Desconfiança
16 de junho de 2010Apesar da estreia com vitória na Copa do Mundo, a seleção brasileira decepcionou admiradores na Europa com o futebol apresentado. Esperava-se uma goleada contra a Coreia do Norte, 105º colocada no ranking da Fifa, e, por isto, o placar apertado de 2 a 1 provocou reações negativas.
Europa afora, todos os jornais – uns com mais e outros com menos ironia – destacaram as dificuldades enfrentadas pela seleção de Dunga contra um adversário pouco conhecido. As atuações do lateral Maicon e do meia Kaká também renderam muitos comentários.
Na Alemanha
O Sportbild, um importante jornal esportivo da Alemanha, considerou a atuação brasileira abaixo do esperado. "Os trêmulos astros do Brasil decepcionam na estreia", foi a manchete. "Depois de um primeiro tempo vergonhoso, o recordista de títulos mundiais Brasil conquistou uma árdua vitória de estreia sobre os nobodies da Coreia do Norte", escreveu o periódico, para quem Kaká estava "completamente fora de forma".
Já a Kicker, revista alemã especializada em esportes, usou palavras mais leves ao falar sobre a partida em seu site. A publicação exaltou o que a partida teve de melhor: a valorosa atuação norte-coreana e o bom desempenho de Maicon, que ganhou a manchete "Maicon faz com efeito", uma referência à curva que a bola fez no lance do primeiro gol.
“No primeiro tempo, a zebra [Coreia do Norte] desafiou uma seleção sem imaginação com um trabalho defensivo disciplinado e com entusiasmo. No segundo tempo, uma subida de produção do time de Dunga levou a um gol rápido e à vitória por 2 a 1 dos sul-americanos, a qual colocou as coisas no seu lugar”, resumiu o texto.
Itália e Espanha
Na Itália e na Espanha, países cujos clubes mais cedem jogadores à seleção – respectivamente oito e quatro –, também repercutiu a tímida estreia brasileira.
A italiana Gazzetta dello Sport escreveu: "Coreia assusta o Brasil e Dunga agradece a Maicon". O texto destacou o ponto fraco da seleção brasileira ao dizer "que é mais que sabido que o time de Dunga joga no contra-ataque e pode sofrer contra times fechados".
Numa análise individualizada do desempenho dos jogadores, o jornal viu Gilberto Silva e Felipe Melo "seguros, mas pouco criativos", Robinho "fazendo coisas diferentes, mas pouco produtivas" e Kaká "pouco brilhante, como na última temporada no Real Madrid". Já Maicon foi elogiado. Na dúvida se o lateral quis cruzar ou bater para o gol no lance que abriu o placar, a Gazzetta decidiu "dar mérito ao fora de série".
O espanhol Marca não poupou críticas a Kaká, que não foi bem em sua primeira temporada no Real Madrid, dizendo que ele "não conseguiu recuperar seu melhor futebol nem mesmo contra um adversário menor".
"Horrível na primeira etapa, foi melhorando um pouco enquanto o Brasil ia se animando", disse o jornal sobre o meia, que foi substituído no segundo tempo.
Do outro lado
Se pelo ponto de vista brasileiro, o jogo não foi dos melhores, a Coreia do Norte, mesmo derrotada, se animou com o desempenho. A Agência Central de Notícias Coreana, órgão oficial do governo de Pyongyang, exagerou um pouco ao dizer que "a partida foi uma troca ferrenha de defesa e ataque desde o início".
As estatísticas, no entanto, comprovam que o Brasil teve o domínio das ações na maior parte do tempo. A seleção verde e amarela teve a posse de bola durante 63% do tempo e deu 26 chutes a gol, contra 11 da Coreia do Norte.
Autor: Tadeu Meniconi
Revisão: Alexandre Schossler