EUA fazem pouco caso do pacifismo franco-alemão
23 de janeiro de 2003O responsável pelos planos militares da única superpotência mundial insinuou que os Estados Unidos não precisam do aval de Berlim e Paris e estão decididos a fazer uma intervenção militar no Iraque, mesmo sem um mandato do Conselho de Segurança. Além do mais, segundo Rumsfeld, a correlação de forças na Europa teria sido deslocada para o Leste com a ampliação da União Européia. Oito dos dez países que ingressarão na comunidade em 2004 são do Leste Europeu.
Nas comemorações do 40º aniversário do acordo de amizade teuto-francês, na quarta-feira (22) em Paris, o presidente Jacques Chirac, anunciou que França e Alemanha têm a mesma posição no conflito com o Iraque. Na véspera, o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, havia dito que o seu governo não votaria no grêmio da ONU a favor de uma resolução que legitimasse uma guerra no Iraque.
Bush: é hora de ajustar as contas
Sem citar a Alemanha, o presidente americano, George W. Bush, criticou o pedido de prolongamento do prazo para a Comissão de Inspeção de Armas da ONU no Iraque, feito pelo presidente Saddam Hussein e também pelo ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer. Bush disse que chegou o momento de um ajuste de contas com o ditador iraquiano, porque Saddam não teria cumprido a resolução 1441 da ONU, que prevê a eliminação do arsenal iraquiano de armas químicas e biológicas, depois da Guerra do Golfo em 1991, nem estaria cooperando com os inspetores de armas que se encontram no Iraque.
O chefe da equipe de inspetores, Hans Blix, que deverá apresentar o seu relatório sobre as inspeções na segunda-feira (27), também disse que precisa de mais tempo.
Aliados europeus
A Grã-Bretanha é o aliado incondicional dos EUA na Europa. O premiê Tony Blair já deslocou um quarto do seu Exército para o Golfo e disse que os EUA não precisam da aprovação da ONU para uma intervenção militar no Iraque. Os governos da Itália e Espanha apóiam a posição de Bush, mas não têm planos para enviar tropas ao Golfo. A Rússia acha que não há provas suficientes que justifiquem um ataque militar.
A reação dura de Rumsfeld à posição pacifista dos governos alemão e francês valeu uma primeira crítica da oposição conservadora alemã a Washington. Os democrata-cristãos condenam a falta de cooperação do gabinete de Schröder com os planos bélicos americanos. Mas agora o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento e ex-ministro da Defesa, Volker Rühe, disse que "o secretário da Defesa americano não foi inteligente nem diplomático".
O democrata-cristão Rühe insistiu, porém, na tecla da oposição de que a Alemanha deveria procurar uma posição comum européia e ajudar a pressionar para um desarmamento do Iraque por meios pacíficos. O gabinete social-democrata e verde nunca questionou a necessidade de o Iraque ser desarmado, mas quer evitar que isso seja por meio de uma guerra.
Participação alemã numa guerra
Apesar do categórico não de Schröder a uma guerra, o que gerou em 2002 a pior crise entre Berlim e Washington do pós-guerra, as Forças Armadas alemãs (Bundeswehr) participariam indiretamente de um conflito armado. Pois Berlim já prometeu fornecer mísseis de defesa antiaérea Patriot a Israel, colocar tripulantes alemães nos aviões de reconhecimento AWACS da OTAN para proteger a Turquia (membro da aliança), manter os tanques do tipo Fuchs para detecção de armas químicas, atômicas e biológicas, que se encontram no Kuweit no contexto da operação internacional antiterror Liberdade Duradoura, e também proteger as instituições dos EUA na Alemanha com 17 mil soldados.
Enquanto a guerra não vem, Berlim colabora com os inspetores de armas, com o envio de 20 soldados para o Iraque, na próxima semana, a pedido da ONU. Eles vão participar do sistema Luna de vôos de reconhecimento não tripulados. O sistema deverá ser transferido no fim de fevereiro para começar suas atividades no início de março.