Euro em baixa
29 de outubro de 2008A maior desvalorização do euro nos últimos dois anos e meio levou os analistas a conclusões conflitantes. Alguns dizem que a queda de cotação é um problema de curto prazo que poderia ajudar as exportações. Outros são da opinião que a forte desvalorização poderia ser sinal de uma séria discórdia na política dos 15 países da zona do euro.
Analistas atribuem a queda a um número diverso de fatores, incluindo a percepção generalizada de que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, deverá em breve baixar as taxas de juros.
Uma questão de política
Taxas de câmbio não são somente uma questão de economia. "É uma questão de política", comentou o economista alemão Ognian Hishow, que atualmente ensina na Universidade de Rochester.
Segundo Hishow, "quando o mundo começa a desconfiar de um determinado parceiro – como no caso atual da zona do euro – então ele procurará por uma alternativa para investir seu dinheiro", acrescendo que "agora, a única boa alternativa é o dólar".
Alexandra Boehne, especialista em finanças da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK) observou que o euro cada vez mais baixo reflete a crescente preocupação em torno da extensão da crise financeira européia.
Boehne disse que "ninguém sabe como a crise do mercado financeiro se desenvolverá, por quanto tempo ela irá continuar e qual será a piora da economia".
Parceiros financeiros já sabiam da crise econômica dos EUA desde o ano passado, mas a notícia de que a Europa está sendo seriamente afetada é novidade no mercado.
"Os mercados estão inseguros"
Boehne explicou que "as pessoas somente se conscientizaram do problema na Europa a partir deste outono europeu de 2008" e acresceu que "os mercados estão agora bastante inseguros".
Alguns analistas são de opinião de que a grande exposição de bancos europeus a mercados emergentes altamente endividados, em particular na Europa Oriental, deixou o câmbio vulnerável. Na última terça-feira (28/10), o serviço de notícias da Bloomberg anunciou que os empréstimos de bancos europeus a mercados emergentes correspondiam a 21% do PIB europeu. Em comparação: os EUA têm 4% do PIB em investimentos nesses países; o Japão, 5%.
Por enquanto, existem outros indicadores de que a recessão está à porta – incluindo a notícia alarmante, divulgada na última segunda-feira, de que a confiança do consumidor alemão é a menor dos últimos cinco anos.
Para o economista Hishow, "investidores concluíram que os EUA são ainda o destino mais confiável quando se trata de guardar seu dinheiro em dias tão turbulentos".
Nem todos os analistas, no entanto, concordam quanto à extensão do problema do euro. Boehme, da DIHK, explicou que, em realidade, isto poderia dar um impulso à gigante economia exportadora alemã por tornar mais baratos produtos "Made in Germany", como automóveis e produtos químicos.
Pessimismo quanto ao crescimento das exportações
Na opinião de Hishow, no entanto, este poderia ser o caso se não fosse pelo fato de os maiores mercados compradores de produtos alemães – os EUA e o resto da Europa – estarem estagnados.
"Onde as firmas alemãs podem vender seus produtos? Nos Estados Unidos? Na América Latina?", questionou Hishow de forma retórica. "Na zona do dólar, isto é impossível, e a moeda da China está atrelada ao dólar, assim não se deve esperar ajuda de lá", explicou o economista, dizendo ainda: "Eu não sou otimista".
Para o economista do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW) Christian Dreger, a queda do euro seria somente um problema temporário. Comparado aos 80 centavos de dólar que o euro valeu em 2002, a moeda européia ainda é forte, explicou.
Vantagem do dólar?
Dreger comentou discordar dos investidores que apostam que a Europa se recuperará mais lentamente que os EUA. Ele acha que isto seria uma reação exagerada à possível fraqueza das economias da Europa Central e acredita que o euro irá se impor porque "ele se beneficiará mais dos processos de recuperação em mercados emergentes como a China e a Índia, onde a UE está bastante presente".
Hishow discorda, no entanto, e é da opinião de que, com o passar do tempo, haverá uma correção na economia norte-americana e o dólar melhorará. Além do mais, ele acredita que a crise financeira e o euro decrescente são sinais de problemas elementares na zona do euro.
Integração européia em falta
"Esta crise é uma prova de quão incompleta está a integração européia", afirmou Hishow. "Quando os tempos são difíceis, não há uma resposta unificada", explicou.
Como exemplo, ele citou a controvérsia atual entre a França e a Alemanha de como responder à crise econômica, e enfatizou que os países da zona do euro estão, economicamente, caminhando em direções diferentes.
"Veja a Espanha, ela está quase afundando na crise", afirmou. Para Hishow, "ficou claro que a União Européia não é uma união, mas sim um leque de países com problemas próprios. Sobretudo, eles agem primeiramente em interesse próprio".
Hishow acredita que a alta do dólar perante o euro continuará até que a Europa encontre um caminho de fomentar seu processo de integração.