Estado do leste alemão pode ter primeiro governador esquerdista do país
21 de novembro de 2014Nesta quinta-feira (20/11), a aliança de governo eleita no estado alemão da Turíngia – formada pelos partidos Verde, Social-Democrata (SPD) e A Esquerda – apresentou seu programa de coalizão para os próximos cinco anos. A ocasião teve caráter de sensação para a política nacional, por uma série de motivos.
Por um lado, ela marca o fim mais de duas décadas de dominância da conservadora União Democrata Cristã (CDU) nesse estado, que pertenceu à extinta República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista. Além disso, é tido como praticamente certo que, na votação de 5 de dezembro, pela primeira vez no país, um candidato do partido A Esquerda, Bodo Ramelow, será eleito governador estadual.
A legenda de Ramelow é a sucessora do Partido Socialista Unitário (SED), do governo da RDA. Tanto devido a esse histórico quanto à presença de estruturas radicais em seus quadros – a Plataforma Comunista e a associação Cuba Sí, entre outras –, o A Esquerda esteve sob suspeita de extremismo, chegando a ser colocado sob observação de órgãos alemães de segurança interna, em âmbito federal e estadual.
"Extremistas" moderados
O perfil apresentado após a eleição na Turíngia, contudo, é bastante moderado, dispersando os temores mais agudos. Já no preâmbulo ao acordo de coalizão, consta expressamente que a RDA foi um Estado ilegítimo. Além disso, foram colocadas de lado exigências controversas do partido, como a dissolução do Departamento de Proteção da Constituição da Turíngia.
Em vez de palavras de ordem marxistas, o programa promete apoio ao médio empresariado alemão. Segundo declarou Ramelow à agência de notícias Reuters, o A Esquerda se vê como um partido popular, situado no meio do dia a dia. "Somos estimados por estarmos tanto do lado dos que alugam uma hortazinha fora da cidade, quanto pelos proprietários de casas", resumiu.
Tendo como pano de fundo a tradicional hostilidade entre esquerdistas e social-democratas, o político de 58 anos assegurou que cuidará para que o SPD "não desapareça" na Turíngia, onde seu prestígio já está bastante abalado.
Pragmatismo ou traição
Os esquerdistas ortodoxos não deixam de condenar o bem sucedido curso mais pragmático e aberto a concessões, adotado por Ramelow e seus apoiadores, como suposta traição e "entrega" dos valores puramente socialistas em troca de uma coalizão com social-democratas e verdes.
Em entrevista ao jornal Neue Osnabrücker Zeitung, contudo, a presidente federal do A Esquerda, Katja Kipping, classificou a coalizão governamental da Turíngia como uma diretriz para outros estados alemães, com um possível "efeito como sinal político".
Ela enfatizou que, até as próximas eleições legislativas federais, em 2017, é preciso haver nos estados "o máximo possível de governos sem a CDU" – o partido da chefe de governo Angela Merkel, atualmente em seu terceiro mandato.
Numa alusão às cores respectivamente associadas à esquerda e à direita na política alemã, Kipping complementou: "Nossa meta é formar um círculo vermelho em torno do preto da Chancelaria Federal".
AV/afp/rtr/dpa