rodrigo Rimon