Eurocopa arranha mais o mito dos trens alemães pontuais
27 de junho de 2024Membro do conselho da empresa ferroviária alemã Deutsche Bahn (DB) encarregado das viagens de longa distância, Michael Peterson pediu desculpas, numa entrevista ao jornal Bild, pelos inconvenientes causados por atrasos e cancelamentos a milhares de torcedores durante a fase de grupos da Eurocopa 2024, o torneio de seleções europeias de futebol, realizado na Alemanha.
"Compreendemos a insatisfação e as críticas dos torcedores", disse Peterson ao Bild. "A Deutsche Bahn não está oferecendo a qualidade que todos merecem. Mas, ao mesmo tempo, fazemos todo o possível para levar os passageiros de maneira confiável a seus destinos."
Devido aos trens atrasados, superlotados e cancelados, muitos torcedores chegaram tarde demais aos estádios, ou até foram impedidos de assistir às partidas.
Técnico da Holanda revoltado
Na segunda-feira (24/06), os problemas com os trens geraram críticas até do técnico da seleção da Holanda, Ronald Koeman. Ele já havia dito em outras ocasiões que prefere viajar com sua equipe em trens de alta velocidade ao invés de em aviões. No dia do jogo com a Áustria, em Berlim, isso só foi possível em uma das pernas da viagem.
"Não conseguiremos voltar depois do jogo porque não há mais trens para nos levar a Wolfsburg", lamentou Koeman. "A Alemanha diz que está realizando um campeonato europeu sustentável, mas não consegue dar conta."
Uma emissora austríaca registrou imagens de torcedores frustrados num trem que parou várias vezes durante o trajeto, que passaram a entoar gritos de torcida com críticas pesadas à DB. Torcedores holandeses também lotaram as estações ferroviárias de Berlim antes da partida, em meio a um forte calor, tentando compensar possíveis atrasos.
Ex-capitão da Alemanha critica organização
Contudo, os problemas na malha ferroviária alemã já vêm sendo observados bem antes do Holanda x Áustria. O jornal americano The New York Times publicou um artigo com a manchete "Na Alemanha, o torneio transcorre suavemente, mas os trens, não".
O jornalista esportivo Miguel Delaney afirmou logo em 14 de junho, dia de abertura do torneio – em meio a problemas de viagem para torcedores escoceses e alemães em Munique –, que estava "começando a ver porque os alemães são tão críticos à Deutsche Bahn". Desde então, vem noticiando os problemas nos transportes.
Diplomatas alemães também pediram desculpas aos torcedores. O ex-capitão da seleção alemã Philipp Lahm, diretor da Eurocopa 2024 junto à Associação Alemã de Futebol (DFB), criticou os eventos da segunda-feira.
"Acho que falhamos como país, no trabalho por um pouco mais de infraestrutura, nas últimas décadas", disse o vencedor da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, que também enfrentou atrasos a caminho do jogo entre Ucrânia e Eslováquia.
"Querida Deutsche Bahn, no domingo temos que chegar a tempo em Frankfurt com a nossa seleção. Estamos confiantes que conseguiremos", anunciou mais tarde nas redes sociais. No entanto, não conseguiu chegar no horário também para essa partida.
Promessas de melhorias
Segundo Lahm, a DFB trabalha com a Deutsche Bahn para tentar melhorar os serviços no restante da competição, que vai até 14 de julho, mesmo com a ressalva de que o problema "já deveria ter sido enfrentado há muito tempo".
Na entrevista para o Bild, Michael Peterson, da DB, também tentou apaziguar a situação, agradecendo aos passageiros pela "paciência e compreensão" quando as coisas "não funcionam como o desejado".
Ele afirmou que 150 mil funcionários estão "dando o seu máximo para que tudo funcione", e destacou que mais de 5 milhões de passageiros utilizaram os trens de longa distância e de alta velocidade da empresa desde o início do torneio.
Enquanto isso, a seleção da Turquia fretou um voo para um trajeto relativamente curto de 150 quilômetros entre Hanôver e Hamburgo antes do jogo com a República Tcheca. Não foi imediatamente esclarecido se a questão dos trens pesou nessa decisão, que grupos ambientalistas consideraram "insensata" e "inaceitável".
Antes da Eurocopa, a Deutsche Bahn se comprometera a melhorar a própria imagem, após meses difíceis de greves e de disputas salariais com sindicatos. No entanto, Detlef Neuss, líder do grupo lobista Pro Bahn, disse que, ao contrário, a alta demanda durante a competição "lançou luz sobre quantos déficits existem" na empresa ferroviária alemã. Em entrevista ao jornal Rheinische Post, ele afirmou que o mundo inteiro "ri do nosso sistema ferroviário": "Espero que isso sirva para acordar nossos políticos."