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EUA x Alemanha: a lenta vitória do pragmatismo

Hans-Peter Riese / av11 de agosto de 2003

Bush agradeceu à Alemanha seu papel ativo no Afeganistão. Berlim recebeu o surpreendente gesto como um sinal de reconciliação. Uma reaproximação se assinala, após meses de divergências?

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Estados não têm amigos, Estados têm interesses. É preciso sempre lembrar essa velha máxima da política externa, ao analisar os desdobramentos das relações transatlânticas desde a guerra contra o Iraque.

A rejeição alemã à guerra, e sobretudo a utilização dessa postura na campanha eleitoral pelo Bundestag – o Parlamento federal – deixou marcas profundas em Washington. O presidente George W. Bush sentiu-se pessoalmente decepcionado, até mesmo traído, por Schröder. As relações se congelaram, e no segundo semestre de 2002, o ministro do Exterior, Joschka Fischer, deparou com as portas fechadas da Casa Branca.

Agora, não apenas a guerra terminou, mas sobretudo ficou claro que o pós-guerra é bem mais problemático para os Estados Unidos do que as operações bélicas em si. O país começa a compreender que não conseguirá alcançar sozinho suas metas no Iraque. Um agravante para Bush é que não há muito tempo até as eleições presidenciais.

Novos tempos

As prioridades dos eleitores norte-americanos são outras. Apenas 27% ainda consideram o combate ao terrorismo como tarefa primordial do presidente. Em janeiro eles eram 50%. A administração também tem que mudar suas prioridades, o que significa: ela precisa distribuir por outros ombros parte da carga com a reconstrução do Iraque.

Naturalmente esses ombros são, sobretudo, os da OTAN e da União Européia. E é claro que tal coisa não será possível sem a Alemanha – tanto pelo posto que ocupa no Conselho Mundial de Segurança como por sua posição forte na UE.

Característico do estilo político de Bush é ele não ter o menor problema em corrigir suas posições, quando a situação o exige. Ele abdicou de vários posicionamentos tomados durante sua campanha eleitoral, ao constatar que não estavam de acordo com as realidades da Casa Branca.

Com a mesma atitude, o presidente se empenha em normalizar as relações teuto-americanas. E foi justamente o homem mais poderoso do mundo a reservar-se o direito de anunciar publicamente a virada. Por trás dos bastidores, o principal "quebrador-de-gelo" foi o ministro Fischer.

Contudo ainda será preciso mais algum esforço, até que o relacionamento retorne plenamente ao nível de antes da guerra. Talvez o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, vá apenas vivenciar o que tanto lisonjeou outros políticos, pelo menos por algum tempo: Bush recompensa quem está em suas graças, Bush castiga quem não o segue incondicionalmente. Mas respeito verdadeiro ele reserva para apenas uns poucos.

Baixando as expectativas

Como entender, portanto, os elogios norte-americanos à Alemanha? Pragmatismo, como parte de um engenhoso processo diplomático que possibilitará novamente a cooperação – sem que nenhum dos dois tenha que dar o braço a torcer. A mensagem de Bush em sua própria terra: a Alemanha está do nosso lado, a Alemanha nos ajuda, acima de tudo ela presta um extraordinário serviço na luta contra o terrorismo – sem que se vejam soldados alemães no Iraque.

Este parece ser o acordo: a Alemanha amplia seu engajamento no Afeganistão para além de Cabul. Desse modo ninguém mais espera que ela vá para o Iraque. Contudo, isso é um ponto para o premiê Schröder e o ministro Fischer. Pois eles garantiram que soldados alemães jamais seriam envolvidos na guerra no Iraque.

Conclusão: Berlim se beneficia com a discrepância entre os acontecimentos no Iraque e as expectativas e esperanças de Washington. Por mais que fosse importante normalizar as relações entre as duas nações: Schröder não precisa se sujeitar a mais nada para poder fazer presença no roseiral da Casa Branca.