EUA não deixam Israel eliminar Arafat
7 de outubro de 2003DW - A violência no Oriente Médio atingiu agora uma nova dimensão com os ataques de represália da Força Aérea israelense?
Avir Primor - Não. Eu acredito que isto já é quase rotina. Naturalmente que o fato de o solo sírio ter sido atacado é algo novo. Mas eu não acredito que a Síria vá reagir. Os sírios vão se conter, porque eles sabem muito bem quando é do seu interesse combater e quando isto não é do seu interesse. Em solo sírio nunca se atira quando combater não é do interesse do governo sírio e ele não tem este interesse agora, especialmente depois da guerra do Iraque.
DW - Mas qual pode ser a conseqüência do ataque israelense ao solo sírio?
Avir Primor - Nenhuma. Eu não acredito que haja conseqüência, porque os terroristas não vão se intimidar com isso. Eu não acredito que haja um desagravo. O governo tem que fazer algo depois de um atentado terrorista. A população exige e espera. O governo também tem que mostrar o que ele pode fazer. Mas com isto se combate eternamente o terror sem obter resultados, porque é preciso atingir a infra-estrutura do terror. As infra-estruturas do terror são principalmente pessoas, e se as pessoas acreditam no terrorismo elas continuam praticando atos de terror. (Uma palestina cometeu um ataque suicida em Israel matando 19 pessoas. Em represália, Israel atacou, no domingo, uma base palestina na Síria onde seriam treinados terroristas dos movimentos Jihad e Hamas, bem como membros da organização Al Qaeda de Osama Bin Laden).
DW – Quais as possibilidades que o chefe de governo de Israel, Ariel Sharon, ainda tem na luta contra o terror? Os ataques dirigidos contra líderes do grupo radical palestino Hamas não pararam a violência.
Avi Primor – Sim, naturalmente. Eu acredito que só se combate o terror com a paz. Quer dizer, algum dia devemos alcançar a paz com os palestinos. Quando os palestinos não tiverem interesse em terror, então não haverá mais terror. Neste contexto, eu posso citar o Shimon Peres (chanceler israelense e Prêmio Nobel da Paz), que diz: enquanto houver ocupação também haverá terror. Mas até lá temos que combater o terrorismo, na medida do possível. É como a polícia combate a criminalidade. A polícia luta eternamente contra o crime e existem sempre criminosos. Mas ela tem que fazer isto. Do contrário, não se poderia mais fazer nada.
DW - Quais as chances de paz que ainda existem no Oriente Médio?
Avir Primor – A princípio as chances são muito pequenas e a situação é especialmente sombria. Mas eu acredito que não vai demorar muito até termos novamente um processo de paz. Não impreterivelmente por causa dos esforços do governo ou de políticos de ambos os lados, mas porque a população não agüenta mais. A população acha que não existe alternativa para a política executada por nosso governo, assim como os palestinos acham que não têm alternativa para o terror. Eles devem, todavia, entender que não dá para continuar assim, porque a situação piora cada vez mais, tanto para nós como para os palestinos. Um dia as populações dos dois lados vão despertar e exigir uma outra política.
DW - O presidente palestino Yasser Arafat está desde sábado cercado de centenas de simpatizantes. Eles querem protegê-lo, como escudos humanos, de uma expulsão. Uma expulsão do líder palestino não iria agravar ainda mais a situação?
Avir Primor – Eu não acredito que a situação se agravaria. Mas o governo não faz isso (expulsa Arafat dos Territórios Palestinos) por outro motivo, porque os americanos não permitem. Os americanos supõem que uma eliminação de Arafat, seja sua expulsão ou sua morte, contribuiria para piorar a situação nos países árabes pró-americanos. Isto é um grande perigo para os interesses dos Estados Unidos e por isto eles não permitem uma eliminação de Arafat. Eu acho que este é o único motivo que impede Sharon de concretizar a sua ambição.