Estudar na Alemanha
12 de setembro de 2007"As secretarias das Obras Sociais Estudantis [Studentenwerke, órgão das universidades alemãs que presta serviços aos estudantes] estão cada vez mais cheias de estrangeiros que não sabem mais como financiar seus estudos", afirma Isabelle Kappus, do Deutsches Studentenwerk. "E não há quase nada que podemos oferecer-lhes."
Em comparação com os alemães, os estudantes que terminaram o ensino médio no exterior têm oportunidades bastante limitadas no país. Além das poucas bolsas de estudo disponíveis e de não receberem ajuda financeira governamental, o crédito universitário exige garantias que eles não podem pagar.
Poucos programas de intercâmbio com países pobres
"Estudar na Alemanha está ficando cada vez mais caro", avalia Johannes Glembek, diretor da Associação Federal de Estudantes Estrangeiros. As taxas semestrais, já introduzidas em algumas universidades de estados como Baviera, Hamburgo e Renânia do Norte-Vestfália, não são a única barreira para estrangeiros. Preços de cursos de língua, de provas e de candidaturas a vagas vêm aumentando, já há três ou quatro anos. "A soma destas taxas afasta estudantes estrangeiros", afirma Glembek.
Quem quiser estudar na Alemanha precisa calcular, de início, gastos que correspondem a dois ou três meses de custo de vida. Os altos valores atingem principalmente os "freemovers", estudantes que chegam ao país sem apoio do Serviço Alemão de Intercâmbio (DAAD) ou de um programa especial de intercâmbio. Principalmente com universidades de países pobres quase não existem cooperações acadêmicas e programas de intercâmbio.
Menos calouros estrangeiros
"Há sete anos, quando entrei na universidade, um curso de língua custava em torno de 40 euros por nível, gastos em cópias e custos organizacionais", afirma Erik Tambo de Gankam, da União dos Estudantes Africanos em Dortmund. Três cursos do nível básico e dois intermediários custam hoje cerca de 1250 euros.
As altas taxas de candidatura pesam no bolso e, para algumas faculdades, como a de Medicina, um estudante pode chegar a se candidatar para 20 ou 30 universidades diferentes. Em muitas cidades, somente após a inscrição na universidade, os estudantes recebem permissão de trabalho. "E eles podem trabalhar por apenas 90 dias nas férias e, normalmente, ocupam posições que pagam mal, de 5 a 8 euros por hora", diz Tambo.
Glembek afirma que o número de "freemovers" em universidades alemãs está caindo. Em 2003, cerca de 60 mil estudantes estrangeiros começaram a estudar na Alemanha, em 2005 foram quase 5 mil a menos. O número de calouros vindos da China diminuiu drasticamente – de quase 7 mil no ano de 2002 para 4 mil em 2005.
DAAD: taxas não são determinantes
O DAAD duvida que as taxas sejam causa determinante para a diminuição do número de estudantes chineses, apontando que, no passado, houve um boom de estrangeiros na Alemanha, que agora se enfraqueceu. As causas seriam melhores condições de estudo na China e uma avaliação mais apurada dos candidatos, que freqüentemente viajavam com documentos falsos. "Os números estão crescendo novamente e agora temos estudantes melhores", diz Klaus Birk, especialista do DAAD.
Segundo estatísticas oficiais chinesas, enquanto mais pessoas vão estudar no exterior, menos escolhem a Alemanha como destino. "Sinto que cada vez mais gente vai estudar em outros países", diz Cheng Ni, presidente da Associação de Estudantes e Acadêmicos chineses.
Os custos de uma graduação ou mestrado na Alemanha teriam então um papel importante. Para realizar a prova que dá direito a estudar em uma universidade alemã, os candidatos chineses precisam viajar para Pequim e, além dos custos de viagem, pagar uma taxa de 250 euros.
"Os mais qualificados nem sempre têm dinheiro"
Ainda não dá para prever como as novas taxas universitárias irão influenciar a vinda de calouros estrangeiros para universidades alemãs. De acordo com um levantamento do Studentenwerk, a preocupação financeira é um dos maiores problemas para os estrangeiros. "Um argumento para estudar na Alemanha era o preço baixo dos estudos ", diz Erick Tambo de Gankam, natural de Camarões. "Agora, quando alguém me pergunta se deve estudar no país, eu tento desaconselhá-lo". Bélgica e França são um pouco mais caras, mas cidadãos de Camarões, por exemplo, não precisam aprender uma língua estrangeira.
O Studentenwerk teme que a Alemanha se torne cada vez menos atraente para estrangeiros. "A internacionalização das escolas superiores alemãs não pode ser conquistada só com marketing", aponta Isabelle Kappus, acrescentando que "as questões sociais não podem ser esquecidas". Johannes Glembek, da Associação Federal dos Estudantes Estrangeiros, alerta: "Os mais qualificados nem sempre são os que têm o bolso mais cheio".